BarãoBarão: O que tu quer me falar? - perguntei, ao notar que ele não tava parando quieto.
O Barbosa deu uma risadinha. Nós se conhecia bem pra caralho.
Davi: Papai! - ele gritou, correndo pra perto da gente - Cadê minha mãe?
Barão: Tá lá dentro - apontei com a cabeça, pra sala onde ela e a Júlia tinham entrado - Quer ir? Pode ir.
Ele concordou e saiu animadão. O Gabriel chegou perto de nós dois, e também se encostou no muro.
Lobo: Tô atrapalhando? - perguntou, quando viu que o Barbosa estava quieto.
Barbosa: Ta não, menor. Fica tranquilão aí, só preciso dar um papo pro teu pai.
Lobo: Posso sair se vocês quiserem.
Barão: Aquieta o teu cu - mandei serinho pra ele e depois olhei pro Barbosa - Tô começando a ficar nervoso, mano.
Barbosa: Tô só tentando achar uma melhor forma de começar a falar... calma - pediu e eu respirei fundo com todo aquele drama - Por que tu entrou na caminhada?
Vi o meu filho olhando pra ele com uma cara estranha. Todo mundo sabia porque eu tinha entrado.
Barão: Por causa do Gabriel. Por causa dos meus filhos.
Barbosa: Isso, pô. O motivo porque tu entrou, é o motivo porque eu quero sair. Tá se ligando?
Desviei o olhar, encarnando o chão. Não tava preparado pra ouvir isso. O Barbosa era o meu faixa, o meu de confiança, sem ele, eu tava fodido.
Mas eu sorri, sem mostrar os dentes e assenti. Tentando parecer o mais compreensível possível, porque por dentro eu tava com um medo do caralho.
Barão: Segue o teu coração, irmão. Se eu tivesse chance, também não escolheria essa vida pra mim.
Barbosa: Envolve muita parada, Barão. Envolve a minha mulher, a minha filha. Pô, quero que a minha filha tenha orgulho de mim, independente de tudo eu quero que ela saiba que eu vou estar presente, que não vou sair de casa correndo risco de levar um tiro, ou de ser preso. Eu amo essa adrenalina, mas agora eu me preocupo. Hoje eu tenho um motivo pra voltar - fiquei quieto, deixando ele desabafar - Eu quero que a Ju fique de boa com os pais dela. Quero ter uma relação pelo menos maneira com eles.
Barão: Tô te entendendo.
Barbosa: Eu sou grato pra caralho por toda a oportunidade que tu me deu nessa vida. Por toda a confiança, meu mano. E se tu ficar puto porque eu tô saindo da caminhada, vai ser foda, eu vou ficar mal, mas eu não vou voltar atrás.
Barão: Ta chapando, mano? Não vou ficar puto porque tu tá atrás de ser feliz e de fazer o melhor pra tua família. Toda a oportunidade que eu te dei nessa porra foi porque tu fez por merecer. Tu se mostrou capaz pra caralho! Amo tu, meu irmão. Amo tua família e vou cair na bala por vocês sempre - apertei o ombro dele - Eu só tô sem saber o que fazer agora. Nunca nem pensei que fosse ter que seguir sem tu.
Barbosa: Mas tu me entende?
Barão: Claro que entendo. Tu me entende quando eu não tinha pra onde correr e tive que dar o sangue no crime por mim e pelo meu filho, não entende? - ele concordou - O sentimento é o mesmo.
O Gabriel pigarreou, chamando a nossa atenção.
Lobo: Mas eu tô aqui. Tá mais do que na hora de retribuir por tudo o que tu fez por nós dois lá atrás, pai.
Neguei com a cabeça.
Barão: Cala a boca.
Eu sabia da vontade do meu filho de entrar pro crime. Via vocação nele. Mas eu ficava transtornado de medo, mesmo sabendo que isso era inevitável e que se ele realmente quisesse, ele iria entrar de qualquer forma.
Da mesma maneira que eu me preocupava com o Gabriel, eu me preocupava com o Patrick.
A diferença era que eu ainda tinha um bom tempo até fazer o Patrick mudar de ideia, mas o Gabriel já era homem, quase adulto, e continuava com o mesmo pensamento.
Lobo: Vai ficar fugindo desse assunto até quando, pai? Tu sabe que eu vou entrar.
Barão: Tu vai entrar se eu quiser.
Lobo: Eu sou a pessoa que tu mais pode confiar depois que o Barbosa sair da parada. Eu nunca vou te trair, tu tá ligado nisso.
Barão: Eu não quero te colocar em risco. Não quero acordar um dia sabendo que tu tá baleado. Não quero entrar em briga com os cana, sabendo que tu vai estar na trocação também.
Lobo: Muita atividade, papo limpo. Me ensina e tu não vai ter preocupação nenhuma, pô.
Barbosa: Eu ensino. Piso fora do crime no dia que a minha filha sair da minha mulher. Antes disso, eu vou cumprir o meu propósito com os irmão. Eu ensino o Lobo. Tu batiza ele no crime. Ele assume o meu lugar.
Eu neguei com a cabeça.
Barão: A Isabela não vai gostar disso.
Lobo: Ela gostando ou não, é o que eu quero. É o que eu vou fazer. Tenho uma dívida fodida com o crime, pai. Se não fosse por isso, nós nem sabe se ia estar vivo hoje. Eu vou fazer o mesmo que tu fez lá atrás. Vou derramar o meu sangue onde precisar!
Tava foda. O moleque me falando aquelas paradas com toda convicção do mundo, fazia lembrar o meu começo. Ou ia, ou ia. Não tinha outra escolha. O meu filho podia ser o que quisesse da vida dele, mas ele queria entrar pra caminhada.
Barão: Tu não tem dívida nenhuma com o crime, eu pago o preço, Gabriel. Fui eu quem escolhi.
Lobo: Tu não teve escolha. O preço é meio a meio. Tu já pagou. Confia no teu menor e me deixa pagar a minha parte?
Eu cruzei os braços, respirando fundo, sem desviar o olhar do dele.
Barão: Filho...
Lobo: Foda-se. Para de fugir, pai. Eu sou teu cria, nós não corre da luta!
Barão: Tu que vai contar pra Isabela. Eu não vou brincar com fogo. Nós pode até não correr da luta, mas dessa aí eu tô correndo.
Ele riu e concordou.
Lobo: Tenho peito de aço. Fica de boa.
Sensação estranha. Mistura de orgulho e medo. O Gabriel ia oficialmente entrar pro crime, mas eu tava ligado que ia triplicar a proteção encima dele. Não ia deixar que ninguém machucasse a minha cria.
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Predestinados
RomanceNão há nada mais forte do que duas almas interligadas, predestinadas a se encontrarem.