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Barão

Depois de voltar pro morro com os menor, eu fui resolver os meus assuntos e voltei pra casa quando já era noite. A Júlia já tinha ido embora, por causa do horário da faculdade, e quem tava cuidando do Davi eram os irmãos. Eles pediram um rango, enquanto eu tomava banho, e depois nós sentou junto pra comer na mesa, mas antes agradecendo pelo fato de ter o que comer.

Eu tava só de olho nos dois motivos da minha dor de cabeça. O Matheus quase não comia, só brincava com a comida no prato, e o Gabriel ficava olhando preocupado pro irmão. O Davi não tava nem aí pra nenhum dos dois, e tava roubando a batata frita que tinha no prato do Gabriel.

Barão: Qual dos dois vai me contar o que tá pegando? - perguntei, assim que eu terminei de comer.

Falcão: Nada demais - ele falou, sem me olhar.

Barão: Solta a voz. Te conheço desde o dia que tu nasceu.

Ele largou o garfo no prato, e afastou um pouco, fazendo com que o Davi conseguisse roubar as batatas dele também.

Falcão: Tu consegue me arrumar uma grana, pai?

Barão: Consigo, pô. Papo de quanto?

Meu maior orgulho da vida era esse. Poder dar pra eles o que quisessem, quando quisessem, sem me importar com o valor das paradas.

Falcão: Sei lá... acho que uns cinco conto.

Eu concordei com a cabeça.

Barão: Pra que tu quer a meta?

Falcão: A Isa... vou comprar um celular pra ela. Não sei se acredito muito, mas ela disse que tava sem contato comigo porque perdeu o antigo.

Barão: O marido dela não tem dinheiro, não? O cara não é lutador? - perguntei, sem nem entender.

Falcão: É, pô. Isso tá muito estranho. Mas eu tava querendo fazer isso pra ela, entendeu?

Barão: Pega a grana comigo amanhã e manda algum vapor te levar pra comprar.

Falcão: Valeu, pai.

Me levantei da mesa, colocando o Davi pendurado no meu ombro, o moleque só riu, puxando o meu cabelo.

Barão: Tu tá ligado que qualquer fita que tiver te estressando é só tu me dar o papo, que eu resolvo.

Falcão: Eu sei. Tu é o cara.

Barão: Já que eu sou o cara, vocês arrumam toda essa zona aí. Dei folga pra dona Lúcia hoje, ela só vem amanhã a tarde. Eu vou colocar o Davi pra dormir e vou me esticar também, tô cansadão.

Lobo: Deixa com nós.

Barão: Vocês vão ficar em casa também, né? Quero ninguém na rua hoje não, vacilo demais pra um dia só.

Lobo: A gente já vai deitar também.

Eu concordei com a cabeça, e fiz um toque com os moleques, arrastando o Davizinho pro andar de cima. Ele já tava de banho tomado, cheirosão e de pijama, então eu só coloquei o menor pra escovar os dentes, e fui escovar o meu também, antes de arrumar tudo pra ele deitar na cama. Fiquei um tempo deitado com ele ainda, e depois que pegou no sono, eu fui pro meu quarto.

O Gabriel tava fumando um baseado na varanda, eu senti o cheiro de longe, quando passei no corredor. Eles tavam ligados que maconha era a única parada que poderiam usar na vida deles, porque se alguma vez eu soubesse que estavam se metendo com parada mais pesada, eu ia meter bala no cu deles.

O Matheus tava jogando video-game no quarto dele. Ouvia o barulho dos tiros na televisão, com a porta do meu quarto fechada. Já mandei mensagem pra ele dar uma segurada na emoção e abaixar o volume, pra não acordar o Davi.

Eu acendi o meu baseado também. Eu não era acostumado a fumar, porque tentava ficar longe o máximo de tempo que conseguia. Não me curtia na onda, achava que a brisa batia errado pra mim, mas um verdinho de vez em quando podia me acalmar, e hoje eu tava precisando de um pouco de paz, depois de tanto nervoso.

Depois de queimar até a ponta, eu caí na minha cama, indo dormir relaxadão.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora