OBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS
Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real.
Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...
A hamster em cima da minha barriga dorme em silêncio. Tudo nessa casa está em completo silêncio, na verdade. Nunca pensei que diria isso, mas estar embaixo das cobertas na cama de Azriel, sozinha, só piora tudo.
O silêncio é quase uma voz sussurrando no meu ouvido. E isso me perturba. Muito.
Muito mais do que já me perturbou em qualquer outra fase da minha vida. Quando era jovem o silêncio era essencial para minha existência. Era o guia principal pra manter a calma e a segurança. Agora? Parece me sufocar a cada segundo que ele se arrasta pelo meu corpo e o ar ao redor.
O quarto está bem iluminado. Garanti que Nestha acendesse cada luminária existente. Ela me guiou até aqui mais cedo, logo depois de ter voltado da escada, depois de Azriel ter sumido pelo corredor e me deixado lá. Não vi minha mãe, nem Feyre ou Amren. Provavelmente não veria mais ninguém naquele dia.
Por isso aceitei de bom grado que Nestha me levasse até o quarto de Azriel, puxasse as cobertas e me acomodasse debaixo delas.
— Logo menos teremos todas as respostas — disse ela, com tanta suavidade e confiança nos olhos azuis que eu confiei, assentindo com a mesma fé que ela tinha.
Seria impossível não termos respostas, certo?
Não estava sozinha naquela. O Círculo Íntimo estava no jogo também. Ninguém seria páreo para eles. Talvez eu fosse fraca demais sozinha, mas com eles eu era imbatível. Forte. Corajosa. Inevitável.
Mas por que diabos eu continuo encarando o teto, as cobertas já esquecidas ao meu lado, um hamster que provavelmente tem mais poderes que eu em cima de mim... por que? Por que simplesmente não sei tudo num piscar de olhos? Por que sempre achei que viver em um livro de fantasia seria simples? Que eu seria a mocinha bonita que nunca corre perigo?
Porra...
A hamster se mexe e pula do meu colo, se afundando num bolo de cobertas que se tornou uma caverna. Ótimo. Se eu pudesse me esconder eu faria o mesmo, quero falar pra ela, mas ela é uma ratinha e eu uma adulta tendo insônia.
A noite lá fora é escura, e pelas largas janelas com cortinas pesadas eu consigo ver nuvens baixas e escuras. Talvez chova. De repente não aguento mais ficar deitada. Olhando pro teto...
Droga, Azriel deveria ter me levado! Deveria estar ao seu lado agora, descobrindo quem está por trás dessa tentativa de me matar. Ou de...
Uma nuvem lá fora, espessa e escura se move como névoa até a janela. Eu levanto da cama, tropeçando na mesa. Há olhos me encarando.
Olhos tão escuros e profundos e... eu corro porta afora, sentindo os braços arrepiados e a nuca queimando. Minhas costas se apoiam na parede fria, a respiração se tornando vapor na minha frente. A casa inteira parece fria.
Não.
Não.
Devo ter visto demais. Devo...
As luzes do quarto continuam acesas enquanto inclino meu corpo para dentro do quarto. Minha pele congela a cada instante que começo guiar meus olhos para a janela.
Lá está. Olhos.
Pretos como a noite, envoltos de névoa.
Um grito se entala em minha garganta quando corro para dentro do quarto e cavo as cobertas, tirando a hamster do meio deles. Ela grunhe e morde meus dedos, mas não me importo, não estou olhando para ela.
Os olhos me seguem, como agulhas na pele.
Eu saio correndo do quarto.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.