Capítulo 20

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      Estou majestosa. Sem querer ser metida ou nada, mas estou me sentindo uma princesa caída direto de um conto de fadas. Meio sombria, sim, mas linda. Meus olhos foram contornados com tinta preta pelos dedos habilidosos de Nuala. Meu cabelo preso num coque baixo, e uma tiara de pedras escuras que imagino ser um tipo de cristal, foi pousada em minha cabeça.

     Se nessa história Feyre não existisse, talvez minha aparência seria da própria Grã Senhora. Talvez sei porque ela me ajudou a se enfeitar assim. Conheço o olhar que ela me deu, mas pela primeira vez ele não me machucou como antigamente. Me senti forte, inspirada a erguer a cabeça e mantê-la no lugar.

     Descemos as escadas, minha mão segurando a barra do vestido que raspa no chão, mesmo com os saltinhos brilhantes pretos. Feyre fala algo sobre me mostrar seu estudio amanhã cedo, e eu concordo, eufórica.

—Eu estive pensando - começo, antes de chegarmos lá embaixo, onde o saguão está vazio, mas ouço vozes vindo da sala de jantar.

—Sobre o que?

—Pode parecer patético dizendo assim - sinto meu rosto corando-, mas eu tenho péssimo talento pra arte. O único quadro que fiz foi um céu azul com um sol amarelo, e isso foi na escola. Estava pensando se você poderia pintar Azriel pra mim.

     Eu a olho de esguelha, já no fim da escada. Ela está parada, piscando pra mim.

—Quer que eu pinte Azriel?

     Assinto.

—Eu meio que tenho algumas ideias, em que achei que ele ficaria perfeito numa pintura - agora estou retorcendo os dedos, nervosa. Porque estou falando como uma estúpida para uma artista nata.

     Feyre sorri pra mim, os olhos brilhando.

—Você gosta dele.

     Eu pisco, confusa.

—Sim.

—Muito mais do que gostaria, imagino - ela arqueia uma sobrancelha e concordo com a cabeça.

—Nossa situação está um pouco complicada, mas eu... - suspiro, porque soltar é melhor do que guardar para si. —Eu realmente gosto dele.

     Não falo pra ela que o amo. Porque talvez leve um susto.

—Tudo bem - ela cruza o braço com o meu, nos guiando para o barulho da conversa. —Eu pinto ele pra você. Amanhã você me mostra o que tem em mente.

     Sei o que significa isso. Porque é literal. Nunca estive tão feliz por abrir minha mente pra alguém.

     A sala de jantar é grande, comportando uma mesa capaz de fazer todos se sentarem e ainda sobrar espaço. Todos estão ali, menos Elain e Lucien, e não sei porque, mas isso me apavora um pouco. Mas quando vejo Azriel ao lado de Rhys, carregando um bebê com cabelos escuros como o pai, com asinhas saindo das costas, eu perco minhas estruturas.

     Quando acho que será impossível ficar mais atraente, ele vai e me segura Nyx com cuidado nos braços. O garotinho de cabelos pretos está de olhos fechados.

—Não acredito que você está ninando o menino, Azriel - Feyre me puxa com ela, parecendo chateada. —Ele dormiu o dia todo pra aproveitar a noite com vocês.

—Não tenho culpa se o garoto gosta de mim e dorme assim que o pego - diz Azriel, divertido, mexendo nos dedinhos do menino quase dormindo. Então ele nota minha presença e seus olhos correm por meu corpo, parando nos ombros.

     Eu sorrio, porque é impossível não o fazer.

—Esse vestido combina com você, Solzinho - Cassian chega perto de mim e estala um beijo no meu rosto.

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