Capítulo 105

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O colchão macio parece se inclinar em direção ao chão

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O colchão macio parece se inclinar em direção ao chão. Um corpo pesado deita ao meu lado, nossas peles não se tocam, mas sinto sua respiração alcançando minha nuca, tocando e descendo minha coluna nua. Sinto arrepios mas os puxo para dentro. É loucura se arrepiar dessa maneira por míseros respiros perto do meu corpo.

— Eu sei que está acordada — a voz vem acompanhada de um dedo traçando minhas costas e eu não consigo fingir que não estou arrepiada. A voz dele, somente a voz dele, se tornou algo que jamais pensei que seria: uma chama prestes a explodir em meu coração.

Me viro, sabendo que provavelmente há cabelo demais em meu rosto, que estou amassada e agarrando os cobertores com ambas as mãos, com tanta força que meus dedos estão brancos, as unhas marcando o algodão macio.

Lucien sorri pra mim, os olhos piscando e se enrugando nos cantinhos. Os cabelos ruivos estão amarrados num coque todo bagunçado que já caiu nos travesseiros, o olho mecânico faz barulhinhos enquanto ele os mira onde estou prendendo a coberta.

— Não acho que seja uma boa ideia se manter escondida de mim, El — seu sorriso diminui, mas ainda há um brilho jovial em todo seu rosto. Isso me faz corar, agarrando mais as cobertas pra cima.

— Você já viu o bastante de tudo isso ontem à noite — eu retruco, me inclinando em sua direção, porque é o que somos agora. Dois ímãs voando ao redor um do outro, puxados, instigados, famintos por se conectar.

— É mesmo? — os dedos ásperos nas pontas de Lucien afastam minha franja para o lado enquanto seus olhos caem para meus lábios. Que provavelmente estão inchados e vermelhos demais pela noite passada. Não consigo corar dessa vez.

Tudo que queria ter feito eu fiz. Com ele. Comigo.

A lembrança de Lucien me pressionando contra a parede do corredor logo após o jantar com Vassa e Jurian ainda é bem fresco em minha mente. Estávamos apenas conversando sobre a carta enviada à Feyre e Rhysand quando ele apenas disse que não aguentava mais.

Eu me virei, confusa, achando que estava falando do trâmite político da nossa junção como um casal, mas não. Lucien apenas me empurrou com gentileza até a parede e olhou direto em meus olhos, o verdadeiro e o mecânico, ambos encarando minha alma.

Pela milésima vez, senti o frio na barriga típico da sua aproximação. Os choques na pele vieram depois, quando ele afastou minha trança do rosto.

— Não acho que posso fazer isso, El — ele sussurrou contra meu ouvido, tão baixo e rouco que meus joelhos falharam. Eles começaram a falhar bastante na sua presença. Não achei que isso seria possível. Mas era. Possível demais.

— Fazer o que? — eu perguntei, a voz rouca também, como se tivesse engolido uma rolha e não conseguisse engolir. Lucien sorriu de leve, os dentes brancos e levemente afiados nos caninos roçando nos lábios úmidos de vinho. Havia tristeza em seus olhos, no leve enrugado das sobrancelhas, como se já soubesse que a resposta sempre seria não.

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