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Isabela

Eu sentia o meu corpo se arrepiar a cada palavra que eu ouvia. De olhos fechados, porque eu não era forte o suficiente pra encarar a transformação de frente.

A única coisa que ainda me prendia ali, e fazia com que eu tivesse um pouquinho de noção do que estava acontecendo, era a mão da Júlia envolta da minha.

Volta e meia, sentia o olhar do Barbosa queimando em mim. Mas nem isso me importava.

A Júlia me convidou para a igreja. Pediu permissão pra me levar ao encontro de Deus, mais uma vez. Me perguntou se eu estava pronta pra isso. Eu não soube responder, mas topei. Eu troquei de roupa e ela ligou pro marido.

Nem demorou pro Barbosa ir buscar a gente. O PT ficou bem louco, dizendo que ia ter que avisar o Barão, porque ele não sabia se eu poderia sair de casa sem o "Chefe" saber. O Barbosa mandou ele ir pra merda e eu agradeci.

Fomos o caminho inteiro em silêncio até a igreja. Quando chegamos, reconheci os pais da Júlia só pelo o olhar que lançaram pra ela. Um olhar extremamente carinhoso, e uma relação extremamente fria, pois nem eles e nem ela, se aproximaram.

O pastor começou a falar, e eu passei a prestar atenção somente em suas palavras. Parecia que estavam sendo ditas somente pra mim. Parecia que só havia eu e ele ali. Ele falava exatamente as mesmas coisas que a Júlia me falou horas antes.

Ele falava que Deus jamais abandonava um filho.

Me prendi com todas as minhas forças em cada palavra pregada naquela hora, assim como cada sensação boa que causou em mim, ouvir o que eu precisava ouvir. Estar naquele lugar. Estar ouvindo o chamado de Deus pela primeira vez, depois de tanto tempo.

Prometi que teria mais fé em mim, e nele. Prometi que ia tentar de novo. Só mais uma vez. Que ia acreditar que toda aquela merda que eu tinha me envolvido, me levaria a algum propósito na vida.

Júlia: Você tá bem? - a voz fraquinha perguntou perto do meu ouvido, quando a música chegou ao fim, anunciando que tinha acabado.

Abri os olhos pela primeira vez, desde que tinha entrado naquele lugar. Mas senti o meu olho não suportar e deixar umas duas lágrimas escorrerem.

Abracei a Júlia, como podia, devido aos machucados que estavam incomodando.

Isabela: Obrigada por isso - senti seu afago em minhas costas - Eu estou bem. Pela primeira vez em algum tempo, eu sinto que vou ficar bem.

Júlia: Eu sei que você vai - falou, me apertando. Eu grunhi de dor e ela me soltou rapidinho - Esqueci. Desculpa, Isa.

Isabela: Você está muito forte pra alguém do seu tamanho - brinquei, tentando reprimir a careta de dor.

Júlia: Caraca, você tá até fazendo piada, quanta evolução! - ela zoou - É uma brincadeira bem ruim, mas ainda é uma pontinha de humor que eu nunca tinha visto.

Barbosa: Fodeu - ele falou.

A Júlia repreendeu o marido com um olhar, mas se preocupou, assim como eu, ao ver a reação do cara ao ler alguma coisa em seu telefone. Meu estômago se revirou pensando na grande merda que poderia ser.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora