IsabelaQuando o Henrique entrou de volta no morro e parou o carro em frente ao portão de emergência do hospital. Eu me afastei do Patrick, deixando que o corpo dele fosse levado pra longe do meu abraço.
Durante todo o caminho eu estava extremamente enjoada por conta do cheiro forte de sangue e também por conta das cenas fortes que eu tinha presenciado. Então assim que pisei pra fora do veículo a única coisa que consegui fazer foi vomitar.
Vi que o Henrique me olhou, e fez menção em vir pra perto de mim no exato momento em que colocaram o corpo do meu filho na maca. Mas com um olhar ele entendeu bem o que eu quis dizer e me deixou pra trás, entrando no hospital junto com o Patrick.
Depois de uns dois minutos, e de eu conseguir me recuperar um pouco do mal-estar, entrei correndo pelos portões de emergência e encontrei o Gabriel chorando muito, abraçado com o Barão, logo no corredor de entrada.
Eu já sabia que ela não tinha sobrevivido.
No momento em que eu vi a Sofia jogada no chão, eu soube que ali não tinha mais vida.
Era triste. Era infinitamente triste pelo Gabriel. Por ele ter perdido o primeiro amor de uma forma tão trágica, por algo que ele nunca teve culpa.
Mas era muito mais triste pensar que uma menina de dezesseis anos, com tanta coisa pra viver, tinha partido dessa, por conta da maldade do homem que carregava o mesmo sangue em suas veias.
Um filme passou na minha cabeça. Tive que me encostar na parede pra não cair.
Lembrei do nosso primeiro contato. Ela só queria conhecer o pai. Queria poder viver com ele e lidar um pouco melhor com toda a falta que ele causou durante a sua infância. Mas nem isso ela pode ter.
Ela se apaixonou. O primeiro amor. E nem isso ela pode viver.
Engravidou. Mesmo sendo fruto de um momento, eu sabia que ela ia lidar bem com isso. Mas nem tempo de assimilar tudo o que tinha acontecido, ela teve.
E agora ficava a dor. Pro Gabriel. Pra mãe dela. Pra qualquer pessoa que tivesse um pingo de compaixão e se colocasse no lugar de uma menina de dezesseis anos, que só sonhava em ter uma vida minimamente perfeita.
Forcei os meus pés a andarem pra mais perto do Henrique, Gabriel e Barbosa.
Isabela: Onde ele tá? - perguntei baixo, pro Barbosa. Vi que o Henrique me olhou por cima do ombro do filho e eu cheguei ainda mais perto dos dois, abraçando as costas do Biel.
Barbosa: Na sala de cirurgia. O Patrick perdeu muito sangue, as balas ainda estavam no corpo dele.
Meu estômago se revirou mais uma vez e eu engoli seco tentando pensar um pouco menos no Patrick, e focando um pouco mais no Gabriel que precisava de todo o nosso apoio.
O Matheus chegou uns quinze minutos depois. Só ele conseguiu consolar o irmão. Até porque... eu e o Barão não sabíamos nem mesmo o que falar. Por mais preocupados que estivéssemos com o Gabriel, a nossa cabeça não saia nem por um minuto daquela sala de cirurgia.
O meu namorado me olhou depois de um bom tempo. Eu estava tomando água no fim do corredor. Ele se afastou do Gabriel, que chorava mais baixo, e se aproximou de mim, colocando as mãos ainda sujas de sangue no meu rosto.
Barão: Tenta ficar calma.
Eu encostei a minha cabeça em seu ombro, e ele me abraçou, puxando nós dois para sentarmos nas duas cadeiras que tinham ali.
Respirei um pouco, deixando o meu corpo relaxar pela primeira vez desde que saímos do morro.
Isabela: Eu tô apavorada - confessei.
Barão: O Gabriel vai ficar bem. Vai doer muito pra sempre, mas ele vai ficar bem. A gente tem que ficar de olho. Apoiar ele agora... mas eu sei que ele vai sair dessa - falou, encarando o mais velho.
Isabela: E o Patrick?
Ele me olhou. Eu só queria que ele me falasse que o Patrick também ia ficar bem, que também ia sair dessa.
Mas o Henrique se aproximou ainda mais do meu corpo, colocando as mãos na minha barriga, e desviou o olhar do meu.
Eu sempre notei que ele se aproximava dos filhos quando precisava se acalmar. Mas nunca tinha feito isso com o neném que estava dentro da minha barriga. Essa foi a primeira vez.
Barão: Não é bom fazer uns exames? Ver como ele tá?
Isabela: Acho que sim. Só não consigo pensar nisso agora. Vamos com calma, uma coisa de cada vez.
Barão: Eu tô pensando no que falar pra mãe da Sofia. A gente vai ter que chamar ela pra cá. Pensei em falar que foi assalto. Falo que o Gabriel e o Patrick estavam junto com ela. O Patrick reagiu e os bandidos atiraram.
Eu neguei com a cabeça.
Isabela: Fala a verdade. Ela merece saber da verdade.
Ele franziu o cenho.
Barão: Ela vai se odiar por ter escolhido aquele filho da puta pra ser pai da filha dela. Não acho que a verdade vai ser a melhor opção.
Isabela: Eu odeio ter namorado com ele. Odeio tudo o que ele me causou, e causou pra nossa família. Mas eu ainda escolheria saber da verdade.
Ele concordou e tirou as mãos da minha barriga, me deu um beijo na cabeça e se afastou, indo ao encontro do Barbosa para provavelmente resolver a questão de avisar a mãe da Sofia.
Eu permaneci parada por mais alguns minutos. Em silêncio, no meu canto, ignorando todas as lágrimas que via o Gabriel derramando no ombro do irmão. Porque eu tinha que ser forte por ele, tinha que ser forte pelo Patrick, mas não podia esquecer que em mim crescia uma nova vida que dependia inteiramente do que eu sentia e fazia.
Um pouco mais calma, me levantei da cadeira uns minutos depois, afim de ir até o banheiro tirar um pouco do sangue da minha pele.
Fiz o que pude, lavando as mãos, o rosto, os braços e todas as partes que estavam manchadas pelo sangue.
Tive vontade de fazer xixi.
Sentei no bacio abaixando o short, junto com a calcinha e me desesperei quando eu vi uma boa quantia de sangue ali.
O sangue não estava seco, como em todas as outras partes do meu corpo. Eu não tinha me ferido. Então não tive como pensar em outra hipótese.
Algo havia acontecido com o meu bebê.
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Predestinados
RomanceNão há nada mais forte do que duas almas interligadas, predestinadas a se encontrarem.