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Isabela

A minha segunda noite longe do inferno foi um pouco melhor. Eu consegui dormir tranquilamente, pelo menos.

Ainda era estranho, porque a minha cabeça não parava de pensar nem por um segundo, nos diversos caminhos em que a minha vida poderia seguir dali pra frente. Eu estava me sentindo bem ansiosa, mas ainda não me sentia livre.

Talvez porque mesmo me livrando das amarras do Pitbull, eu tinha me prendido ao Barão. E no fim das contas, eu nem sabia qual deles era o pior.

É claro, não posso comparar o Pitbull e as coisas horríveis que ele fez por mim, com o pouco que eu sabia sobre o Barão. Mas não era tão difícil de pensar que se ele chegou onde chegou, é porque não tinha saído na rua distribuindo flores.

Quando o dia amanheceu, eu resolvi dar uma limpada na casa onde eu estava. Depois de tornar o local um pouco mais habitável, fiz uma nota mental das coisinhas que eu podia e deveria comprar para facilitar a minha vida por ali.

Mas bom... antes de qualquer coisa eu precisava de grana!

Ainda com a roupa do corpo de quando eu tinha fugido, sai da casinha em direção à rua. Meu plano era comprar algo pra comer e depois tentar arrumar algum lugar onde estivessem precisando de trabalho, ali no morro mesmo. Não podia ficar dando bobeira por aí.

PT: A dona vai pra onde?

Cruzei os braços na altura do peito, olhando pro menininho que estava sentado na estrada, fumando um baseado. Não devia ter mais de quatorze anos.

Isabela: Comprar algo pra comer e procurar um emprego por aqui.

Ele concordou com a cabeça e ficou de pé, jogando a ponta do cigarro no chão.

PT: Ta.

Pela cara que ele fez, notei que não ficou muito feliz com a minha resposta.

Isabela: Você precisa mesmo me seguir pra todos os lados? - eu perguntei, e ele concordou com a cabeça e deu de ombros quando eu pendi a minha cabeça para o lado, demonstrando interesse no que ele ia falar.

O garoto pareceu desconfortável, então desviou o olhar, encarando o chão, depois coçou a nuca e voltou a me encarar.

PT: Tô fazendo meu trabalho, pô.

Ele avançou um passo na minha direção, mas ao ver que eu continuei parada no meu lugar, ele recuou.

Isabela: Onde estão os seus pais?

Ouvi uma risadinha tão sinistra, que nem parecia ter saído da boca do menino.

PT: Sou cria da rua, moça - estreitei os olhos, percebendo que ele tinha se poupado de me dar mais detalhes - Bora logo onde tu quer ir. Eu vou atrás no meu canto, tu nem vai perceber a minha presença.

Concordei com a cabeça e comecei a andar na frente do menino. Ouvia seus passos logo atrás de mim, mas o que mais me deixava incomodada eram os olhares que as pessoas encaravam a ele, e logo depois a minha pessoa, como se eu estivesse suja, como se pudessem ler a minha alma.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora