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Isabela

A dor era terrível.

E quando eu falava de dor, nem era a física. Os remédios estavam fazendo um bom trabalho. Mas era uma dor tremenda viver num labirinto sem saída. Toda a esperança que um dia eu havia nutrido, de sair dessa vida, de nunca mais precisar ver o Pitbull e de viver em paz, tinha ido embora e dado lugar ao conformismo de que eu estava tão imersa em toda essa merda, que já nem tinha mais como sair.

As palavras usadas por ele, enquanto me agredia, ainda ecoavam na minha cabeça e eu sentia que precisava repassar essa informação pro Barão. Mas de que valeria, se ele também não confiava em mim. Ninguém confiava e não posso dizer que conseguia ter qualquer compreensão quanto a isso.

Não havia mais algum motivo pra lutar. Perdi minha mãe, perdi minha irmã, e ainda era obrigada a ficar longe da única família que tinha me restado.

Cíntia: Oi, você acordou! - a moça que deveria ter uns quarteara anos se aproximou da minha cama - Sente dor?

Isabela: Não - minha voz saiu mais rouca do que eu esperava, então forcei um pigarro com a garganta - Onde eu tô?

Cíntia: Meu nome é Cíntia. Fui contratada pra ser sua enfermeira - ela tocou a minha sobrancelha usando luvas, mas eu tentei me afastar ao sentir a ardência no local - Você se machucou bastante. Se lembra do que aconteceu?

Isabela: Uhum - desviei o olhar dela, querendo deixar claro que eu não precisava falar sobre aquele assunto com uma desconhecida - Isso não parece um hospital.

Cíntia: Não é. Você está na Penha, é uma casa. O Barão foi te buscar no hospital, me contratou pedindo pra cuidar de você nos próximos dias.

Isabela: O Barão? - perguntei.

Senti meu coração acelerar com a sua confirmação. Não sabia o motivo de ele ter me tirado do hospital, talvez fosse para arrancar de mim tudo o que eu sabia sobre o Pitbull. Ou talvez fosse pra ter o prazer de me matar usando suas próprias mãos, já que o seu braço direito, o Barbosa, tinha completa convicção de que eu sabia que o Pitbull fazia parte de outra facção.

Cíntia: Você precisa ficar parada. Fraturou as costelas, uma das mãos, e teve outros ferimentos pelo corpo, mas não foram tão graves quanto esses outros - explicou calmamente - Eu vou chamar o Barão.

Eu não respondi. Continuei parada enquanto observava a mulher saindo do quarto.

Acho que uns cinco minutos depois, o Barão entrou sozinho no quarto. Estava vestido com uma bermuda e camiseta de time, os pés estavam descalços e não havia boné na cabeça. Ele estava sem os cordões, relógios e anéis, e pela cara de sono, acho que devia estar dormindo.

Ele me encarava, enquanto dava passos receosos na minha direção, para perto da cama. Eu fui obrigada a desviar o olhar, encarando a minha mão que estava parada encima do meu colo.

Talvez fosse uma boa hora pra começar a me explicar e justificar toda essa merda. Dizer que eu não sabia de nada, e que não tive culpa de nada. Mas eu estava completamente exausta, e nada saiu da minha boca. Sentia que seria somente perda de tempo, e ele não acreditaria em mim, mais uma vez.

Barão: Isabela - me chamou, e então eu notei que estava a um passo de distância da minha cama. O encarei, mesmo não querendo, e vi ele engolindo seco - Você tá legal?

Concordei com a cabeça.

Óbvio que eu não estava. Óbvio que ele não acreditou na minha resposta, porque logo depois, respirou fundo, olhando em volta.

Isabela: Por que você me trouxe pra cá?

Barão: Foi bem foda acreditar em você. Ainda é, na verdade. Inimigo meu tem por toda parte, e durante a minha vida toda eu fui obrigado e desconfiar até da minha sombra, pô - ele fez uma pausa, coçando os olhos - Eu quero te pedir desculpa, sendo puro contigo. Por não ter acreditado em tu desde o começo. Eu sabia que essa história ia feder, Isabela. Eu tinha certeza que tinha mais coisa por trás de tudo isso... só não sabia que tu não tinha nada a ver com a maldade do maluco.

Isabela: Já não faz mais diferença... - ele me cortou.

Barão: Faz sim! - sua voz saiu mais grave, e ele me olhava com seriedade - Vai fazer a partir de agora. Me desculpa por tudo isso. Eu te prometo que não vai mais acontecer!

Isabela: Barão, você não tem que me prometer nada. Principalmente, se não for capaz de cumprir. Eu não quero estar envolvida nessa história. Isso tudo é uma merda, eu nunca escolhi estar no mundo do crime!

Barão: Eu também não escolhi - falou - Mas não tinha outra opção. Acho que tu também não tem.

Isabela: Pode ter outro jeito.

Barão: Tu tá na minha proteção. Agora tu é do meu pessoal, se ligou?! Como os meus filhos e meus parceiros. E eu te prometo que tu não vai mais precisar passar por nenhuma dessas merdas que tu já teve que passar.

Isabela: Eu não tenho como te retribuir por isso. Pela casa, pela enfermeira. Já tava foda de arrumar um emprego antes, agora mesmo que piorou!

Barão: Tu vai dar teu jeito depois que se recuperar. Por enquanto, se preocupa em ficar no dez. A grana não vai me fazer falta agora.

Concordei com um aceno.

Isabela: O Matheus sabe? - perguntei.

Barão: Não quero que ele saiba. Falei pra ele que tu tava na minha proteção, e vacilei. Ele vai ficar muito puto comigo se souber desse caô.

Isabela: Eu não vou falar. Você tá me ajudando, não tá?

Barão: Sim.

Isabela: Por que você quer, né? Sem nenhuma intenção, certo? - insisti - Porque, se a sua ideia for me usar de isca para atrair o Pitbull, eu não quero. De verdade, eu só quero nunca mais precisar tocar no nome dele.

Barão: Tô te ajudando porque eu sinto que é isso que tenho que fazer. Não preciso de nada em troca.

Fiquei em silêncio, e ele continuou me olhando por um tempo. Mas depois disse que ia deitar, porque o Davi estava aqui e que qualquer coisa eu poderia chamar ele.

A Cíntia voltou pro quarto um pouco depois, com um pouco de água pra eu beber, me deu mais remédios e nem demorou para eu voltar a dormir.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora