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Isabela

Encarei os pacos de dinheiro encima do colchão, tentando calcular o valor que tinha ali.

A movimentação na casa era um pouco absurda. Eles estavam colocando uma geladeira, um fogão e uma televisão. Vários e vários garotos andando pra lá e pra cá com os móveis que mal cabiam naquele quadrado.

O PT estava ajudando, e eu meio que chamei ele de canto, sem os outros perceberem.

Isabela: O Barão que mandou vocês trazerem essas coisas?!

PT: É, né.

Concordei com a cabeça e ele saiu de perto de mim, indo ajudar os outros caras a colocar um guarda-roupas. Mas não ia ter jeito. Não teria espaço pra ele.

Não posso negar o sentimento de gratidão que eu tinha pela ajuda. Mas me deixava completamente apavorada saber que aquela "pequena ajuda" deveria valer mais de vinte mil reais e eu não tinha a menor condição de retribuir.

Joguei a cabeça pra cima, respirando fundo.

Isabela: O guarda-roupa não vai caber - falei rapidamente, olhando para os caras - Vai ter que devolver na loja.

Rael: É teu. Patrão mandou deixar a parada aqui, se não quiser, vende e vai ser feliz com a grana - falou, sem ligar muito pra mim.

Isabela: Você pode devolver na loja e entregar o dinheiro pro Barão?

Se fizessem isso, seria pelo menos uns cinco mil a menos na dívida.

Rael: Ta - deu de ombros - Vou precisar que tu saia desse colchão. Tem uma cama boa ali fora.

Arregalei os olhos mais uma vez. Uns três mil a mais.

Júlia: Licença - a menina pediu, colocando a cabeça pra dentro da porta. Seu olhar me procurou, e quando ela me encontrou, deu um meio sorriso, mas não parecia muito feliz - Isabela?

Isabela: Sou eu - acenei, ficando de pé.

Nunca tinha visto aquela garota na vida.

O Rael me deu um empurrãozinho, me fazendo cambalear para a frente, até que ele pudesse ter mais espaço para tirar aquele colchão e instalar a cama.

Júlia: Vem aqui fora pra conversar melhor.

Fiz o que ela pediu, e senti seu olhar me medindo, conforme eu andava.

Isabela: Você me conhece de onde? - perguntei, quando paramos do lado de fora da casa.

Júlia: Eu não conheço. Trabalho pro Barão e ele me pediu pra te ajudar hoje - ela mexeu no bolso da calça, tirando três cartões de crédito dali e fez uma careta - Ele disse que você precisava de ajuda.

Isabela: Você trabalha pro Barão? - perguntei com incredulidade.

Sem julgamentos, mas ela não tinha a menor cara de quem era envolvida no crime.

Júlia: É... sou baba do filho dele.

Abri a boca, concordando a cabeça. Fazia mais sentido.

Isabela: Eu sou tia do filho dele - ela franziu o cenho, em dúvida - O Matheus.

Júlia: Ah - ela soltou uma risadinha nervosa, parecendo aliviada - Me desculpa, Isabela. Eu estava achando que o Barão estava querendo bancar alguma Maria fuzil.

Isabela: Deus me livre - fiz careta - Eu só pedi ajuda porque a minha situação no momento é meio delicada. Mas vou pagar tudo... só não sei como.

Ela olhou por cima do meu ombro, encarando a minha nova casa.

Júlia: Vamos sair daqui - falou, puxando a minha mão. Tinha um carro parado na frente de casa, um cara dirigindo e outro cara do lado. Os dois de expressão fechada, não falaram nada. A garota me empurrou para dentro do carro, sentou do meu lado e fechou a porta - Pode tocar pro shopping.

O carro de partida, e eu respirei fundo. Tava morrendo de medo de sair daquele morro. Eu sabia que ali dentro o Pitbull não conseguiria me achar, mas fora dele, eu não conseguia ter certeza de nada.

A Júlia começou a falar sobre as instruções do Barão: comprar roupas e o que eu precisasse de utensílio básico. Ela era uma mulher legal e muito doce, mas parecia desconfiada de mim algumas vezes. Eu até achava que já estava me acostumando com isso.

Júlia: Você tá com medo? - ela perguntou pra mim, quando o carro saiu do morro.

Encarei ela, que lançou um olhar indiscreto para a minha mão, e eu percebi que estava roendo as minhas unhas.

Tirei a mão da boca e bati com a cabeça no banco de couro.

Isabela: Tô - murmurei baixinho.

O homem que estava no banco do passageiro, me encarou e deu um sorrinho, mostrando a arma na sua mão.

- Pode ficar tranquila, dona. Vai passar nada!

Júlia: Relaxa. Não sei o que aconteceu, mas vai ficar tudo bem.

Concordei com a cabeça, me apegando naquelas palavras.

Eu e a Júlia rodamos o shopping por horas, com os dois homens na nossa cola. Compramos várias roupas, porque eu tinha fugido somente com a roupa do corpo, e itens que eu precisaria, como sapato, perfume, shampoo.

Óbvio, não extrapolei o meu limite. Peguei somente o que precisava pra me manter viva, e a Júlia me deu a maior ajuda. Tinha sido muito maneiro dividir esse momento com ela.

Por fim, paramos na praça de alimentação do shopping para comermos algo. Os dois seguranças ficaram em outra mesa, dando mais liberdade pra gente.

Júlia: Do que você tá fugindo? - ela perguntou.

Isabela: Do meu passado - resmunguei, sem olhar pra ela. Fiquei encarando o cachorro quente na minha frente e dei uma bela mordida - Não quero falar disso.

Júlia: De boa - ela esticou o copo de coca-cola na minha direção, para fazer um brinde - Vai ser um bom recomeço.

Lhe lancei um sorriso amigável, encostando o meu copo de plástico no seu. Aquela menina tinha o dom de encantar qualquer pessoa, e tinha me confortado bastante estar com ela. Talvez até poderíamos ser amigas.

Mas todo o meu sorriso e minha alegria sumiram completamente quando eu vi, por cima do ombro da minha nova amiga, o Pitbull sentado em uma mesa no canto do estabelecimento. Ele sorriu pra mim, esticando o copo na minha direção, exatamente como a Júlia tinha feito.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora