Capítulo 41

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  Minha cabeça parece uma vuvuzela de carnaval, tocando em um nível ensurdecedor. Afasto o travesseiro da cara, fechando os olhos contra a claridade exagerada do quarto onde estou. Sequer me lembro de ter vindo pra cá. Mas me recordo vagamente de braços fortes me segurando, enquanto eu ria e balbuciava sobre estar morrendo de sono, mas mesmo assim querer me enfiar na festa de novo. 

   As cortinas da janela foram puxadas, deixando a luz do sol me incomodar até o ponto de precisar levantar. Tudo aqui é bonito. Desde o pé direito alto, o teto pintado com estrelas, os móveis escuros, o tapete redondo simulando um mapa. Ainda estou um pouco grogue de tanto beber com Mor, com Amren e o pior de tudo, com minha própria mãe. 

  Depois que Azriel me deixou na festa, eu sentia a necessidade intensa de beber todos os vinhos que viessem em minha direção. Quando cheguei perto da pista de dança, já tinha bebido três taças, e estava virando a quarta. 

  Por que tinha que me sentir tão bem e mal ao mesmo tempo perto dele? Por que a vida não poderia ser fácil só por uma vez? Por que eu não esquecia tudo e começava do zero?

  Já deveria estar acostumada a tomar na cabeça dessa forma. Não deveria estar enchendo a cara por raiva de meus próprios sentimentos, devia estar falando com Azriel e lhe contando a falta que ele fazia. 

   Mas quando as mãos das mulheres que mais admirava na vida me rodearam, minha mãe sorrindo como uma rainha, os olhos violetas profundos e felizes, eu deixei meus sentimentos fluírem como água numa cachoeira.

  Caindo? Sim, mas lindamente.  

  Naquelas duas últimas horas de festa, não me importei da minha mãe ver que eu sabia rebolar como uma funkeira nata. Ensinei Mor a elevar a bunda pra cima enquanto dançava, e por misericórdia, Amren não me afastou quando valsamos de brincadeira, zoando Rhysand e Feyre, que não se largavam por nada. 

   Acho que nunca ri tanto em apenas uma noite. Sequer pensei que ficaria feliz em estar rodeada de pessoas que jamais pensei existir. Mas eles existem. E por acaso tenho o mesmo sangue que o Grão Senhor mais poderoso de Prythian.

   Mas agora me sinto um Suriel amarrado numa árvore, prestes a ser engolido por monstros. Não imaginava que a ressaca feérica bateria mais forte que um tapa de um lutador de boxe. Mas bate! E estou andando pelo corredor seguindo apenas os sons, porque não confio na minha vista, ainda meio turva, a cabeça meio inclinada, tentando ouvir da onde vem as vozes. 

   Não encontro ninguém nos corredores vazios da Casa do Vento. Porque só posso estar aqui. As pedras vermelhas e escuras me garantem isso. Desço o corredor e encontro a divisão, seguindo para a direita. Ontem a sala de jantar havia se tornado o espaço de uma festa imensa, onde enchi a cara até esquecer meu nome. Agora, há uma mesa longa, e todos eles estão sentados comendo de pratos de porcelanas. Apenas Cass, Rhys e Azriel não estão. 

  Isso revira meu estômago, mas me traz um certo alívio. Porque mesmo bêbada, sei o que devo fazer, mas ainda preciso de tempo pra maturar a ideia na mente. 

  Feyre se levanta da mesa e vem ao meu encontro, sorrindo aberta. 

—Ressaca? -ela pergunta, a voz um pouco longe. Tento focar meus olhos nela, mas falho. 

—Pobrezinha -ouço a voz de Mor, meio grogue. —Juro que você se acostuma depois de um tempo, Sol. 

  Ouço a risada de Nestha, e um ralhar da minha mãe, que levanta e me ajuda a sentar ao seu lado. 

—Quanto você bebeu, querida? 

—Acho que o suficiente pra sequer abrir os olhos -Nestha aponta, sorrindo pra mim. Eu consigo sorrir de volta, lembrando de como a fiz beber direto do umbigo do parceiro dela. Depois disso foi só ladeira abaixo. Apenas fico grata por saber que mantive minha língua longe de umbigos alheios. 

Corte de Sombras e MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora