OBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS
Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real.
Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...
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Estou em apuros.
Todo meu corpo pinica conforme a lã do casaco roça em meus braços. A adaga está tão escondida por baixo das camadas de roupas que creio que jamais a verei de novo.
Ysac, sentado ao meu lado na carruagem de madeira marrom avermelhada, parece que engoliu uma pedra enorme. E entalou direto na sua garganta.
Gosto disso. Também não estou bem humorado.
Andar ao seu lado, vestido como um rapaz comum e humano, não tem vantagem nenhuma. Por sorte escondi minhas asas, mas nunca precisei fazer isso sozinho. Sempre tive Rhys me auxiliando com sua magia.
O sifão no meu bolso, brilhando num azul intenso, treme às vezes, sobrecarregado pela magia que estou impelindo por todo meu corpo.
Sol iria dizer que estou ficando louco, provavelmente. Eu adoraria ouvir.
— E se elas não quiserem falar comigo? - ralha Ysac. Passamos tanto tempo em silêncio que me assusto com sua voz aguda no vento frio batendo mais perto da cidade.
Eu o olho, curioso. Ysac nunca foi inseguro, pelo menos não quando saiamos juntos para caçar e eu o ensinava a como matar um animal ou monstro menor. Mas agora, consigo notar até mesmo a leve cicatriz em seu queixo tremer conforme seu cheiro - do mais puro medo - sobe em meu nariz.
— Elas vão - digo de forma simples, virando o rosto para ele não desconfiar que o estou cheirando como um animal selvagem. — Você só precisa se ater ao fato de que está levando um presente.
Ysac olha por cima do ombro, para as dezenas de carruagens que seus homens estão guiando atrás de nós. Há animais em várias delas, assim como há diversas lotadas de roupas e alimentos tão frescos que brilham sob o sol sem calor.
Impressionante. Eu jurava que no dia em que estive com Sol nos telhados da cidade, aquele lugar estava quente como no verão.
Mas agora parece coberto de neve invisível.
Ysac ajeita o próprio casaco. Algo mais apropriado ao qual acredito que não pinica nem um pouco. O meu ele simplesmente tirou de uma caleche, bateu no ar e me deu, com a cara fechada.
— E devo te apresentar como, Espião? Um curioso que quer informações valiosas?
Não consigo evitar o sorriso de lado. Ele quer me irritar.
— Talvez seja uma boa ideia, Ysac. Ou apenas me apresente como seu sobrinho.
— Você é moreno e tem olhos escuros. Sabe que minha família não tem nada disso.
Como alguém pode ficar mais velho e ainda sim se tornar mais estúpido? A idade não deveria vir como um remédio que amadurece?
— Primos, então - eu olho para ele, que retribui o olhar com pura distância e frieza. Há algo errado com ele. Seu cheiro inteiro parece carniça subindo em meus poros. — O que você está tentando esconder de mim, Ysac?