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Barão

Enquanto o bolo não ficava pronto, eu me deitei pra dormir um pouco no sofá da casa da Isabela. Ela ficou brincando com o Davi na rua em frente a casa, eu não me importei muito, porque tinha uns menor fazendo a proteção dali também.

Quando acordei, o Matheus, o Gabriel, o Patrick e o Davi estavam devorando o bolo na cozinha. Percebi, assim que olhei no celular, que já tinha passado uma hora que eu tinha dormido.

Barão: Porra, se vocês não tiverem deixado nada pra mim, eu vou ficar puto - já cheguei brigando. Mas fiquei mais de boa quando vi que eles ainda não tinham devorado tudo - Que bom que vocês querem ficar vivos.

Sentei do lado do Gabriel e comecei a comer pra caralho. A Isabela tava sentada do lado do Matheus, fazendo um carinho no cabelo dele e olhando com a maior cara pensativa do mundo. Nem era uma cara muito boa... ela tava parecendo mal mesmo.

Barão: Ei - chamei ela, que me encarou - Tá gostosinho o bolo.

Ela sorriu pra mim, sem mostrar os dentes.

Davi: Foi o Davi que fez, pai - ele falou, com a boca toda suja da calda de chocolate.

Barão: Sabia que tinha sido tu, menor. Ninguém ia fazer um bolo tão maneiro!

PT: Isabela tem o dom. Vai cozinhar pra mim todo dia - falou, todo convencido. Ela deu um chute na perna dele, por baixo da mesa - Oh, era brincadeira.

Barão: Perdi alguma parada? - perguntei, olhando pros dois.

Isabela: Chamei o PT pra morar aqui. Ele não sai mais da minha casa mesmo.

PT: É, chefe. Mas tipo assim... bagulho de trabalho. Vou fazer o meu trabalho... - ele começou a se justificar todo e eu neguei com a cabeça.

Barão: Relaxa aí, curte tua casa nova - comi mais um pedaço do bolo - E tem mais, PT. Quero uma parada tua, mas quero de coração mermo, de peito aberto!

PT: O que?

Barão: Nós vai sair daqui e fazer a tua matrícula na escola. Escolhe um período, tu vai voltar a estudar. E se quiser ficar no corre, eu tô pouco me fudendo, só te aceito se tu estudar!

PT: Eu? - ele praticamente gritou, fazendo careta - Por que? Não, Barão. Pô, chefe. Não. Não e não.

Barão: É, menor. Vai ser melhor pra ti. Tu vai ter uma visão que a única coisa que vai te garantir um futuro bom é o estudo.

A Isabela tava quieta, olhando pra nós dois. Assim como todos os outros na mesa.

PT: Ta... mas eu vou ter um futuro bom. Tipo tu!

Barão: E isso é futuro bom da onde, cara? Tem nem base. Minha cara tá marcada pra uma pá de gente, isso sem contar que a polícia tá doida pra me mandar pra vala - vi o Matheus negando com a cabeça, ele não curtia muito esse papo - Eu não tive escolha, PT. Me meti nessa vida porque não tive escolha. Mas tu tem, meu parceiro. Entendo que até agora tu não tinha ninguém por ti, era só os mano do corre mesmo. Mas a vida tá dando uma oportunidade de ser diferente, de tu ter um futuro maneiro sem precisar se meter em toda essa merda.

PT: E se eu quiser me meter nisso tudo, mesmo depois de estudar?

Barão: Aí a escolha vai ser tua, pelo menos tu teve outras oportunidades - apontei com a cabeça pro Gabriel - Tipo ele. Tô ligado que é o futuro que ele quer, mas estudou a vida inteira pra ter outra oportunidade se quisesse.

PT: Ah, eu nem sei não. Eu não tô muito afim.

Isabela: PT... - ela chamou o vulgo dele, atraindo a atenção de todo mundo - Te chamei pra morar comigo porque você realmente faz bem pra mim e eu acredito que possamos fazer bem um pro outro. A ideia da escola foi minha, o Barão apoiou.

PT: Por que, Isa? Eu não preciso disso.

Isabela: Todo mundo precisa. Quero que você venha morar comigo por vários motivos, mas quero de verdade que você tenha uma adolescência normal e quero que você seja feliz pra caramba independente do que você escolher - ela respirou fundo - Mas quero quer você entenda que com "adolescência normal" eu não me refiro só ao que vai te agradar. Tu tem que estudar, aprender a ler e a escrever. Tem que ter hora pra ficar na rua, hora pra voltar pra casa. Precisa ter alguém pra olhar por ti. Eu tô te falando que eu posso ser essa pessoa que vai te ajudar, mas você precisa me ajudar também.

PT: Eu não quero estudar.

Barão: Ô, parceiro, o crime não é brincadeira - falei encarando ele totalmente sério - Vai rolar o que daqui um tempo contigo? Febem? Tem que torcer pra ser isso, né não?

PT: Foda-se, Barão. Se der merda, ninguém vai chorar.

Isabela: Eu vou - ela rebateu - E não é por ser você. Eu adoro você. Mas eu, e uma porrada de gente, chora em saber que crianças como você se perdem nesse mundo porque não tem ninguém que possa os ajudar!

Barão: Nós tá aqui... na maior pureza, te oferecendo ajuda, tu vai negar, Patrick?

A Isabela me olhou, quando eu falei "Nós". Era um plano dela dar uma vida maneira pro PT. Mas eu não vou negar que tava me incluindo nessa parada toda junto com ela.

O PT merecia mesmo. A Isabela fazia parte da família, eu querendo ou não. E se ela queria o PT também, era um pacote completo. Da mesma forma como ela só tinha obrigação com o Matheus, mas sempre foi maneira com os meus três pivetes.

PT: Eu não tô curtindo isso - falou, com a voz baixa - Tá... eu vou ver. Eu vou ver. Mas eu não tô feliz!

Isabela: Eu tô - ela deu uma piscadinha pra ele, que rolou os olhos.

O Matheus começou a animar o PT, pra ele estudar a tarde junto com os moleque, e ele tomou a decisão dele enquanto terminava de tomar o café.

Eu terminei de comer também, depois escovei os dentes e chamei o menor pra ir até a escola, pra nós poder fazer todo o processo de matrícula dele também.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora