FalcãoFazia uns dois dias que eu soube, através das redes sociais do marido da minha tia, que ela tinha voltado pro RJ. Fiquei boladão por ela não ter falado nada comigo, ela deveria me avisar quando visse pra cá e nós marcar de se ver.
A minha tia era o amor da minha vida, a única parte da minha família materna que tinha sobrado era ela. Minha mãe morreu quando eu não tinha nem um ano de idade, então eu nem me lembrava dela, e tudo o que eu sabia sobre ela era que tinha desejado muito a minha gravidez, e aproveitou cada segundo do meu lado, enquanto teve tempo... antes do câncer arrastar ela dessa vida.
Meu pai não falava muito sobre a relação dos dois, só dizia que a minha mãe era maneira, e que ele gostava dela. Eu tava ligado que quando ele dizia gostar dela, não era nem num sentido romântico, ele só curtia. Eles não foram casados, namorados, nem qualquer outra parada. Na real, meu pai nunca tinha namorado na vida dele. Tanto eu, quanto os meus irmãos, éramos frutos de momentos.
Depois que a coroa morreu, meu pai me pegou pra criar sozinho. Mas eu continuava convivendo com a minha avó e a minha tia. Até que a uns anos atrás, perdi minha vó pra mesma doença que levou a minha mãe. Foi a maior dor da minha vida, e se pá eu nem tinha me recuperado disso ainda.
Eu só queria ficar com a Isabela, minha tia, naquela época. Mas até ela me deixou, pô. O marido dela, o Manoel, mais conhecido como Pitbull, era lutador e ganhou uma oportunidade de lutar lá em São Paulo, com patrocínio. Ele foi, arrastou a Isa junto. No fundo eu sempre gostei de me iludir, achando que ela não queria nada daquilo, e foi porque não tinha pra onde correr. Mas era só ideia errada na minha mente mesmo, porque depois disso, nossa relação foi só ladeira a baixo.
Todas as vezes que eu via a Isabela, era porque eu pegava ela de surpresa, em algum lugar que eu sabia que ela estaria. Ou alguma parada desse tipo, porque nos últimos meses, nem as minhas mensagens ela respondia mais.
Isso me deixava bem mal, e o Gabriel, meu irmão, sempre tentava me ajudar com os bagulho. Eu já tinha largado a Isabela de mão, mas contei pra ele que tinha descoberto que ela estava no Rio e ele pilhou a minha mente pra nós roubar a moto do pai e ir até a casa onde descobrimos que ela estava.
Lobo: Ta nervoso, pô? - ele perguntou, descendo da moto.
Falcão: Papo de três meses que eu não vejo ela, né. Tô ficando sem saco de tanto correr atrás. Juro pra ti, Gabriel. Se eu sair daqui puto, eu não volto atrás da Isabela nunca mais na minha vida!
Ele colocou a mão no meu ombro, e eu respirei fundo. Meu irmão era a cópia do meu pai, tanto no jeito, quanto na fisionomia. Graças a Deus eu tinha puxado a família da minha mãe, porque eles eram feios pra caralho.
Lobo: Fica sussa. Vai dar bom!
O Gabriel apertou a campainha da casa e eu já tava querendo desistir.
A Isa apareceu na janela uns segundos depois, e quando viu que era eu, ela foi correndo abrir a porta e o portão, pra gente entrar. Eu tava com a maior sensação ruim dentro do peito, nem conseguia sorrir vendo ela.
A minha tia abriu o portão, e me puxou pra dentro, abraçando o meu corpo com força. Eu ouvi ela chorando baixinho, e só aí eu tomei coragem pra abraçar ela de volta. O Gabriel me olhava, com o cenho franzido, com a maior cara de dúvida. Ele não tava entendendo nada, nem eu tava.
Falcão: Oi Isa - tentei me afastar dela, dando um beijo em seu rosto, mas ela me abraçou com mais força, não deixando eu me afastar - Para, deixa eu te olhar.
Ela relutou um pouco, mas se afastou, secando as lágrimas na camiseta de manga longa. Nem tava frio pra isso tudo.
Isabela: Oi, amor - ela se esticou na ponta do pé, e me deu um beijo na bochecha, e depois foi abraçar o Gabriel - Oi, Gabi. Tá bem?
Lobo: E aí, Isa. Tudo certo, e tu? Suave?
Vi ela concordando com a cabeça, e depois puxou nós dois pra entrar dentro da casa. Tinha várias caixas de papelão espalhadas pela sala. Eu me sentei no sofá, observando tudo aquilo.
Falcão: Tá de mudança? - perguntei, com a voz alta, porque ela tinha ido na cozinha pegar um café pra nós - Oficialmente de volta pro Rio?
Isabela: Uhum - murmurou sem a menor animação na voz, voltando pra sala com duas xícaras na mão.
O Gabriel pegou uma, eu peguei a outra. E ela sentou do meu lado, abraçando o meu pescoço, e dando um beijo no meu ombro, com um sorrisinho sincero na boca.
Resolvi parar de cena, e respirei fundo, olhando bolado pra ela.
Falcão: Por que tu não falou que voltou? Por que não responde as minhas mensagens?
Isabela: Eu perdi o meu celular. Me contem de vocês, como está a escola? - desconversou.
O meu irmão sacou a parada, e negou com a cabeça, colocando a xícara de café no chão.
Eu rolei os olhos e bufei.
Falcão: Não tem dinheiro pra comprar um celular novo?
Isabela: Nós temos outras prioridades, Matheus - ela falou baixinho, desviando o olhar de mim, encarando o tapete no chão - Para de ser implicante e conserva comigo. Me conta de você. Quero saber das novidades. Já estão namorando?
Lobo: Isa - ele chamou - O que que tá pegando?
Falcão: Eu não consigo fingir que não tem nada acontecendo, tu tá toda estranha. Tá sumida, não liga pra mim, não responde as minhas mensagens.
Ela respirou fundo.
Isabela: Não to passando por uns momentos muito legais na minha vida. O Pitbull perdeu o patrocínio, por isso voltamos pro Rio, então tá tudo meio bagunçado ainda, sabe?
Pitbull. Ela tava se referindo ao próprio namorado com o nome que ele usava nas lutas. Bizarro!
Falcão: Vou arrumar um celular pra ti. Precisa de mais o que? Nós da um jeito.
Lobo: É, Isa. Tu tá ligada que pode contar com nós.
Ela sorriu, agradecendo, mas negou com a cabeça.
Isabela: Não quero que vocês se preocupem com os meus problemas, tá?
Eu ia responder ainda, mas uma buzina começou a tocar, na frente da casa, e a Isa já ficou toda tensa e levantou correndo pra ir ver quem era, pela janela. Ela respirou fundo, parecendo relaxar um pouco.
Lobo: Quem é?
Tava tudo suave, até nós ouvir a voz do Barão.
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Predestinados
RomanceNão há nada mais forte do que duas almas interligadas, predestinadas a se encontrarem.