Predestinados

22

Júlia

Eu estava só observando o Gabriel e o Matheus me cercando o dia inteiro, me olhando estranho e não saindo daquela sala nem por um momento. O Davi estava na dele, maior paz, assistindo o desenho na televisão.

O Barão tinha saído a algum tempo atrás, eu sabia que ele ia atrás da Isabela. Todo dia, por uma semana, ele pediu para eu ficar com o Davi de madrugada e não me disse o que ia fazer. Mas eu tinha certeza que era sobre ela.

Ele não falava muito, e poucas vezes eu tive a oportunidade de perguntar, mas acho que ela estava melhor.

Falcão: Júlia, Júlia, Julinha, lindinha - cantarolou.

Eu soltei uma risada, negando com a cabeça.

Ele e o Gabriel estavam jogados no sofá, e eu estava sentada no tapete no chão, junto com o Davi.

Júlia: Se toca, Matheus. Eu sou casada.

Falcão: E eu tenho amor a minha vida. Não vou mexer com o que é do parceiro Barbosa, não.

Júlia: Até porque nem idade pra isso você tem - o lembrei, dando uma piscadinha pra ele.

O Gabriel gargalhou.

Lobo: Tomou na fuça, bem feito otario.

Falcão: Pô, não precisa humilhar também, amigona - ele me encarou - Tu tá sabendo de alguma parada, num tá não?

Júlia: Eu não tô sabendo de nada, Falcão. Nem venha!

Lobo: Ta sabendo sim, e nós tá querendo saber também - ele escorregou do sofá, pra sentar ao meu lado no tapete - Tu tá dormindo aqui em casa todo dia e o meu pai tá saindo toda noite. Ele tá pegando alguma mulher, né?

Júlia: Por que vocês não perguntam pro pai de vocês?

Falcão: Porque ele não fala nada, pô. Chato pá caraí!

Júlia: Se ele não fala, quem sou eu pra falar? - eles abriram a boca pra me responder, mas eu nem deixei - Cansei de vocês dois.

Peguei o Davi no colo, mesmo com ele reclamando que queria continuar assistindo desenho, e segui para a rua. Os meninos que faziam a proteção nos cumprimentaram e começaram a brincar com o pequeno, depois que eu coloquei ele no chão.

Nem demorou muito até o chefe chegar, descendo da moto dele com a maior cara de cansado do mundo. Ele cumprimentou os garotos, e se abaixou pra dar um beijo no filho, depois me chamou de canto.

Júlia: Os meninos estavam fazendo várias perguntar pra mim, sabe? - ele franziu o cenho, mostrando que não havia entendido bem o que eu estava querendo dizer - Ah, cara. Sobre você. Eles acham que você está namorando.

Barão: Por que esses dois não arrumam uma namorada pra eles e param de encher o meu saco?! - bufou - Ô, Júlia, tô doando dois filhos, tu quer?

Júlia: Eu não!

O Barão arrumou o boné na cabeça e encarou o chão, soltando uma risada, mas depois voltou a me olhar.

Barão: Eu falei com a Isabela. Ela falou que tá maneiro de tu ir lá, porque gostou de tu.

Júlia: Sério?!

Fazia uma semana que eu estava tentando convencer o Barão a me deixar ir ver a Isa. Mas ele sempre desconversava e o máximo que dizia era que tentaria falar com ela.

Barão: É, pô. Ela tá meio machucada ainda, então tu vai ter que ir até lá - eu concordei com a cabeça - Pede pro teu macho te levar mas não deixa ele entrar.

Uma dúvida surgiu na minha cabeça, e eu resolvi questionar.

Júlia: Barão, não é pra ele entrar por que ela está muito chateada com o Barbosa?

Ele deu de ombros.

Barão: Sei não, Júlia. Só não tava afim de arriscar, é muito cedo.

Júlia: Eu vou tentar falar com ela pra saber. O Barbosa se sentou meio culpado pelo o que aconteceu, acho que ele iria querer pedir desculpas pra ela.

Barão: Tô ligado, pô. Sei das boas intenções do meu faixa, mas talvez nem seja o momento da garota ainda. Depois de todo o caô a melhor parada a fazer é respeitar o tempo e a vontade dela, tendeu?

Júlia: Claro. Eu não faria uma parada dessas contra a vontade dela.

Ele fez um toque com a minha mão na sua e pegou o Davi, entrando em casa. Mandei uma mensagem pro meu marido e ele demorou uns dez minutos pra brotar na frente da casa do Barão. Ele cumprimentou os meninos e veio me dando um selinho e um beijo no rosto.

Nos últimos dias eu fiquei direto na casa do Barão, e o Barbosa vinha pra dormir comigo. Mas ficávamos o restante do dia todinho separados, sem nem conseguirmos conversar direito.

Eu sei que ele estava se sentindo culpado com tudo o que aconteceu com a Isabela. Tentei ao máximo acalmar ele e lhe explicar que a única forma de se redimir seria oferencendo todo o apoio que ela precisasse, mas eu até entendia o que o Barão pediu. Talvez ela ainda não estivesse pronta pra perdoar, a mágoa foi muito recente e com toda certeza ela não seria capaz de confiar neles tão cedo. Não julgo, até porque eu não sei como reagiria.

O Ruan me levou até a casa que o Barão tinha separado pra Isa, e disse que me buscaria depois para irmos para casa.

Eu me sentia ansiosa pra reencontrar ela. Queria de fato saber como ela estava, e mais do que isso, queria de alguma forma ajudá-la.