Capítulo 67

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  Arrumar malas com minha mãe é complicado. Ainda mais quando elas são pra a Corte Diurna, onde pretendo passar alguns dias. Mas é claro que ela não leva isso em consideração, que lá também há roupas, também há comida, também há pessoas

—Juro por Deus, Sol -minha mãe implica de novo, estendendo a mão pra mim, lotada de calcinhas. —Apenas pegue e guarde isso.

  Há mais ou menos trinta calcinhas ali, e eu sei que só precisaria usar tantas assim se me desse um piripaque no intestino. 

—Mãe, não tem necessidade -eu repito de novo, olhando para ela. Estamos só nós duas no meu quarto, eu sentando em cima da mala, enfiando os pedaços de tecido pra dentro. Parece um dejá-vu.

—Podem ocorrer emergências. E comprei essas na loja de uma moça simpática, apenas pegue logo -ela joga as calcinhas pra mim, que são mais pedaços de renda do que coisas normais do dia a dia. Eu realmente espero que eu não chegue a usar todas elas. Parece exagero. Mesmo assim, abro a mola e soco todas elas dentro junto com as outras quinze que estou levando -com panos normais, que não vão assolar minhas partes íntimas.

  Minha mãe abre as cortinas e a luz do sol entra, como uma saudação de que o dia está perfeito para voar. Voar num cavalo, claro. Cavalo com asas. 

  Desde que Rhys me disse o recado de Helion, mal pude me segurar parada, ansiosa e correndo de um lado pro outro, falando meus planos de conhecer cada detalhe daquela corte dourada. O casal de Grã-Senhores me pediram para manter -se possível-, minha curiosidade dentro do Palácio de Helion. Pelos olhares que trocaram, eu soube que ainda não confiavam completamente minha segurança ao outro Grão Senhor. E obviamente, Azriel estava na sala, de braços cruzados, de pé, perto da porta, as asas fechadas, assim como a cara. Mal parecia o macho que me salvou da transa maluca e barulhenta na Casa do Vento.

  Ele só parecia centrado. Demais. 

—Entããão -eu me peguei falando, quando Rhys saiu junto com Feyre, deixando nós dois. Azriel iria me acompanhar, era por isso que estava ali, mas eu definitivamente não queria que ele bancasse o guarda-costas durão e sem humor —, ansioso pra viagem?

  Azriel descruzou os braços quando me aproximei, e abriu um sorriso leve. 

—A Corte Diurna é um lugar bonito. 

  Isso não me respondeu em nada, mas apenas dei de ombros e saí da sala, com ele ao meu lado. 

—Queria te pedir um favor -eu disse, quando já estávamos chegando perto do hall. Azriel franziu a testa, mas pediu que eu continuasse. —Sei que Feyre e Rhys pediram com muito afinco que eu não saísse do Palácio mas...

—Não -Azriel me cortou, os olhos um pouco arregalados, como se ele mesmo estivesse surpreso por me negar algo. 

—Me deixa terminar -eu suspirei, desviando os olhos. 

—Sol, é perigoso -ele sussurrou pra mim, me parando pelo pulso. Me virei, encarando seus olhos, que brilhavam, mas não da forma viva de quando estávamos juntos, fazendo piadas. Parecia aflito de verdade. —Algo pode acontecer se não tomarmos cuidado. 

—Nada vai acontecer, Azriel -falei, sentindo meu corpo se inclinando em sua direção. —Você vai estar lá comigo o tempo todo. 

  Sua expressão suavizou um pouco, mas ele voltou a balançar a cabeça, negando. 

—Eu sinto muito, Sol, mas a sua segurança é importante pra mim. Importante pra todos aqui. Não posso descumprir com minha palavra. 

  Quis bufar e sair andando como uma criança rabugenta, mas sabia que ele estava certo.  E eu provavelmente deveria estar parecendo uma mimada aos seus olhos, por isso assenti e seguimos caminho, quase em silêncio, apenas com nossos passos soando no assoalho do chão. Era bom, só andarmos juntos, com sua sombras vez ou outra tocando meus tornozelos, como se pedissem para continuar. 

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