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Lobo

Eu tinha pegado a moto do meu pai escondido. Mas depois de todo o caô, pensei que esse fosse o menor dos nossos problemas.

Não ia ser um filho da puta fodido e deixar a Sofia voltar pra casa sozinha de madrugada, então chamei ela antes de ver meus pais saindo do camarote.

O Matheus ainda me chamou, Patrick tentou me segurar, mas eu fingi que não vi nem um e nem outro e sai em direção a saída do baile.

Tava puto, indignado e cuspindo fogo.

Sabia que a Sofia tava atrás de mim, porque as vezes eu parei de andar e olhei pra trás, pra ver se ela não tinha se perdido. Ela nem me olhava, pô, maior caô.

Cheguei na frente da moto e fiquei parado, olhando qualquer merda no celular, só pra distrair, enquanto a Sofia não chegava. Ela deu uma corridinha até parar na minha frente, eu estiquei o capacete pra ela, coloquei o meu e subi na moto.

Diferente das outras vezes, eu não ajudei ela a subir. A Sofia não encostou em mim, e deu um trabalho pra conseguir subir sozinha.

Cheguei na casa dela uns quinze minutos depois, a mãe dela apareceu na janela da casa bem na hora que eu estacionei a moto na frente. Ela me deu um tchauzinho e eu retribui, logo depois, sumiu do meu campo de vista.

A Sofia desceu da moto, e esticou o capacete pra mim. Eu nem tirei o meu. Mas quando ela levantou um pouco do olhar, eu percebi que tinha chorado.

A maquiagem estava um pouco borrada, os olhos vermelhos e o nariz também. O rosto estava molhado.

Eu quase chorei também. Tava mó apaixonada por aquela filha de um arrombado do caralho.

Lobo: Não chora, Sofia.

Sofia: Eu não tô chorando - ela falou, limpando o rosto.

Eu suspirei, tirando o meu capacete, mas continuei encima da moto.

Lobo: Por que tu não me falou, pô? Pra que mentir do teu pai?

Sofia: Eu não menti, Gabriel! O meu pai é uma parte ocultada da minha vida. Não significa nada pra mim, ele não quis significar nada pra mim, não tenho que ficar falando dele pra ninguém porque dói, porra! - ela apontou o dedo pra mim - Você não sabe o que é ser rejeitado, né? Você tem o seu pai perfeito, sua mãe perfeita, seus irmãos perfeitos, família linda e feliz!

Eu desci da moto rapidinho e bati com a minha mão no dedo dela, mandando pra longe.

Lobo: Não vou deixar tu falar da minha família sem saber de merda nenhuma.

Sofia: Então não fala da minha! Eu me humilhei pra caralho pra poder fazer parte da vida do meu pai, e sempre tive a noção do quanto ele fez mal pra minha mãe quando eles eram casados. Mesmo assim eu fui atrás, eu quis ir atrás, por causa da Sofia de cinco anos, que sempre chorava quando a mãe ia na apresentação do dia dos pais na escola, e mesmo indo atrás, tomando a iniciativa, eu fui rejeitada - ela tinha voltado a chorar, e secou as lágrimas mais uma vez - Então não me julga por eu ter escondido isso de você. Eu esconderia de qualquer outro namorado que tivesse.

Lobo: Teu pai fez mal pra caralho pra minha mãe, pô. Se o meu pai ver ele, vai comer na porrada e se eu ver ele, eu faço a mesma parada! - falei bem sério - Como que nós fica junto? Como que nós vai ficar junto contigo sabendo que se eu meter a mão no teu pai, o meu réu primário vai pro inferno junto com ele? Como que nós vai ficar junto, comigo sabendo que o teu pai tentou contra a minha família mais de uma vez? Que ele bateu na Isabela até quase matar ela?

Ela deu de ombros, segurando o choro.

Sofia: Eu acho que a resposta é uma só.

Lobo: Qual?

Sofia: Não tem como, né? - ouvi um soluço dela e virei a cara pro lado - Não tem como a gente ficar junto.

Concordei, querendo me mandar dali na hora em que a minha visão começou a arder.

Lobo: É isso. Ponto final pra nossa história - falei, com a voz mais rouca do que o normal.

Tava doendo pra caralho, mas realmente não tinha como continuar.

Ela assentiu e se aproximou, tirando o anel que eu tinha dado pra ela, antes de nós ir pro baile.

Sofia: Você sempre vai ser o amor da minha vida - olhei pro anel, na mão dela, sem coragem de olhar pro rosto - Você sempre vai ser o primeiro e duvido muito que eu sinta por outro o mesmo que sinto por você.

Eu peguei o anel da mão dela, e quando vi que ela ia virar as costas, segurei a sua mão, puxando o corpo dela pra ficar perto do meu. Segurei o seu rosto entre as minhas mãos, secando as lágrimas que ainda caiam.

Lobo: Eu te amo, mas eu não posso. Não vou conseguir se a minha família estiver em risco - ela assentiu e eu peguei o anel, colocando de volta no dedo dela - Não é porque nós não tá junto, que eu não te amo, ou que eu não vou cuidar de ti. Tu ainda é minha pequeninha.

Ela soltou uma risada triste, e apoiou a cabeça no meu ombro.

Sofia: Quer dormir comigo hoje? - perguntou, sem nem me olhar - Só hoje?

Tive que ser forte pra resistir. Mas eu sabia que se aquele não fosse o nosso ponto final, depois seria ainda pior.

Lobo: Vou pra casa. Não vou conseguir ir embora depois.

Ela concordou e se afastou, brincando com o anel no dedo.

A Sofia simplesmente virou de costas e foi embora, me dando um tchauzinho, mas eu não consegui retribuir.

Depois que ela entrou pela porta de casa, eu subi na moto, e vazei rumo à praia mais próxima que tinha da casa dela.

Não estava em condições de voltar pra minha casa, e eu só queria ficar sozinho pra tentar colocar a cabeça no lugar.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora