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Isabela

Ver o Matheus e o Gabriel provavelmente tinha sido a minha única felicidade nos últimos meses. Tanto que após a saída deles, a única coisa que eu consegui fazer foi tomar um banho, trocar de roupa, e ir dormir um pouco. Fazia dias que eu não dormia direito, e a presença deles me fez tão bem, que acabei relaxando e dormindo um sono pesado, que eu tanto precisava.

O Matheus era a maior lembrança que eu tinha da minha família. E o Gabriel, era como se fosse meu sobrinho também, porque ele sempre viveu grudado no irmão, e todas as vezes que o Matheus ia ficar com a minha mãe e comigo, o Gabi vinha junto.

Me deixava mal ver aqueles dois preocupados, mas eu não queria que se envolvessem em uma situação que eu mesma tinha me metido.

A uns três anos atrás eu conheci o Manoel. No início ele era um amor, me tratava super bem e fazia de todas as minhas vontades. A minha mãe nunca apoiou o nosso relacionamento, por ele ser muito mais velho do que eu, mas com dezessete anos eu estava completamente apaixonada e não ligava muito pro que ela falava.

Se arrependimento matasse...

Resolvi que ia continuar com o Manoel, e um tempo depois o câncer levou a minha mãe, sobrando só ele na minha vida. Naquela época, ele já dava indícios do lixo de ser humano que era, mas eu estava muito fragilizada, e não percebi que cada vez mais ele me afastou do meu sobrinho, e me tornou uma propriedade privada dele.

E infelizmente quando eu percebi, já era tarde demais. O relacionamento que no início era perfeito, se tornou toxico, abusivo, cheio de traições, segredos, agressões e ameaças.

Depois de dois anos vivendo esse inferno, sem conseguir me livrar daquele homem, por puro medo, eu tinha tomado coragem pra ir atrás de ajuda.

Eu não sei como, mas o Pitbull descobriu, ou suspeitou. Começou a rolar ameaças pesadas envolvendo o nome do Matheus, porque ele sabia que o meu sobrinho era a minha única preocupação no mundo, e tomou o meu celular, junto com todos os meios de comunicação com o mundo.

Ele tinha conseguido um patrocínio lá em São Paulo, nós moramos lá por um tempo. Mas o Manoel reprovou em um dos exames, porque com toda a pressão das lutas ele tinha se tornado um drogado de merda, o que resultou na quebra de contrato e perda do patrocínio.

Voltamos pro Rio tem três dias, e todos os dias ele sai de casa pra ir fazer sei o que lá na rua, e volta pra casa todo drogado e fedendo.

Tipo agora, quando eu acordei no susto, ouvindo a porta de casa bater.

Me encolhi embaixo do cobertor por meio segundo, sentindo a crise de ansiedade dominar o meu corpo com força. Travei no lugar quando ouvi ele chamar o meu nome, e senti meus olhos lacrimejando.

Tomei coragem pra sair do quarto, quando ouvi os seus passos se aproximando do corredor. O Pitbull estava completamente transtornado, e me olhava com raiva... já sabia que essa noite seria longa.

Pitbull: Tu tava fazendo o que?

Respirei fundo, passando por ele, e indo em direção a cozinha. O esgotamento físico e mental andavam lado a lado, eu não tinha mais forças pra debater, pra tentar bater de frente. Eu só queria chorar, e acabar com aquilo de um vez.

Isabela: Acabei pegando no sono - murmurei baixo, tirando as coisas da geladeira pra começar a fazer a comida - Vai tomar um banho, Pitbull. Eu vou fazer o jantar.

Graças a Deus, ele tinha me dado ouvidos e foi cambaleando em direção ao banheiro. O que resultou em um tempo de paz pra minha cabeça.

Ouvi o barulho do chuveiro sendo desligado, depois de algum tempo, e também a bagunça que ele fazia no quarto, procurando por alguma roupa. Depois, tudo o que eu senti foi algo pesado se chocando contra as minhas costas, e se espatifando no chão.

Eu nem entendi, fui pega de surpresa. Me virei de costas para a pia, vendo que uma das xícaras estava aos pedaços no chão, e que o Manoel me encarava com muito ódio.

Pitbull: Que porra é essa? Quem teve aqui?

Isabela: Para com isso, cara - choraminguei, sentindo a dor nas minhas costas - Doeu!

Ele avançou alguns passos na minha direção, tomando cuidado pra não enfiar o pé em nenhum dos cacos, e segurou o meu rosto entre a mão, apertando a minha bochecha. Eu segurei o seu pulso, tentando tirar a sua mão do meu rosto, mas ele logo meteu um tapa na minha mão, jogando ela pra longe.

Pitbull: Quem entrou na minha casa, vagabunda? Eu saio e tu já faz a festa, né? Tava dando pra quem? Trouxe macho pra dentro da minha casa?

Isabela: Pra ninguém. Pelo amor de Deus, me solta.

Pitbull: Anda, Isabela. Eu vou ter que te obrigar a falar?

Isabela: O Matheus veio aqui. Não sei como ele sabe o endereço.

O Manoel riu, jogando a cabeça pra trás.

Pitbull: O Matheus. Sempre o Matheus - ele apertou mais ainda a mão no meu rosto - Vai tomar no cu. Tu acha que eu sou burro? Foi tu que falou pro moleque vir te ver, não foi?

Isabela: Você tirou o meu celular. Lembra? Você quebrou o meu celular! Como que eu ia falar com ele?

Pitbull: Tu é a pior raça que tem - ele soltou o meu rosto, mas me empurrou, fazendo com que eu batesse com as costas na pia - As que se fazem de santa e na verdade são umas piranhas.

Abaixei o meu olhar, encarando o chão.

Isabela: É só me deixar ir embora.

Ouvi a risadinha nojenta dele, que me fez arrepiar.

Pitbull: Só depois de morto.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora