Os braços de Azriel me apertam a cintura, enquanto sinto minha alma ficando pra trás. Meu fôlego some assim que as asas de Meallan bate no ar, e simplesmente o som, que parece um trovão, me faz soltar mais um grito.
Ouço Azriel rindo atrás de mim, enquanto bate na correia e Meallan acelera. Acelera direto para dentro de nuvens brancas e fofas. Minha voz trava, a garganta ardendo de tanto gritar.
Já voei antes. Mas é diferente. Ele é um maldito cavalo com asas!
—A-A-A - eu tento falar, mas não consigo. Azriel aproxima o rosto do meu, sua respiração tranquila, como se não estivéssemos dentro de uma nuvem que é úmida e parece seda sobre nossas peles.
—Sim, meu coração? - ele pergunta baixinho, fazendo meu coração falhar mais um pouco.
Eu balanço a cabeça, fechando os olhos e abrindo-os de novo. É nesse momento que Meallan faz uma curva suave e nos leva para fora da nuvem. E então o sol nos banha como o mar. Há sol e nuvens por toda parte. Há um mundo inteiro me engolindo agora. Eu não consigo piscar, não consigo sequer pensar na possibilidade de esquecer cada detalhe que vejo.
As montanhas que cercavam Velaris ficaram para trás, a cidade sumiu de vista dentro das nuvens. Agora, só há o infinito. O mar ao longe, brilhando azul como pérolas. A grama alta das campinas, as flores começando a abrir as pétalas nos campos, as casinhas pequenas que parecem ter saído do Pinterest.
Eu não consigo parar de olhar para as árvores lindas e estranhas, as montanhas cobertas de neve no horizonte, os bosques, os vales, as cachoeiras, os rios, as vilas cheias de vida, as cidades em pleno movimento. Azriel aponta para cada uma e me fala seus nomes. "Falaya, conhecida por fabricar vidros", "Litua, lá tem muitos pescadores", "Vanessa, essa cidade poderia muito bem ser a capital da Corte Noturna. É imensa!".
Não falo, não pisco. Apenas absorvo o universo que Sarah criou, mas que jamais contou com tantos detalhes. As pessoas andando lá embaixo estão vivendo suas vidas comuns. Eu, aqui em cima, estou descobrindo o mundo inteiro.
Não acho que me senti assim quando Azriel viajou comigo nos seus braços quando chegamos. Estava eufórica, mas agora é diferente. Como chegar em casa. Toco minha pele, meu rosto, meus cabelos.
Estou mesmo em casa. Uma metade minha pertence a este paraíso.
Eu começo a rir, tanto que minha cabeça cai pra trás e encosto no ombro de Azriel. Suas sombras lambem meu rosto. E eu rio. De olhos fechados, sentindo o sol batendo no meu rosto, como se finalmente dissesse "Bem vinda oficialmente, querida".
—Por que está rindo? - Azriel toca minha cintura com a mão. Eu respiro fundo e abro os olhos.
—Porque estou me sentindo parte daqui. É loucura? - me viro para ele, sabendo que há menos de dez centímetros de distância entre nossos lábios. O sorriso lento que se abre no rosto de Azriel faz meu peito esquentar.
—Não é loucura - fala baixo, e vejo seu olhar cair para minha boca, que ainda exibe um sorriso idiota. —Essa alegria cai bem em você.
Seus olhos voltam para os meus, e não sinto vontade de parar o sorriso. Quero ser enterrada com essa risada caindo da minha boca.
—A alegria também cai bem em você - eu respondo baixo, desviado o olhar. Azriel ri baixinho, se ajeitando atrás de mim.
Tenho noção de que minhas costas estão encaixadas em seu peito, seus braços me abraçando, e meu quadril, no meio dos seus. É estranho a forma como nosso corpos se encaixaram tão facilmente.
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Corte de Sombras e Mundos
RomanceOBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real. Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...