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Lobo

Foi só ouvir a voz do meu pai chamando o meu nome e do meu irmão, que eu soube que o bagulho ia ficar doido. Não tinha avisado ele que ia sair, isso já era motivo de sobra pra ele ficar putão. Mas achei que ele não fosse voltar pra casa a tempo de dar a nossa falta, pô. Eu tava ligado que ele ia ficar mais puto com o fato de nós ter roubado a moto dele.

O Matheus me olhou nervoso. A missão de domar a fera geralmente era minha mermo.

A Isa abriu a porta, e o portão, mas o meu pai continuou parado lá do lado de fora. Então eu e o Matheus saímos da sala, indo pra perto do coroa.

O Barbosa tava logo atrás, e negou com a cabeça, me encarando. O mano era faixa, me instruía no bagulho, porque tava ligado que depois do meu pai, quem ia assumir o alemão era eu. Me amarrava pra caralho nessa fita, e sabia que nem tudo seria curtição, então tentava levar a parada a sério.

Barão: Oi, seus arrombado - ele falou, ainda com a cara fechada, braços cruzados e respirando fundo.

Falcão: Oi, pai.

Barão: Pai... eu acho engraçado ouvir vocês me chamando assim, pô, achei que fossem filhos de chocadeira - debochou. Ele perdeu a paciência e avançou um passo na nossa direção - Vão tomar no cu, os dois. Cês tão achando que o pai de vocês é o que? O papa? Não tem ninguém querendo a cabeça de vocês, né? Tá tudo mec, na tranquilidade. Podem sair pra pista na maior segurança, sem avisar, com a porra da minha moto, que não vai dar caô nenhum!

Lobo: Tô ligado que tu tá puto, eu entendo... - ele me cortou.

Barão: Eu mandei tu falar alguma parada, Gabriel? - eu me calei, negando com a cabeça - O cara tenta ser maneiro com vocês dois e só se fode. Quem que foi o dono dessa ideia de merda?

A Isabela pigarreou, aparecendo bem do meu lado.

Isabela: Oi, Barão - o meu pai franziu o cenho, e encarou ela de cima a baixo, sem perder tempo. Mas a Isa tava todo coberta por roupa larga, nem tinha o que ele secar - A ideia foi minha. Eu estava com muita saudade, voltei pro Rio a pouco tempo, pedi pro Matheus vir me ver. Ele pediu a ajuda do Gabriel, e os dois vieram.

Barão: Satisfação, com todo respeito, maior cara que tu não dá sinal de vida. Ouvi o meu moleque reclamando por uma pá de hora que tu sumiu no mundo, e aí quando aparece é pra ajudar eles a fazer merda? - ele descruzou os braços, passando as mãos na frente do rosto - Tu nem precisava ter voltado, se fosse pra isso.

Isabela: Tô ligada, por isso insisti tanto pro Matheus vir até aqui.

O meu pai sorriu de lado, negando com a cabeça, encarando o Matheus e eu.

Barão: Valeu a tentativa de livrar o cu desses dois, Isabela. Mas eu tô bem ligado que eles caçam confusão sozinhos, não precisam da tua ajuda pra isso - ela ia falar de novo, pra insistir no assunto, mas ele logo voltou a falar - Que porra de homem, que eu tô ensinando vocês a ser, que se esconde atrás de mulher pra se defender?

Lobo: Nós vai poder falar agora? - perguntei.

Barão: Só abre a boca se for pra soltar verdade.

Falcão: Fui eu - admitiu - Meio que foi nós dois. Eu tava querendo ver a Isa, o Gabriel me ajudou com as paradas e trouxe a gente pra cá, se ligou?

Barão: Me liguei - ele concordou com a cabeça, e meteu maior chutão não minha perna, e um tapa na orelha do Matheus. Nós dois reclamou pra caralho, mas tava ligado que com o Barão nem tinha papo, era ficar quieto ou ficar quieto - Dá próxima vez, vocês avisam pra alguém, antes de sair assim. Os alemão tão com a cara de vocês marcada, tudo pronto pra me atingir, vocês tão achando que é brincadeira, né? Posso até sair como chato, e o caralho, mas eu não ligo, porra. Prefiro morrer falando esses bagulho pros dois, do que encontrar um de vocês na vala!

Falcão: A gente tá ligado que vacilou, foi mal, pai.

Lobo: É, pô. Pensa que nós tá bem aqui. Não era nada demais.

Isabela: Eu até convidaria todos vocês pra entrar. Mas a casa tá uma bagunça, e eu tenho várias coisas pra resolver sobre a mudança. A gente pode marcar outro dia, não pode? - ela perguntou, olhando direto pro Matheus.

Ele tava tristão, mas concordou.

Falcão: Tu vai dar um jeito de me chamar?

Isabela: Vem depois de amanhã. Mais ou menos nesse horário - ela me olhou - Vem também, Gabi.

Eu concordei. A Isa abraçou o meu irmão por um tempo, e depois veio me abraçar também. Nós se despediu, meu pai mandou a gente ir no carro com ele, e o Barbosa levar a moto.

A volta pro morro foi só ouvindo sermão, quando a gente chegou em casa a minha cabeça já tava doendo pra caralho.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora