Capítulo 12

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  Eu deveria arrumar minhas malas? Ou deveria gritar com Azriel? Ou talvez me despedir da minha família para nunca mais vê-la de novo?

  Meus pensamentos são confusos, e provavelmente o calor no meu peito só piora tudo isso. Ter beijado Az só piora essa sensação de estar caindo no raso. Ele quer que eu vá embora com ele? Assim? Do nada? 

  Eu passo todo meu trabalho batendo a caneta no tampo da mesa, pensando e pensando mais e mais. Depois que ele falou aquilo, um silêncio sepulcral, digno de filme de suspense, caiu sobre nós dois, e ele logo se adiantou:

—Não que você precise decidir nada agora, eu só estou comentando -ele suspirou, parecendo muito irritado consigo mesmo. —Não deveria ter dito isso assim, do nada. Me desculpa. 

  Eu disse que estava tudo bem, que entendia. Mas porra, não! Essa história ainda é louca na minha cabeça, mesmo que minha esperança de acordar no hospital não passe de uma memória distante. Mas em menos de um mês minha vida mudou de cabeça pra baixo, mais do que já normalmente é. E agora preciso decidir se quero largar todos que amo e fugir para um outro universo? 

  Os cientistas pagariam milhões pelas minhas palavras e pensamentos. E quando Thalia me pega no almoço, eu agradeço aos céus pela distração. Falamos sobre a faculdade que ela está pensando em fazer, e quando voltamos, Gabriel está no meio do escritório, com uma cara de metido que dá azia até em gatos. 

—Oi, pessoal -ele fala como se não nos visse há anos. Mas seus olhos estão em mim quando ele sorri, com direito à covinhas. —Tenho um anuncio mega importante para todos vocês. A partir de segunda feira uma colega de vocês se juntará ao time de Publicidade, como Gerente. 

  Todos os olhos viram para os lados, e quando notam para quem Gabriel encara, sinto pares curiosos de olhares caindo em mim. Eu sorrio de leve para todos eles, com vergonha, mas quem pega meu cotovelo e sussurra em meu ouvido é Thalia.

—Quando ia me contar? 

—Fiquei sabendo há pouco tempo, e queria que ele falasse -aponto com o queixo para Gabriel. 

  Ela assente, mas vejo em seus olhos o ressentimento, porque ela acabou de falar que que planeja fazer a pós graduação em publicidade. Agora eu me sinto um lixo. 

  A tarde passa como um borrão, e Gabriel me chama para sua sala, exibindo um sorrisinho de escárnio. 

—Parece que ninguém esperava que você fosse promovida. Como se sente sobre isso? -ele indica a cadeira na frente da sua mesa e me sento. Mas invés dele ficar atrás dela, fica parado na minha frente, os braços cruzados, as pernas da mesma maneira. Me sinto desconfortável  na mesma hora. 

—Normal, acho -minha voz sai baixa. —Nem eu mesma esperava ser promovida, para ser honesta. 

—E você continua a insistir nesse assunto -ele ri, jogando o cabelo para trás, e não sei, há algo em seus movimentos. Algo... sedutor. 

—Trabalho aqui há menos de dois anos, Gabriel -olho ao redor, menos para ele. —É normal me sentir assim.

—Claro, claro, você tem toda razão. Por isso estava pensando em te chamar para uma reunião -ele se aproxima um passo, sorrindo como um... não sei, mas não gosto. —Conheço um restaurante maravilhoso de comida mexicana, e lá podemos por o assunto em debate, sobre seu cargo, suas tarefas. 

  Me vejo assentindo, mas não sinto nada além de desconforto. 

—Ótimo, eu te mando o horário por e-mail. Te busco em casa? 

Corte de Sombras e MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora