Capítulo 27

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Londres, Inglaterra.
Mariana Sharma.

Estava completamente divino, a textura, sabor, o cheiro, tudo. Foi de fato uma prova de alto controle evitar emitir um grunhindo ao levar um pedaço de carne a boca, Sebastian parecia estar satisfeito com minha reação e sorriu fraco enquanto mastigava. Descobri que a minha próxima meta seria aprender a cozinhar com tanta dedicação e prazer.
Comemos em silêncio, se deliciando com cada garfada que dávamos e quando mordi a batata frita, estava tão suculenta que não me contive e fui comendo até notar que haviam acabado, ergui os dedos e peguei duas do prato dele, levando a boca imediatamente.

_ Como você se atreve? _ perguntou fingindo uma irritação.

_ Não se pode brincar em serviço, soldado. _ cantarolei e podia jurar que algo brilhou em seus olhos.

_ Não se atreveria a fazer isso de novo. _ mais uma vez usou um tom de desafio.

Sua atenção estava em mim e foi difícil não ficar tensa diante daquele olhar, mas se Sebastian queria brincar então faria exatamente o que ele queria, porém de uma maneira que o mesmo não esperasse. Com cautela, apoiei-me mais no balcão para que eu ficasse mais próxima dele e  depois olhei no fundo dos seus olhos, que por sinal eram de um azul tão claro que pareciam ser cinzas. Senti a sua respiração ficar mais forte e pesada a cada segundo que eu me aproximava e tentei não dá importância para isso, mas ele não ia recuar, percebi. Então quando estávamos próximos o bastante para que eu considerasse um alerta, simplesmente peguei suas batatas fritas e comi novamente. Sebastian gargalhou.

_ Trapaceira! Você me distraiu. _ implicou ele.

_ Estrategista, é diferente. _ comentei e peguei mais um pouco para mim.

_ É enlouquecedor saber que está certa. _ falou e deu de ombros voltando a comer.

_ Sempre estou. _ respondi fazendo o mesmo gesto.

Comemos por mais alguns minutos e então eu decidi que estava cheia o suficiente para que corresse o risco de vomitar as tripas depois que bebesse todo aquele vinho.

_ Estou cheia, se comer mais alguma coisa é capaz de vomitar tudo em seguida. _ disse e gargalhei quando Sebastian soltou o garfo.

_ E com esse comentário, serei obrigado a parar de comer minha comida excelente. Muito bem Mari. _ resmungou.

_ Alguma vez alguém já lhe disse que parece um velho ranzinza? _ perguntei revirando os olhos.

Um tipo diferente de brilho surgiu nos olhos de Sebastian quando se virou para mim e seu sorriso foi tão lindo que tive dificuldade para respirar, então sua voz ecoou alegre.

_ Sim, uma vez. _ respondeu, seu sorriso cada vez maior.

_ Quem? Por favor, diga-me quem fora meu herói. _ perguntei brincalhona.

_ Um garotinho que vai ao meu consultório às sextas feiras. Um dia eu estava tão irritado com coisas que tudo estava dando errado e quando chegou sua vez da consulta, ele disse para sua mãe que não queria. Foi um choque para mim, para sua mãe também e quando ela perguntou o motivo dele não querer, ele apenas disse que eu estava ranzinza igual seu avô ficava. _ mais uma gargalhada e uma alegria contagiante no fundo de seus olhos. _ Sua mãe pareceu ficar tímida e congelou, enquanto eu apenas olhava para o pequeno garoto que estava com braços cruzados e me encarava como se de fato conseguisse ver o avô, então eu simplesmente gargalhei o que fez sua mãe respirar aliviada. _

Gargalhei ao pensar em como a mãe do garoto deveria ter ficado tímida com a sinceridade do filho. Eu não conhecia esse lado de Bas, jamais iria imaginar que ele era pediatria ou que era o tipo de cara que gostava de crianças.

_ Qual nome dele? _ perguntei divertida.

_ Harry _ respondeu ele com amor.

_ Não imaginei que gostava de crianças. _

Foi como se aquela luz tivesse sido arrancada de seus olhos deixando apenas o vazio. Culpa tomou conta de mim porque soube que aquela expressão de nada em seu rosto falava muito mais do que Sebastian estaria disposto a dizer.

_ Gosto. _ foi tudo o que disse.

Ficamos em silêncio apenas por uns minutos, mas logo eu comentei.

_ Bom, diga ao Harry que ele tem uma nova fã. _ comentei e Sebastian sorriu um sorriso que não se atreveu a chegar aos olhos.

Momentos depois levantei e fui lavar a louça, alegando que ele tinha feito o jantar, ao menos eu poderia limpar a sujeira, Sebastian não questionou e disse que iria em seu quarto pegar alguma coisa que eu não tinha ouvido. Terminei com os pratos e então coloquei vinho em minha taça e depois na dele e segui para o sofá no momento que Bash apareceu com o que supus ser um álbum de fotos dele.

_ Uau, não estava esperando ver fotos suas de quando era um bebê feioso. _ falei provocativa apenas para tirar aquela sombra vazia de seus olhos.

_ Engraçadinha, não é fotos minhas e só para você saber, eu era um bebê magnífico. _ disse ele revirando os olhos. metido.

Sentamos no tapete e então Bash abriu o álbum revelando várias crianças com as mãos sujas de tinta vermelha, azul, amarelo, verde e todas as cores vivas de uma paleta. Em outra página, Bash estava sentado entre duas garotinhas e o seu rosto estava todo pintado de tinta rosa. Sorrindo, passei para página seguinte e nela havia duas mulheres fantasiadas de princesas e entre elas estava uma garotinha com um brilho lindo nos olhos ao olhar para as moças. Direcionei minha atenção para próxima foto e então eu vi Bash, parado enquanto olhava um garotinho de cabelos pretos escorridos dormir, preso no que seria um nebulizador. Meus olhos encheram de lágrimas quando notei suas mãos segurando a mão do pequeno garoto.

_ Amo todas essas fotos, mas essa em especial. Esse é o pequeno Harry. Nesse dia ele estava inquieto e assustado, nunca precisou dormir no nebulizador, porém nessa noite não poderia arriscar dormir sem ele. Quando terminei de colocá-lo, Harry simplesmente se recusou a soltar minha mão então eu fiquei. Fiquei até que o sol nascesse. _ sua voz não passava de um mero sussurro e não pude deixar de notar as lágrimas que se formavam neles.

_ Ele parece... Tão sereno. _ falei baixinho.

E sim, ele parecia. Talvez porque bem no fundo ele sentisse a presença de Bash do seu lado todo o tempo. Porque no fundo, o garoto sabia que ele jamais o deixaria sozinho. 

_ Ele dormiu a noite inteira e eu não sai do seu lado nem por um minuto com medo de que se eu saísse e acontecesse alguma coisa com ele. _ suas palavras eram frias totalmente diferente da expressão em seu rosto. Terror.

Foi automático eu colocar minhas mãos em seu braço e o toque pareceu confortá-lo ao mesmo tempo que o assustou. A vibração que passava por nossos corpos era completamente estranha, porém ainda assim não soltei, não quando ele parecia perdido em memórias, lembranças de um passado que o abalará completamente.

_ Ele está bem, Bash._ falei, baixinho.

Sebastian apenas assentiu e então eu passei a página e vi uma foto com todos eles, deitados em tapetes desenhando coisas aleatórias. Mas, ao analisar bem aquelas fotos, percebi que não era qualquer desenho, mas sim desenhos que representavam esperança. Era lindo seu trabalho. O amor que sentia por eles. Não consegui dizer o que eu estava sentindo, mas de uma coisa eu tinha certeza, precisava conhecê-los. Cada um deles.

Meu querido vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora