IsabelaDemorei muito tempo até conseguir pensar em algo útil pra fazer.
Sai do banheiro e procurei os meus no corredor. A mãe da Sofia já havia chego, e o Gabriel e o Henrique estavam conversando com a mulher que chorava muito.
Passei as mãos no meu rosto, tentando em vão secar as lágrimas que insistiam em cair.
Entrei no corredor oposto, afim de ir até a recepção sem que eles me vissem. Tudo o que não precisavam agora era de mais uma preocupação.
Segurei a primeira enfermeira que apareceu na minha frente.
Isabela: Moça, eu tô grávida. Eu tô sangrando. Me ajuda - pedi - Tenho um filho na sala de cirurgia e outro que acabou de perder a namorada e um bebê. Eu só preciso saber se esse neném tá bem, mas sem alarmar, por favor.
Ela concordou com a cabeça e prontamente me fez sentar em uma cadeira de rodas que tinha ali, pra depois me encaminhar para um dos quartos de ultrassom.
Havia um doutor de plantão, tive que esperar por uns vinte minutos até que a moça da última consulta saísse e ele pudesse me atender.
A enfermeira me ajudou a subir na maca, e explicou para ele tudo o que estava acontecendo.
Ele me perguntou quando tempo de gestação tinha e logo colocou aquele líquido gelado na minha barriga, espalhando com a maquininha.
Diferente do último ultrassom que eu fiz, ele logo colocou o som do coraçãozinho do neném pra tocar e eu respirei fundo, fechando os olhos, ao ouvir os batimentos bem fortes.
Puxei o ar pros meus pulmões mais algumas vezes, soltando com calma. A enfermeira percebeu o quão nervosa eu estava e fez um carinho nos meus braços, me lançando um sorriso tranquilizador.
- A mocinha tá bem. Eu vou te examinar melhor pra sabermos o motivo do sangramento e descartarmos qualquer possibilidade de um aborto espontâneo.
Eu travei e encarei o doutor, secando o meu rosto mais uma vez.
Isabela: Mocinha? Como assim? - minha voz falhou - É uma menina?
- A senhorita não sabia? - eu neguei com a cabeça e ele sorriu - É uma menina sim.
Eu não consegui sorrir. O clima e a preocupação não deixavam. Mas eu estava me sentindo melhor ao saber que ela estava bem e infinitamente radiante em saber que era uma menina.
Eu precisava que o Patrick ficasse bem logo. Ele tinha um nome pra escolher.
O doutor fez vários testes e viu que a causa do sangue foi um descolamento de placenta. Pediu para que eu ficasse calma e repousar.
Eu concordei, não querendo entrar nessa questão com ele. Mas não tinha o que fazer. Eu não podia me dar ao luxo de ir pra casa sabendo que o mundo estava desabando na nossa cabeça.
Mandei uma mensagem pra Júlia, perguntando como estava o Davi. Ela me disse que ele estava bem, estava dormindo, mas antes tinha chamado por nós. Eu pedi que ela mandasse algumas roupas por algum dos vapores. Tanto pra mim, quanto para o Biel e o Henrique. A gente precisava no mínimo trocar de roupa.
Barão: Onde tu se meteu, amor? - perguntou, quando eu voltei pro corredor onde eles estavam.
Nós estávamos longe o bastante de todos os outros.
Isabela: Fui ligar pra Júlia. Pedi pra trazerem umas roupas para podermos nos trocar e tirar um pouco desse sangue - menti em partes, abraçando a cintura dele.
Suas mãos entraram nos meus cabelos, fazendo um carinho bom na região.
Barão: O médico veio aqui - eu olhei pra ele - O Patrick perdeu muito sangue e vai ficar em observação. Eles conseguiram remover as balas e parece que não teve nenhuma fratura mais grave.
Eu apertei os olhos, soltando todo o ar que tinha prendido nos pulmões.
Graças a Deus. Graças a Deus.
Isabela: Meu Deus - foi a única coisa que consegui dizer, agarrando o corpo do meu namorado em um abraço sufocante - Porra! Graças a Deus!
Barão: A situação não tá linda não, Isa. Tá foda.
Isabela: Mas ele corre risco de vida?
Barão: Menos que antes. O meu sangue e o do Gabriel é compatível. Podemos doar pro Patrick.
Isabela: Eu posso doar? Qual é o tipo sanguíneo dele?
Ele negou.
Barão: Tu tá grávida. Não pode doar. O nosso já vai ser o suficiente. E se não for, eu cato a Raquel e faço ela doar cada gota de sangue do corpo dela.
Isabela: Será que o Gabriel tá bem pra fazer isso? - perguntei - Não é melhor ele ir pra casa?
Barão: Ele tá destruído pela Sofia, mas tá malzão pelo Patrick. Ele quer fazer o que tiver que fazer pra tirar o irmão dessa.
Eu assenti e perguntei a ele como estava a mãe da Sofia. Ele me falou que ela tinha ido tomar um calmante e ligar para a família, pois estava inconsolável.
Não demorou muito e uma enfermeira chegou, chamando o Henrique e o Gabriel para irem fazer a doação de sangue.
Um dos vapores do Henrique trouxe as roupas e eu logo fui para o banheiro mais próximo tirar a roupa suja de sangue.
Depois de me sentir um pouco mais limpa, voltei até a sala onde estávamos esperando e me sentei ao lado do Matheus, pra tentar repousar um pouco, como o médico havia pedido. O Barbosa ficou ao nosso lado todo momento, até que o Henrique voltasse junto com o Gabriel.
Ficamos conversando por um tempo, até de fato conseguirmos convencer o Gabriel a ir pra casa cerca de quase duas horas depois. Por mais distraído que ele estivesse, ainda teria que enfrentar o velório e enterro da Sofia nas próximas horas, e o que ele precisava agora era do luto, sem a preocupação de ter um irmão na cama de um hospital.
O Matheus ficou. Ele só se permitiu sofrer pelo Patrick depois que o Gabriel foi embora, porque até então, estava totalmente focado no irmão. E mais uma vez, a responsabilidade de consolar ficou para o Barão, porque eu não tinha mais forças pra falar nada.
O Barbosa tinha acompanhado o Gabriel até em casa e quando voltou, perguntou se queríamos comer. Mas ninguém tinha nem cabeça pra pensar em comida, ou em qualquer outra coisa.
Fiquei encolhida na cadeira dura do hospital até que o sol desse lugar a lua, e o cansaço dominasse o meu corpo, fazendo eu cochilar várias vezes, por míseros segundos.
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Predestinados
RomanceNão há nada mais forte do que duas almas interligadas, predestinadas a se encontrarem.