Capítulo 53

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Minha cabeça dói. De pensar, responder, pensar mais e mais sobre o que aconteceu naquele lugar tenebroso. Minha mãe garantiu não ter sido amiga de Keir em nenhum tipo de nível. As explicações sumiram, e tudo que resta são dúvidas. Ninguém consegue entender, nem mesmo Rhysand, que é uma das pessoas mais inteligentes que já conheci.

Pelo menos, meus treinos voltaram na manhã seguinte, então posso descontar toda a raiva que sinto num acolchoado macio e fingir que há uma fanart daquele traste loiro e nojento estampando cada centímetro do saco de pancada.

-Vai com calma, Sol - ouço a voz rouca e macia ao meu lado, e antes que eu dê bola, estou erguendo o pulso de novo e socando com toda a força que tenho a madeira. O barulho de rachadura reverbera pelo ar ao nosso redor, e paraliso.

Azriel me encara, as sobrancelhas erguidas.

-Esse foi um golpe muito bom.

Antes que eu consiga me segurar, eu rio, balançando a cabeça, a voz sai rouca, falhada. Os nós dos meus dedos estão vermelhos, mas não sangrando.

-Essa madeira toma chuva e sol, Azriel. Provavelmente apodreceu por dentro - garanto, indo até a mesa de água. Encho um copo e bebo tudo num gole só.

-Talvez, mas foi um golpe limpo.

Sua aparência hoje continua majestosa como sempre, enquanto estou suando e pensando demais. Pensando em como conversamos ontem, como duas pessoas ínfimas e sem limitações. Olho em seus olhos castanhos, esperando ver zombaria, mas apenas vejo honestidade. E não porque temos um trato. É apenas porque é Azriel que está falando, não outra pessoa.

-Acha que consigo derrubar o Cass?

Azriel cruza os braços, os músculos se prendendo na manga da camiseta.

-Tem a chance mínima. Ele tem a agilidade de um general.

-Sou pequena, isso não ajuda? - aponto para meu corpo. -Consigo ser rápida.

-Pode ter isso a seu favor. Mas de qualquer forma, perdemos três dias de treino, e você não está fisicamente capaz de derrubar um macho como ele.

Largo o copo e coloco as mãos na cintura, me sentindo julgada.

-Então lute comigo e me ensine os pontos fracos dele.

Azriel arregala os olhos, olhando para mim.

-Quer que eu lute com você?

-Sim - dou de ombros. -Sei que não vai me machucar. Poderia me ensinar algumas técnicas, e corrigir meus erros. Até porque ficar socando um tronco não tem graça.

Um sorriso repuxa seu lábio enquanto ele suspira. Com a luz do sol sobre nossas cabeças, ele parece reluzir como ouro. Lindo... Tão lindo...

-Tudo bem, mas temos apenas uma hora até o treino das fêmeas.

Sorrio de lado, jogando o rabo de cavalo completamente torto para trás.

-É tempo o suficiente, acho.

Azriel assente, se afastando um passo e então, para minha surpresa, suas mãos vão para a barra da camiseta e a puxa pela cabeça. Tão naturalmente que quase engasgo com a saliva. O que diabos...?

-Cassian luta sem camisa na maioria das vezes, quando não está fazendo isso com as sacerdotisas - a camisa passa pela sua cabeça, os cabelos se bagunçando. Seus olhos encontram os meus quando ele descarta a camiseta no chão. -É bom para aprender os pontos fracos dele.

Ah, sim. E os meus, imagino. Consigo até visualizar bem ali, aquela carreira de pelos descendo a barriga, ou quem sabe a veia saltada no quadril, descendo junto, sumindo no cós da calça. Engulo em seco, assentindo, mantendo os olhos nos dele. Não nele. Eu precisava de uma distração sobre meus pensamentos, mas não assim.

Corte de Sombras e MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora