Capítulo 8

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Londres, Inglaterra.
Mariana Sharma.

Tinha caído um dilúvio durante o caminho e ao descer tive que tirar meu casaco para cobrir os papéis que tinha trago para terminar em casa e por esse motivo fiquei totalmente encharcada. Entrei no saguão e estava a maior correria por conta da chuva, não demorei e fui direto para o elevador e o mesmo não parou até chegar ao meu andar. Assim que saí, um trovão soou do lado de fora e foi automático eu me assustar.
Não que eu tivesse medo, mas também não me sentia muito bem quando acontecia. Corri até minha porta e com muita pressa peguei as minhas chaves da bolsa e abri a porta, tudo estava escuro então acendi logo as luzes, coloquei os projetos em cima da pequena mesa e fui para o banheiro tirar toda aquela roupa molhada. Me enrolei na toalha e na hora que fui por a água no fogo para esquentar, um raio rasgou o céu seguido por uma forte trovoada. Gritei quando todas as luzes se apagaram. Certo, eu admito, morro de medo quando o tempo fica assim e tudo ficou pior quando um clarão surgiu no céu e vi as janelas serem abertas por conta do vento, mas o que me fez congelar foi ouvir o som da porta sendo aberta. Gritei.

_ Tá tudo bem?_ ouvi aquela voz irritante.

_ O que você tá fazendo aqui? Quase me matou do coração!_ reclamei.

_ Eu tinha acabado de chegar em casa quando ouvi seus gritos. Pensei que tinha sido algo sério_ disse ele.

Como assim algo sério? Isso era sério. Eu estava sem luz, toda molhada da chuva, sem opções de um banho quente e o mundo estava caindo lá fora, se isso não é sério, eu não sei o que é.

_ Eu iria até responder você, mas seria grossa demais._ falei e não pude evitar o tom de irritação.

Ele não respondeu e então outro trovão soou. Tentei conter um grito assustado, mas não fui bem sucedida já que pude ouvir uma pequena risada vindo da direção dele.

_ Não é engraçado._ disse irritada.

_ Você tem medo de trovoada, isso é meio que engraçado se formos levar em consideração o fato de que já é adulta._ falou normalmente.

Respirei fundo.

_ O prédio todo está sem energia?_ perguntei.

_ Sim. Acredito que todo o bairro esteja._ disse.

Que inferno. Meu dia estava sendo bom demais para ser verdade. Com uma mão segurando a toalha, levei a outra para tentar me localizar até chegar ao sofá, assim que cheguei, sentei no mesmo e me encolhi no canto.

_ Detesto quando o tempo fica assim._ falei baixo.

_ Bom, eu até gosto. Mas não quando falta energia e não posso ouvir nada._ respondeu.

_ Parando para pensar por esse lado, até que foi bom._ disse provocativa.

_ É muita mal agradecida mesmo._ reclamou.

_ Você precisa admitir que o que você ouve é insuportável._ disse e pude ouvir ele tentar se aproximar.

_ Há, sério? E o que você define como algo bom?_ perguntou irritado.

_ Jazz._ disse simplesmente e ele riu alto.

Ele estava prestes a dizer algo idiota quando eu ouvi apenas ele dizer um "aí" seguido por uma reclamação baixinha.

_ Tá tudo bem?_ perguntei.

_ Está. Eu só me bati contra a quina da mesa._ respondeu.

_ Há..._ foi tudo que eu disse.

Ficamos em silêncio por um tempo e só o que restava era o som das fortes trovoadas lá fora. Em partes eu queria que ele fosse embora, mas me recusava a ficar sozinha até que a energia voltasse então não ousei colocá-lo para fora.

_ Aqui não tem velas?_ sua voz ecoou.

_ Não._ respondi.

_ Que tipo de pessoa não tem uma vela em casa?_ perguntou sarcástico.

_ Eu não imaginei que aqui iria faltar luz._ disse, mas eu sabia que ele tinha razão.

_ Bem, vou em casa buscar algumas velas._ falou sem muita emoção.

_ Não._ falei mais rápido do que eu queria.

_ Porque?_ perguntou.

_ Eu não quero ficar sozinha._ admiti.

_ É só por um minuto._ falou.

_ Mas..._ tentei dizer, mas fiquei em silêncio quando ouvi a porta sendo aberta.

Ele realmente saiu? Sério? Eu tinha sido clara ao dizer que não queria ficar sozinha e mesmo assim ele foi. Que ódio. Outro raio surgiu no céu e tapei minha boca para conter outro grito. Minutos depois minha porta foi aberta e logo uma claridade tomou conta do ambiente, algo como alívio surgiu em meu peito e senti meus membros relaxarem um pouco mais. Ele estava em silêncio em quanto caminhava até a mesa de centro e colocava a vela em cima da mesma.

_ Como você pôde fazer isso? Eu disse que não queria ficar sozinha._ comentei irritada.

_ Eu disse que iria buscar uma vela. Deveria ser mais educada e agradecer por não te deixar no escuro._ respondeu friamente.

_ Argh. Eu detesto você, sabia?_ disse.

_ Você não está sozinha nessa._ respondeu.

_ É um babaca mesmo._ falei.

_ E você é uma mal agradecida._ rebateu.

Podia sentir o sangue em minhas veias queimar e eu estava prestes a dizer várias coisas para ele quando a energia voltou. Ele estava com uma expressão nada satisfeita e usava uma calça jeans e uma camisa no tom vinho só que ambos estavam molhados por conta da chuva. Podia jurar que algo como raiva e provocação brilhou em seus olhos quando o mesmo me viu, então me lembrei que estava apenas de toalha e com o cabelo encharcado. Minhas bochechas arderam de vergonha e toda raiva e coragem foram substituídas por timidez, mas não iria deixar que ele soubesse disso.

_ Você está horrível._ falei me referindo a sua roupa molhada.

_ Talvez eu pense o mesmo de você._ rebateu.

Porque eu ainda me dava o trabalho de falar com ele? Sério.

_ Você pode ir agora._ falei.

_ Tem razão._ respondeu.

Ele estava abrindo a porta quando eu lembrei que teria de tomar um banho gelado, parte de mim não queria perguntar nada, mas a outra parte se recusava a tomar banho de copo mais uma vez. Então coloquei meu orgulho de lado e perguntei.

_ Como faço para o chuveiro ficar quente?_

Ele parou e se virou.

_ Como é?_ perguntou.

_ Meu chuveiro. Desde que eu cheguei aqui a água está gelada e eu não suporto água fria._ expliquei.

_ Eu não sou eletricista, mas talvez você deva olhar o registro._ respondeu.

_ Onde fica?_ perguntei.

Eu tinha certeza que ele pensou em me da uma piada de mal gosto, mas fiquei em silêncio ao vê-lo ir em direção a cozinha e olhar do lado da geladeira uma tampinha que eu não tinha visto e apertado alguma coisa.

_ Pronto._ falou.

_ Obrigada._ respondi.

Ele não disse nada e apenas saiu do meu AP e seguiu para o dele. Fechei a porta e fui para o banheiro onde quase chorei ao sentir aquela água quente escorrer pelas minhas costas.

Meu querido vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora