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Três dias depois

Sofia

- Esse é o seu - a moça da recepção me entregou o papel.

Estiquei as mãos para pegar, mas estava tremendo tanto que quase deixei ele cair no chão.

Sai da hospital com a touca do casaco na cabeça, não querendo ser reconhecida por ninguém, e parei na rua paralela ao estabelecimento, onde quase não havia movimento.

Joguei a minha mochila na calçada e sentei ao lado, pegando um cigarro no bolso da mochila, acendendo antes de criar coragem pra abrir aquele papel.

As minhas mãos ainda tremiam, suavam e eu estava querendo muito chorar.

A dois dias atrás, depois de notar que a minha menstruação estava atrasada, eu fiz um teste de gravidez de farmácia, que constatou que eu estava grávida. Corri para o hospital, escondida de tudo e todos e fiz um teste de sangue, pra confirmar se isso era verdade.

Pra ajudar, eu estava começando a me livrar das lembranças do Gabriel. Ele tinha mudado de sala e a gente quase não se via mais. Aos poucos eu estava me curando da dor, quando o meu pai resolveu aparecer. Ele me ligou, mandou mensagens dizendo que queria me ver, mas eu não tive coragem de responder. Estava muito mexida com tudo o que tinha acontecido, e com medo de ser um simples fantoche nas mãos dele.

Soltei a fumaça da boca, antes de abrir o papel e constatar o que eu já desconfiava.

Grávida.

Caralho. Eu tava fodida. Grávida do cara que queria matar o meu pai. Grávida do filho do cara que o meu pai queria matar.

Grávida aos dezesseis. A minha mãe com certeza ia me matar.

Eu não queria um filho. Não sabia o que fazer e nem pra onde correr. Não sabia se ligava pro Gabriel. Se falava pra minha mãe. Não sabia se eu sumia por aí sem ter planos pra voltar.

Terminei de fumar o meu cigarro, enquanto chorava pra caralho, sentada no meio fio da rua. Ninguém passou por ali, então não tive problemas em ter que me explicar.

Eu ainda não sabia o que fazer. Mas pretendia voltar pra casa, tomar um banho e tentar colocar a cabeça no lugar.

Peguei o meu celular para ver que horas eram, e vi que tinha mais uma mensagem do meu pai.

Diferente das outras, essa me assustou muito.

"Já que você não quer falar comigo, eu vou pro Rio de Janeiro pra te ver." - ele tinha mandado a mensagem a horas atrás e eu não tinha visto.

Procurei o nome dele na lista de contatos e liguei, com as mãos mais trêmulas que antes.

Sofia: Onde você tá? - perguntei assim que ele atendeu - Pai, onde você tá?

Pitbull: Graças a Deus tu deu sinal de vida, né?

Sofia: Onde você tá, cara?

Pitbull: Indo te ver. Eu já falei.

Sofia: Você... não. Você não pode. Me escuta, você não pode vir pro Rio. Fica em São Paulo, fica onde você está! Não vem pro Rio, entendeu?

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora