Capítulo 9

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    A casa de Azriel é... Como posso explicar como uma pessoa que nasceu e viveu desde sempre num bairro onde as casas são sobrados grudados uns nos outros?

    É uma porra de uma cobertura. Azriel é um cara rico e eu não sei como lidar com isso.

—Será que quero saber como conseguiu essa casa? - pergunto, evitando que meus dedos deixem marcas nos aparadores lotados de bustos de gesso que parecem muito caros.

    O vejo avaliando a casa, como se fosse a primeira vez que a vê.

—Eu aluguei, essa casa na verdade é da dona da agência que trabalho. Ela se mudou há pouco tempo e estava procurando alguém.

    Olho pro elevador de onde saímos, que cai direto no meio da sua sala de estar. Digo sala de estar porque você simplesmente senta ali e fica entendiado. Não tem televisão, apenas algumas caixas de som saindo do teto, sofás largos e pretos esticados pra frente, uma lareira apagada, e um tapete peludo, que eu duvido ser sintético.

—Muito bondoso da parte dela - admito, mas ainda estou chocada com a aparência de sua mansão em um prédio. —Gosta de morar aqui?

    Ele vai na direção da cozinha e o sigo, Azriel parece desencaixado aqui, mas ao mesmo tempo o dono de tudo isso.

—Gosto de ter um teto onde dormir - ele abre um sorriso cínico pra mim, e eu seguro minha mão da maneira que ele pediu antes. —Mas é muito espalhafatoso. Tem até um piano, que eu só sei tocar algumas notas.

    Isso chama minha atenção, e eu sorrio com diversão.

—Pensei que tocasse. Sabe, com esse seu lance de cantar.

    Ele abre um armário e tira de dentro o que eu chamaria de "causador de inveja em médicos". Tem de tudo, desde faixas até a... Tônicos? Pego um na mão quando ele se aproxima e me sento no banquinho da ilha.

—Sempre me esqueço que você sabe disso. Espero que não esteja querendo que eu cante agora - ele eleva uma sobrancelha escura e sorrio, negando.

—Não, pode guardar seus talentos pra mais tarde. O único que preciso agora é suas mãos mágicas ajudando minha mão torta - viro o tônico na mão boa e leio a etiqueta, e arregalo os olhos. —Você trouxe isso de Velaris?

    Az nota o que estou segurando e pega em sua mão.

—Sim, Cass disse que era melhor prevenir do que remediar. Ao que parece - ele olha pra mim com um sorrisinho- não preciso me preocupar com minha segurança, já que você virou minha guarda-costas.

    Bufo, cruzando os braços. E grito quando lembro da mão. Azriel agarra meu braço com cuidado e seu rosto se fecha numa carranca séria, enquanto finalmente analisa minha mão.

—Mexa os dedos, por favor - ele pede baixinho, e nesse tom, eu daria qualquer coisa que ele pedisse.

    Mexo alguns e grito de dor quando tento mover o dedão.

—Luxado. Como eu imaginava - ele suspira aliviado. —Não é nada grave, mas se estivesse quebrado eu precisaria te levar ao hospital.

    Pisco para evitar que as lágrimas de dor caiam.

—Vai me fazer beber isso ai? -indico o tônico.

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