Sua língua toca a minha. E posso morrer agora, porque estou em casa. O único lugar onde me sinto em paz. Em seus lábios, em seu beijo, no gemido que ele solta, tão baixo que é imperceptível, mas eu noto. Noto tudo.
Suas mãos sobem por meus braços, me segurando com força, as unhas prendendo minha pele. Eu mesma sei que estou gemendo em sua boca. De alívio. O beijo é quente, intenso, como se finalmente abrissemos a porta e uma onda passa e nos leva junto.
Sua língua acaricia a minha, tão devagar que vejo estrelas. Nunca beijei ele assim, tão urgente, com tanta fome. Jamais pensei ser possível sentir isso por alguém. Mas estou sentindo, e está me tomando todos os pensamentos.
Os braços de Azriel em mim são certos. Sua boca, seu beijo profundo, seus suspiros. Quero engolir cada um e me afundar aqui, com ele me apertando contra o balcão da cozinha, seu quadril pressionando o meu, endurecido pelo beijo.
Estou viciada. Deveria procurar um médico imediatamente.
Seus lábios soltam os meus e ele ergue o rosto, me deixando sem ar. Sua boca está rosada, os cabelos desalinhados, aonde eu mantinha as mãos e sequer notei.
Parece um selvagem. Isso me faz sentir arrepios por todo o corpo. Sei que falei sobre não confiar mais nele, mas não sei o que aconteceu agora. Eu só... Precisava disso. Dele. Tão perto que nossos peitos ainda se encostam.
Azriel me olha, vidrado, como se não acreditasse que isso está acontecendo. Nem eu sei. Apenas vim aqui, preocupada e com a intenção de agradecer. Mas não assim.
—Sol... Eu - ele pisca, parecendo confuso. Suas mãos passam pelo cabelo, bagunçando mais.
Sei antes que ele fale, como soube no ringue, e soube várias vezes antes. Ele fala com os olhos quando quer. Por isso eu ergo a mão e balanço a cabeça. Preciso de toda a força do mundo, talvez até mesmo meu lado Grão Feérico esteja em uso agora, pra me ajudar a dizer isso:
—Tá tudo bem - consigo me ouvir, a voz trêmula, os olhos abertos e focados em seu lindo rosto tão contorcido. —Só to agradecendo pelo treinamento - digo, e com habilidade, desvio de seus braços.
Saio da cozinha sem olhar pra trás, porque não sei se aguentarei olhar em seus olhos e ver arrependimento. É demais pra mim.
Meus dedos estão ásperos nas pontas, de tanto girar as pedrinhas neles. Claro que, toda vez que minha mãe, do outro lado do salão, ela me repreende, porque irei estragar meu vestido.
Meu vestido. Que está flutuando no salão de baile, como um fantasma. O tecido azul escuro flui até dois metros para trás, numa calda fenomenal. O tórax é tomara que caia, uma faixa prateada, que parece um cometa cortando a escuridão do céu. No azul, há diamantes tão pequenos que parecem estrelas. Um mar infinito de estrelas.
Acaricio o decote, sorrindo de leve, e me ouço falando baixinho:
—Você adoraria me ver nesse vestido, Gabe.
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Corte de Sombras e Mundos
RomansaOBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real. Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...