Predestinados

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Isabela

Fui na maior inocência, andando de mãos dadas com o Henrique, até o camarote. Por mais que doesse, eu estava bem animada pra conhecer a namorada do Gabriel. Tinha visto os dois entrando juntos no camarote, mas o palco era um pouco longe e as luzes atrapalharam, então não consegui ver ela direito.

Eu estava me fazendo de desentendida pra cada olhar malicioso, ou de julgamento, que eu recebia. Não queria arrumar confusão nem pra mim e nem pro Barão. Alguns até cochichavam quando a gente passava, mas era tão baixo que eu não conseguia ouvir nada por conta da música alta.

A Júlia e o Barbosa estavam andando na nossa frente. Eles subiram a escada do camarote primeiro, e eu me estiquei na ponta dos pés pra tentar ver os meninos.

Não consegui encontrar nenhum deles, até de que fato estivéssemos dentro do camarote.

O Patrick e o Matheus estavam na grade, bebendo um copão que devia ser do tamanho da cabeça deles. Mas quem mais me interessava estava do outro lado, ambos sentados no banquinho, fumando narguilé. O Gabriel estava com um copo na mão, e com o braço atrás do ombro da namorada. Já ela, estava rindo pra algo que ele falou, enquanto soltava a fumaça pela boca.

Barão: Ah, que bonitinhos. Nosso menor tá treinado! - falou, no meu ouvido.

Eu sorri pra ele. Se o Gabriel estivesse feliz, então eu estaria mais ainda.

Eu parei de andar, bem no momento em que a luz refletiu no rosto dela, e o Barão por estar atrás de mim, esbarrou com o corpo no meu. Meu sorriso sumiu em uma fração de segundos.

Forcei a visão, pra ter certeza de que eu enxergava certo, e senti os meus dedos formigarem no mesmo instante.

Quando eu constatei que a Sofia, era realmente a Sofia que eu conhecia, um no imenso de formou na minha garganta e todo o meu corpo passou a ficar anestesiado. Eu não sentia mais nada. Mas a minha vista ardia demais!

Empurrei o Barbosa pro lado, e nem sei em que momento eu me desfiz do contato com o Henrique. Ouvi a Júlia perguntando se eu estava bem, mas eu fingi que ela não existia.

Eu precisava tirar aquela menina do lado do Gabriel.

Nem sei quem eu empurrei, não sei como ou quanto tempo eu levei, mas vi o rosto da Sofia me olhando com confusão e medo quando eu cheguei perto dela, puxando-a pelo braço pra longe do meu menino.

Ela ficou de pé em um segundo. Os olhos tão arregalados que quase saltavam para fora do rosto.

Lobo: Isa! Pera aí! - senti a mão dele tocando o meu braço, na tentativa de me fazer soltar dela, mas eu não soltei. Eu nem olhei pra ele.

Tudo o que eu via era a Sofia. O Pitbull. E todo o inferno que o pai dela tinha feito na minha vida.

Isabela: O que você tá fazendo aqui? - gritei na cara da garota, completamente sem controle.

O Henrique me puxou pra trás, abraçando o meu corpo, com muita força. Só assim eu soltei o braço dela.

A Sofia olhou por cima do meu ombro, e depois olhou em volta. O Gabriel se meteu na frente dela, ficando de costas pra mim.

Sofia: O que você tá fazendo aqui, Isa? - ela perguntou em um tom baixo - Cadê ele?

Isabela: Não me chama de Isa - eu praticamente rosnei.

Barão: Ei, ei, ei. Calma, pelo amor de Deus - ele virou o meu corpo de frente para o dele, e quando fez isso, eu percebi que todo mundo daquele camarote prestava atenção no que estava acontecendo, e que o Matheus e o Patrick já estavam do nosso lado. Respirei fundo, fechando os olhos, mas ainda sentia cada célula do meu corpo ser consumida pelo ódio. O Barão só voltou a falar quando percebeu que eu estava controlando a minha respiração - O que tá rolando, preta?

Isabela: Tira o Gabriel de perto dela - pedi, apertando a blusa dele com as minhas mãos - Por favor, tira ele de perto dela.

Barão: Tá, amor, eu tiro. Mas me fala o que tá rolando e pelo amor de Deus, respira!

Sofia: Isabela - ouvi ela me chamando.

Eu continuei de costas, mas fechei os olhos. O Henrique ainda me segurava. Talvez se não fosse ele, eu teria caído.

Não consegui me virar pra olhar pra ela. Não consegui.

Não consegui olhar para a Sofia porque me lembrei de tudo. Porque fiquei com medo. O que ela queria com o Gabriel?

Sofia. Filha do meu ex.

Ainda me lembro do dia em que descobri que ele tinha uma filha. O vagabundo era tão vagabundo que nunca tinha nem assumido a garota.

Ele foi casado com a mãe da Sofia por um tempo, mas terminaram logo depois que ela nasceu e o Pitbull nunca nem quis saber da filha.

Por vezes eu insisti, no começo da nossa relação, que ele precisava ser um pai presente, independente de qualquer questão que tivesse com a ex-mulher.

Hoje eu entendo o quão burra fui de acreditar nas merdas que ele me dizia. O quão burra fui de acreditar que ele não era um pai presente pra Sofia, porque a mãe dela nunca deixou.

Talvez, até pudesse ser verdade, se eu tivesse tido algum filho com ele, jamais deixaria que o monstro colocasse os olhos encima de um filho meu.

Na minha vida, eu vi a Sofia pessoalmente umas duas vezes. Todo o restante dos nossos contatos foi por mensagem ou Instagram.

Ela quis se reaproximar do pai durante uma época, mas era tudo nas escondidas, porque a mãe dela não podia saber de jeito nenhum. Dito e feito, ela foi até o inferno umas duas vezes, e o Pitbull nem ligou muito pra garota, mas no fim das contas a mãe dela descobriu tudo e proibiu novamente qualquer contato com o pai ou comigo.

Falcão: Ei, Isa, que ela fez? - ele perguntou pra mim quando eu voltei a abrir os olhos, parecendo completamente tenso.

De relance eu vi que o Patrick estava com os braços cruzados, encarando ou o Gabriel ou a Sofia, eu não sabia dizer quem era.

Me virei de costas pra eles, olhando pra menina.

Sofia: Cadê o meu pai?

Barão: Que pai, porra? Quem é teu pai? - ele me soltou, perdendo completamente a paciência e se meteu na minha frente.

Segurei o braço do Barão, porque não sabia qual seria a reação dele quando ouvisse o que eu tinha pra falar.

Respirei fundo antes de soltar tudo de uma vez.

Isabela: O Pitbull é o pai da Sofia.