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Barão

Eu tava aloprando a cabeça de todo mundo, gritando sem parar no radinho, pra todos os vapores irem atrás de alguma notícia do Gabriel ou do Matheus. O Ruan, ou Barbosa, meu braço direito, mandou eu me acalmar, falando que ia resolver essa fita. Só tinha duas paradas que podiam me acalmar, drogas e os meus filhos.

Resolvi escolher a segunda opção, e fui atrás do meu Davi, que brincava com o AK, no quintal de casa.

Nome de arma no nosso cachorro? Pois é, coisa do Gabriel e do Matheus... eu gostei e acabei deixando. Os menor me encheram o saco porque queriam um cachorrinho, e precisou quase um mês de negociação pra eu aceitar. Era um pitbull maneiro, bravo igual os donos. O Davi era maluco por aquele cachorro, e passava mais de uma hora por dia só brincando com ele.

Quem sempre cuidava do meu menor, desde que ele era um bebezinho, era a Júlia, fiel do meu parceiro Barbosa. Eu pagava os estudos dela, porque sabia que o sonho da garota era ser professora, e em troca, ela dava todo o amor e carinho pro meu caçula.

A história da Júlia e do Ruan era meio maluca. Ela era filha de pastor, ele traficante. Eu nunca achei que isso fosse dar certo, mas deu. A Jú bateu no peito, e assumiu a bronca que queria ser mulher de bandido. Os pais botaram ela pra fora de casa e quem cuidou dela por esse tempo todo foi o Ruan. Eu nem entendi qual foi a do chá, meu pit era todo cachorrão antes de provar da garota.

Ele sempre dizia que encontrou na Júlia uma parada que achou que nunca fosse sentir, e que era como se os dois tivessem uma ligação foda, papo de outras vidas. Eu botava fé, porque sentia esse amor maluco pelos meus crias.

Júlia: Calma, Barão. Já já os meninos aparecem, não é a primeira vez que eles fazem isso - ela falou, assim que eu coloquei os pés pra fora da sala de casa.

A Júlia estava sentada na varanda, com as pernas cruzadas, e o Davi estava um pouco mais à frente dela, sentado na grama, e rindo pra caralho, toda vez que o AK dava uma lambida na mão dele.

Eu relaxei só de ouvir o som daquela risada. Mas ainda faltava um pedaço de mim, porra. Eu precisava saber onde aqueles dois filhos da puta, que achavam que entendiam alguma parada da vida, tinham se metido.

Barão: Valeu, Jú. Mas não tenta defender, eu vou meter uma bala de canhão no cu daqueles dois quando eles aparecerem.

Júlia: Seus filhos, suas regras - ela deu uma risadinha.

Eu me aproximei do meu menor, sentando do lado dele, e tanto o moleque, quando o nosso cachorro, já vieram pulando encima de mim.

Davi: Papai, papai - ele apertou os bracinhos envolta do meu pescoço, e eu deixei um beijo na cabeça dele - O AK.

Barão: Tô vendo, menor - dei o meu melhor sorrisão pra ele - Joga a bolinha pro AK.

O Davi tentou sair de perto de mim, mas eu nem deixei, porque tava me deixando mais calmo ter ele por perto. Entreguei a bolinha na mão dele, e o pivete jogou pra longe, o AK foi correndo pegar, e depois devolveu bem perto do pé do meu filho.

Marolei por ali mais uns dez minutos, mas já tava ficando sem paciência, por estar sem notícias. Eu já estava me despedindo do Davi, pra ir atrás desses arrombados, quando o meu celular tocou. O vulgo "Barbosa" brilhando na tela. A Júlia logo se mexeu toda, sabendo que era o homem dela me ligando.

Barão: Achou? - já atendi a ligação perguntando.

A Jú segurou o Davi, porque ele queria vir atrás de mim. Mas logo distraiu o garoto, brincando com o cachorro.

Barbosa: E eu brinco em serviço, chefe?! Encontrei. Teus menor nem foram pra tão longe, eles tão em uma casa aqui em Bonsucesso.

Bonsucesso ficava a uns quinze minutos do Coplexo do Alemão, nem era tão longe. Já saí catando a minha carteira, chave do carro, peça na cinta e indo pra garagem. Eu só não tava ligado no que eles tinham ido fazer lá.

Barão: Os dois estão aí?

Barbosa: Pô, tão sim. Gabriel deve ter roubado a tua moto, porque ela tá estacionada aqui na frente.

Barão: É um filho da puta mermo - xinguei - Eles viram vocês?

Barbosa: Acho que não, Barão. Tu quer que nós arraste os moleque de volta pra casa?

Barão: Não, irmão. Eu tô saindo do morro, me manda a localização e marca dez que já chego.

Barbosa: Ainda. Fé, meu chapa.

Eu desliguei a ligação, acelerando o Jaguar pra fora do morro. Os menor da contenção cumprimentaram, mas tavam ligados que eu tava sem tempo, então nem demoraram pra sair tudo da minha frente. O Barbosa mandou a localização, e eu fui a milhão até o endereço, aliviado pra caralho de saber que eles estavam bem, e ao mesmo tempo, puto pra caralho.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora