Há calafrio por toda minha pele. Me sinto febril no momento que a névoa pegando fogo some no horizonte. A sensação esquenta uma pele que não consigo ver. Quero arrancar cada sombra do meu corpo e gritar de agonia.
Mas então noto que são as sombras que estão se aquecendo em meus braços. Como um cobertor de lã que é jogado em cima de mim no pleno verão.
Não vejo minhas mãos para poder raspá-las de mim. Não consigo me mover do chão. Solto um grunhido para elas.
Parecem me prender no lugar. Meus olhos ainda virados para o horizonte da cidade, onde o mar brilha com o nascer do sol. A cena é tão linda que é uma ironia eu estar irritada enquanto a vejo.
Então algo me faz paralisar ainda mais. Sabendo que sou eu que estou parando dessa vez, não as sombras teimosas me travando.
Estrelas caem do céu no horizonte do mar. Uma dúzia. Milhões. Eu pisco, encarando, talvez minha própria boca esteja escancarada num grito silencioso que não posso ouvir. Apenas consigo ver conforme as estrelas se transformam em bolas de fogo e somem de novo.
Brilham como neon. E como da última vez, ninguém parece ver.
Dou um passo pra frente e as sombras me acompanham. Pra dentro da casa. Onde Azriel e todos eles estão. Onde todos podem lidar com aquilo crescendo no horizonte. Não vejo meu corpo, mas sei que por dentro dele meu coração está batendo tanto que ameaça estourar minhas costelas.
Então as sombras assobiam em meus ombros, como se mandassem eu parar. Eu o faço, encarando o hall de entrada da mansão, nervosa.
— O que foi? - questiono no vazio, minha voz sendo engolida por sombras antes de saírem e voarem pelas paredes da casa.
Obviamente elas não me respondem. Me sinto idiota por falar com sombras. Sombras que sequer são minhas e não me obedecem.
Eu dou mais um passo à frente, ansiosa e pouco me importando de aparecer exposta na sala de reunião para todos eles. Não importa. Tem sombras e fogo no horizonte. Voando juntas como uma maldição.
Tento correr, mas sinto minhas pernas invisíveis sendo travada por cordas. Eu solto um grito. Acho que solto, enquanto sinto a dor da queda bem na minha bunda.
— Merda! - eu reclamo, irritada, enquanto me levanto. Mais parece que as sombras me abraçam e me erguem. — Eu preciso falar com ele! - grito pra elas.
Elas chiam de novo no meu corpo, e dessa vez sinto o empurrão gentil de milhares de mãos úmidas nas costas. Direto pra porta da frente.
Entro em pânico. Acho que começo a me abanar, esperando que elas sumam de perto de mim.
Onde está Azriel quando preciso dele? Não deveria ter um sinal de parceiro ou algo? Um apito gritando que estou sendo atacada por suas sombras?!
Eu xingo as sombras conforme elas me cospem na rua de novo, onde um moinho de sombras se aglomera com muito mais raiva que antes.
Não sei por que estão fazendo isso comigo. Não quando mal posso controlar meu corpo.
Afundo dentro do meu laço que nos liga e o vejo brilhando na pura inocência de que não sabe que estou talvez em perigo. E digo talvez porque as sombras te Azriel se aglomeram ainda mais ao meu redor, tentando me puxar para o Sidra. Não sei como consigo me manter parada.
Será que elas estão descontroladas e querem um passeio? Duvido que Azriel as leve para tomar um café num domingo à tarde ou até mesmo pegar um cineminha.
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Corte de Sombras e Mundos
Storie d'amoreOBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real. Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...