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PT

Ouvi ameaças por dias.

Minha família ia morrer. Meu pai ia perder o morro. Eles tirariam a Aurora da minha mãe no momento em que ela nascesse, se eu não me entregasse.

Morrer era uma opção bem mais fácil, mas eu nunca gostei de desistir.

Arquitetei o plano perfeito na minha cabeça.

Minha mãe ganharia a Aurora, e no momento de maior felicidade da nossa família, ninguém ia ligar pra mim. Seria a hora perfeita pra matar o Rael, jogar o corpo dele perto de alguma delegacia ou hospital, com o meu documento.

Eu "morreria". O TCP não me procuraria e não teria porque se vingar da minha família. E até que tudo estivesse de volta ao normal, eu sairia do país ou do estado, por um tempo.

Mas aí veio a notícia que o meu pai tava invadindo o morro do TCP, e a aí sim eles teriam motivos pra se vingar de qualquer forma. Mas quando isso rolou, eu já estava longe o suficiente de casa.

Rio Grande do Sul foi o meu destino. Fim do mapa, ninguém ia me reconhecer ali.

Assim que pisei no estado, liguei pra Isabela. Ela ia estar surtando, como eu imaginei. E logo depois me desfiz do celular e de qualquer rastro que pudesse ter ficado pra trás.

Eu não tinha dinheiro pra sumir e me manter por um tempo. Tive que pegar um pouco de grana do meu pai, e mesmo assim sabia que não duraria pra sempre.

Tinha uma parada em mente. Eu ia me meter em um morro pequeno. Ia contar a minha história pro chefe do tráfico da região, mas precisava ser alguma comunidade dominada pelo CV. Ninguém ia ser doido de negar ajuda pra mim, depois que eu falasse o nome do meu pai no bagulho.

Quem me estendesse a mão, tava ligado de que teria a gratidão eterna do Barão. E num morro pequeno, isso vale muito.

Fui parar na cidade de Pelotas. Morro do Chapadão. E logo os mano me levaram pras ideia.

Trombei direto com o chefe. Tal de Marcinho. Expliquei toda a minha história pro mano, e é lógico que ele me colocou na proteção dele. Me levou pra casa dele, disse que eu podia ficar o tempo que precisasse, e que o morro trabalharia ali da mesma forma que fazia no Alemão.

Eu pedi sigilo. Falei que ninguém podia saber da minha história e nem quem eu era.

E aí veio o novo vulgo: Foguinho.

Eu curti. Minha mãe dizia que eu tinha sangue quente, e o apelido combinava um pouco. Mesmo que eu ainda gostasse pra caralho de "PT".

O Patrick tinha morrido. Ele não voltaria tão cedo.

Me acomodei na casa do Marcinho, em um quarto que ele tinha ajeitado pra mim. O mano me apresentou pra família dele.

Ele tinha uma filha chamada Sophia, de onze anos, mó pivetinha da hora, atentada igual eu. Não curti muito porque falar o nome dela me lembrava a Sofia do Gabriel, lembrava do meu irmão, lembrava do Pitbull e lembrava da minha família.

O Marcinho tinha uma fiel chamada Sheila. Dona da hora, mas toda desconfiada da minha aparição. Já fui logo avisando que eu não era nenhum filho perdido do marido dela. Eu tinha pai e mãe. Só que não podia ficar perto deles agora.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora