Capítulo 88

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  Levanto da cama cinco minutos depois que a porta se fechou. Azriel teria voltado nesse intervalo, eu acredito. É um macho precavido, e certamente já tinha tudo com ele assim que saiu do quarto. 

  Eu? Não. Não tenho nada comigo. 

 E se depender de mim, terei todas as respostas que preciso até o final da tarde. Ou quem sabe até o sono me vencer. Mas não será agora. 

  Arranco a toalha do corpo a abandono no colchão, correndo para o banheiro e tirando a lingerie do corpo. Az ao menos poderia ter secado meu traje. Mas ele é esperto demais para me dar as coisas na mão assim. 

 Saio do banheiro, completamente nua. Me enfio dentro do armário e puxo uma calça jeans que trouxe e uma regata preta. Calço meus tênis e prendo cabelo pra cima. Por precaução, coloco minha adaga na cintura, e para tampar, amarro uma camisa por cima. Certamente ninguém desconfiar de uma garota vestida como uma humana perambulando pelo Palácio de Helion logo cedo. Aposto que nem mesmo Helion acordou a uma hora dessas. 

 Alcanço a porta e giro a maçaneta.

  É um milagre eu não soltar um grito quando vejo o macho parado do outro lado, com uma lança tão grande que chega a ter dois metros de altura no mínimo. 

  Ele não me olha, mas certamente não precisa. Provavelmente seu capacete dourado e luminoso já mostrou me reflexo pra ele. 

  Eu fecho a porta, me apoiando nela. 

  Quando Az disse que colocaria guardas na porta, não imaginei que seriam tão robustos assim. Achei que seria algo mais... simples?

  Bufando, me jogo na cama, encarando o teto e tentando planejar uma saída. Provavelmente, se tentar sair pela porta, aquele guarda vai me delatar ou seguir. E ambos são ruins. Porque eu definitivamente queria fazer tudo isso na surdina e sozinha.

  Talvez nas Bibliotecas de Helion há alguma resposta. Ele se gaba tanto de ter tantas informações naquelas prateleiras... Talvez saiba o que é. Mas perguntar diretamente também é arriscado. Tudo corre o risco de cair em ouvidos e mãos erradas. 

 Tiro a adaga da minha cintura e a giro no ar. 

— Bem que você poderia ser uma Reveladora também e me contar uns caminhos secretos desse lugar - falo baixo, admirando as runas sem magia alguma. 

  Um movimento no canto do quarto me faz sentar de forma abrupta, com a adaga em posição de ataque. Há sombras para todo lado, e então, nada. Apenas uma fêmea linda, alta, com a pele escura e os cabelos lisos como cachoeiras. 

— Nuala? - pergunto, confusa, me aproximando. Os olhos castanhos encontram os meus e ela sorri. 

— Cerridwen - ela fala, se aproximando de mim, analisando a adaga na minha mão. — Mas passou perto. 

  Eu engulo em seco, escondendo a adaga na cintura de novo. 

— Azriel te mandou pra cá? 

  Ela assente, olhando ao redor. 

— Não irei lhe incomodar. 

 Eu assinto, cansada, me sentando na beirada da cama, observando seus movimentos contidos enquanto ela fica parada num canto. Está vestida de preto, mas é um vestido, ao contrário de um traje. 

A última vez que a vi foi no dia da Queda das Estrelas. Será que ambas festejaram naquela noite?

 Estou prestes a perguntar isso quando vejo a varanda aberta, o vento quase primaveril entrando suave no quarto. Eu ando até lá, apenas para ver a vista paradisíaca de uma cidade que não vou conhecer por completo. 

Corte de Sombras e MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora