Capítulo 31

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Londres, Inglaterra.
Sebastian Sharpe.

Minhas mãos estavam sujas de vermelho. Não, não era sangue, era tinta. Harry havia me feito pintar o rosto e participar da atividade que eles estavam fazendo, me sentia realizado ao tirar deles sorrisos. Era contagioso e preenchia tudo aquilo que aos poucos ia me consumindo por dentro, acho que eles me salvaram antes que eu os salvasse. Nunca encontraria maneira boa o bastante de agradecê-los por isso. Nunca. Estávamos fazendo uma brincadeira do índio e as crianças eram os pequenos índios, pintamos seus rostos com algumas cores e então fizemos uma roda para que Kamila ficasse no meio e contasse histórias para eles.

_ Tia Kamila, por que os índios pintavam seus rostos? _ perguntou a pequena Mendy.

_ Existem muitos significados, indiazinha. Mas um deles e o que eu mais gosto é que, os índios pintavam seus rostos para afirmar sua própria identidade. _ respondeu Kamila.

_ E também porque se orgulhavam de serem índios. Guerreiros. _ complementei a resposta de Kamila.

_ Somos guerreiros? _ perguntou Peter.

_ Mais é claro que somos. Nossa luta é aqui, contra aquilo que nos deixa mal._ respondeu Harry.

Dessa vez não tentei impedir a lágrima que caia dos meus olhos. Não quando olhei para o Harry e o mesmo me olhava como se quisesse que eu confirmasse aquilo que tinha dito, não quando vi em seus olhos determinação e coragem. Esse menino era alma aquele lugar, todos eram. Mas de alguma forma, o Harry parecia entender as coisas diferente dos demais, a cada dia ficava mais surpreso com ele. Sorri e então respondi.

_ Sim. Harry está certo. Vocês são os pequenos guerreiros da nossa tribo. São responsáveis por lutarem contra aquilo que quer deixar vocês mal. Mas querem saber de uma coisa? _ perguntei e eles se agitaram.

_ O que? _ perguntou Caleb.

_ Vocês não lutaram sozinhos. Eu, tia Mila, Tio Jeff e todos os outros aqui vamos lutar com vocês e por vocês. Está bem? _ falei e todos se levantaram para pular de alegria.

Não contive um sorriso, Kamila também não. E assim como eu, também chorava. Harry correu até mim e me abraçou com toda força que ele possuía e então eu retribuí o abraço. Depositei um beijo em sua cabeça e fiz carinho em seu cabelo.

_ Jamais perca sua esperança, está bem? Você é um lutador, Harry. Eu amo você, tá bom? _ sussurrei para ele.

Seus bracinhos me agarram com mais força e eu o ouvi sussurrar.

_ Não irei perder. Também amo você, tio Bas._ sorri diante de suas palavras.

Antes de conseguir levantar, todas elas vieram em direção e então fui derrubado no pequeno tapete da ala de atividades. Se existia qualquer coisa que me incomodava, nesse momento não existia mais.

***

Tinha saído da clínica mais tarde que o normal, mas dessa vez eu me sentia bem comigo e com as coisas. Sentia pela primeira vez, esperança. Enquanto dirigia meu celular tocou e então eu conectei a chamada no som e atendi.

Chamada ativa º Dakota

- Alô? S.S
- Olá, Bas. D.S
- Olá, Dak. S.S
- Onde você está? D.S
- Estou no trânsito. Acabei de sair da clínica. Foi alguma coisa? Está bem? S.S
- Há sim, estou. Também estou no trabalho, eu, Jhonny e Mari estamos tentando elaborar um projeto. Jhonatan pediu uma comida chinesa para não caírmos de fome. D.S
- Que bom. Finalmente Jhonatan fez algo que preste. S.S
- (Estou ouvindo babaca) J.J
- Eu sei que está. S.S
- Está animado, o que se passa? D.S
- Estou bem. Às crianças foram incríveis hoje. S.S
- Que incrível, Bas. D.S
- Sabe aquele garotinho de que falei? O Harry. S.S
- Sim... espera... Droga, vou ter que desligar, o Jhonny está me chamando, mais te ligo e você me conta tudo que aconteceu. D.S
- Tudo bem. S.S

Chamada encerrada.

Tudo bem, ela estava ocupada. Não podia ficar bravo com ela por isso, poderia? Não. Também não iria permitir que algo tão pequeno tirasse o sorriso do meu rosto. Ele era tão raro e não iria permitir que qualquer coisa o afugenta-se. Um tempo depois cheguei no hotel, desci do carro e então fui para o elevador e esperei até que o mesmo chegasse no meu andar. Quando chegou, caminhei pelo corredor e de repente ouvi uma música vindo do apartamento de Mari, revirei os olhos ao perceber que era o namorado dela que estava ali, que iria recebê-la nos braços e ouvi as histórias de como tinha sido o seu dia. Tudo bem, era justo. Iria fazer o mesmo com a Dakota. Mas de certa forma fiquei incomodado com o fato de que ela poderia não me contar o que tinha acontecido no ponto de vista dela. É meio engraçado porque, a Mari tinha um jeito diferente de entender e ver as coisas, talvez estivesse exagerando, mas era engraçado vê-la contar histórias. Sei lá. Abri a porta do meu AP e então entrei no mesmo, joguei minha pasta em cima do sofá e tirei meu casaco. Eu precisava tomar um banho quente, então fui para a casa de banho e logo liguei o chuveiro permitindo que toda aquela água escorresse pelas minhas costas, fechei os olhos por um segundo e me permitir não pensar em nada. Tudo estava calmo e quase respirei aliviado se não fosse pelo grito em minha mente, "BAS!" Seguido por um som insuportável de freios. Senti o ar fugindo dos meus pulmões. Apertei os olhos e então tudo estava acontecendo de novo, as pessoas correndo e gritando, o som da cirene vindo ao longe e então minhas mãos sujas de sangue. Odiava aquilo. Isso tinha parado, essas lembranças tinham ido embora. Medo tomou os meus pensamentos. Algumas pessoas gritavam com o motorista, alguns pediam para que eu me afastasse, mas eu não conseguia, não iria sair do seu lado. Não podia. Era minha a culpa. Tudo o que aconteceu era minha culpa. Então gritei. Gritei como se pudesse arrancar aquela maldita dor do meu coração. Aquele vazio. Abri os olhos quando percebi que estava batendo na parede e gritava. Não podia ser. Às lágrimas haviam retornado com força e aquele sentimento de que iria ficar tudo bem havia ido embora. Eu fracassarei. Fracassei com ela.

Meu querido vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora