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Barão

Era como se houvesse duas pessoas diferentes dentro de mim. Uma delas lutando pela razão e outra querendo dar ouvidos a tudo o que a Júlia tinha me dito.

Eu preciso confessar, que lá no fundo, eu acreditava pra caralho nesse papo de que a Isabela não tinha nada a ver com essa história do Pitbull ser envolvido com o TCP. Mas por outro lado, vacilação não tinha perdão comigo, com a minha família, e com a minha quebrada.

Em quanto eu dirigia, por vezes eu quis desistir e voltar atrás. Deixar pra lá essa ideia maluca que a Júlia tinha colocado na minha cabeça, mas então eu orei durante todo o caminho, para que Deus me mostrasse o que eu deveria fazer, e quando me dei conta, já havia chegado ao meu destino, na frente do hospital.

Vesti a jaqueta preta e coloquei o boné na cabeça, para não ser reconhecido.

Barão: Oi. Preciso ver uma pessoa - falei, assim que cheguei na recepção.

- Qual é o nome do paciente?

Barão: Isabela. Ela foi trazida pra cá tem pouco tempo - olhei para a televisão, vendo que o noticiário se repetia. Apontei com a cabeça, e a mulher me encarou surpresa - Em qual quarto eu encontro?

- Você conhece a moça?

Barão: Sim.

- Ótimo, então o senhor consegue fazer o reconhecimento. Ela continua desacordada e foi encontrada sem nenhum documento - eu continuei em silêncio - O senhor é da família?

Barão: Sou.

Ela concordou.

- Vou avisar ao doutor.

Demorou uns dez minutos pra ela vir me chamar de novo. Fiquei de canto, pra nem ser notado. Depois me encaminharam para uma sala. O médico estava na porta, e a Isabela estava deitada na cama. Eu estava longe, então não conseguia olhar ela tão bem.

- Boa tarde. O senhor é...?

Barão: Bruno - menti - Sou primo da Isabela.

- O senhor sabe o que houve?

Barão: Não. Ela saiu pra ir no shopping com uma amiga. Só isso que eu sei.

- A polícia está investigando como tentativa de assalto. Não foi encontrado nenhum pertence com a sua prima.

Concordei com a cabeça, e me aproximei dela, podendo ver melhor o caos.

A boca cortada. O olho roxo. O corte no supercílio. Os braços com acesso aos remédios. Um dos dedos estava com uma gesso e o restante das mãos esfoladas, provavelmente tinha arrastado no chão. Ela estava coberta por um lençol fino, então não consegui ver o restante dos hematomas pelo corpo. Mas aquilo já foi o suficientemente me fazer engolir seco, encarando o doutor.

Barão: Tem mais?

- Infelizmente - suspirou, com pesar na voz - Foram duas costelas fraturadas. As pernas estão com ferimentos também, mas não são graves. Acredito que ela ainda continua no hospital por uma semana, até que esteja bem recuperada. Não foi necessário fazer cirurgia, com o auxílio dos remédios e do tempo, os ossos vão calcificar e ela ficará bem.

Estiquei minha mão, encostando na cabeça dela, em busca de algum ferimento naquela região também.

Barão: E a cabeça? Não é normal ficar desacordada por tanto tempo, né?

- Não há nenhum trauma na cabeça. Nós fizemos o exames e essa hipótese foi descartada. A sua prima está dormindo por conta dos efeitos dos remédios para o alívio da dor.

Concordei, voltando a encarar a garota.

Ouvi o médico pedindo licença e dizendo que qualquer coisa eu podia chamar.

Minha cabeça doía pra caralho. A Isabela tava toda quebrada. O Matheus ia me matar se soubesse desse caô, porque eu prometi que ia cuidar da garota. Eu não podia ficar dando bobeira em hospital, principalmente envolvendo caso de polícia.

Foi pensando nisso que eu liguei pro Barbosa, mandei ele arrumar uma casa descente, uma enfermeira e um médico, o mais rápido possível. Ele já tava ligado no que tava acontecendo. Não deu pitaco e fez o que eu mandei.

Chamei o médico do hospital e só depois de eu render uns cem mil reais, ele assinou o atestado de liberação da Isabela, antes da troca de turno. Molhei a mão do pessoal da ambulância, e eles levaram a garota de volta pro meu morro, até a casa onde o Barbosa tinha arrumado e a enfermeira e o médico já nós esperavam.

A casa tinha dois quartos e era mil vezes maior do que o moquifo onde ela estava morando antes. Mandei os menor levarem e arrumarem tudo o que tinha na outra casa, assim como as coisas que ela tinha comprado no shopping, enquanto o médico refazia todo o diagnóstico da Isabela.

Enquanto queimava um cigarro, mandei mensagem pro Gabriel e pro Matheus, dizendo que eu não iria pra casa, porque estava resolvendo uns bagulhos, mas que eles deveriam ficar tranquilos. Pedi pra Júlia trazer o Davi pra mim, porque eu sabia que os dois cabeções iam sair pra farra.

Quando ela chegou, com o caçula nos braços, a movimentação já tinha diminuído. O médico já tinha ido embora, e a enfermeira estava no quarto com a Isabela. Eu não tinha ido até la. Não tinha visto ela desde que saímos do hospital.

A Júlia me entregou o Davi, que dormia enroscado nos cobertores e eu dei um cheiro na cabeça dele. Era só disso que eu precisava pra me acalmar.

Júlia: Ela tá muito machucada? - perguntou.

Eu concordei com a cabeça, sem olhar pra ela.

Barão: Ninguém vai saber disso, tá bom?!

Júlia: Eu não vou falar nada - prometeu - Você quer que eu fique com o Davi?

Barão: Não. Eu vou dormir com o ferinha. Só busca ele amanhã pra mim?

Júlia: Claro. Qualquer coisa você me chama, por favor.

Barão: Acalma teu homem. Ele não tem culpa desse caô - pedi - O nosso erro foi não ter acreditado na palavra da garota.

Júlia: É, eu sei. Foi errado mesmo. Na hora certa você e o Barbosa conversam sobre isso.

Barão: É isso. Deixa eu entrar, pro pivete sair do vento.

Júlia: Boa noite, Barão.

Acenei com a cabeça e voltei pro quarto de hóspedes, onde tinha uma cama de solteiro. A enfermeira ia ficar no quarto com a Isabela, então eu aproveitei pra me encolher naquela cama junto com o Davi, e tentar descansar um pouco.

Mas a real é que eu não preguei os olhos a noite inteira. E só criei coragem pra levantar da cama e deixar o meu filho sozinho, quando a enfermeira veio me avisar que ela tinha acordado.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora