CAPÍTULO 06

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O refeitório é sempre barulhento e lotado, com várias pessoas divididas em seus respectivos grupinhos conversando e rindo como se a vida fosse maravilhosa.

Bando de idiotas.

Na verdade eu sinto inveja deles, sei que suas vidas  não são perfeitas e que eles também devem ser cheios de problemas, mas realmente sinto inveja dessas meninas bonitas e cheias de sorrisos calorosos, tenho inveja de velas comendo sem se preocupar com quantos quilos aquilo que estão ingerindo vai colocar em seus corpos.

Suspiro brincando com minha comida enquanto os meninos conversam animados e Deby e Nora estão imersas na bolha de romance proibido delas, passo meus olhos por todo o refeitório e acabo parando no professor de edição física junto com a enfermeira me olhando e conversando baixinho, meu coração dispara e eu olho para minha comida enchendo uma colher e colocando na boca.

Viu só? Eu não tenho problema nenhum.

Mastigo devagar lutando contra a vontade de cospir a comida mas eu engulo me sentindo estranha e quando volto a olhar para eles não os encontro mas continuo comendo até meu prato estar vazio.

- Ei - Kendrick me cutuca e o olho - Vamos bolar as duas últimas aulas? - olho dele para o resto de meus amigos na mesa e eles sorriem.

- Outra vez? - Theodore da de ombros e reviro os olhos - Tudo bem, minhas duas aulas são de física e eu odeio aquela professora - me levanto e eles riem.

- E quem gosta daquela vaca? - Débora bufa irritada.

- O marido dela - Nora sorri - Só que ele come ela então... - ela dá de ombros e faço careta.

- Que nojo - Theodore faz um som de vômito e gargalho.

Fugimos do refeitório e pegamos o corredor que dá para o outro lado da escola, essa parte não é usada a uns dez anos e a escola vi e prometendo uma reforma que nunca acontece, subimos as escadas até o terceiro andar e entramos na antiga biblioteca que está cheia de livros empoeirados e um cheiro horrível.

- Credo - Kendrick torce o nariz - Esse lugar precisa de uma limpeza urgente.

- Concordo - Nora espirra com o nariz começando a ficar vermelho.

- Quem se importa? - Theodore anda para os fundos do lugar e o seguimos enquanto escutamos os dois irmãos resmungarem.

Chegamos em uma parte com com mesa redonda rodeadas de cadeiras e é a única limpa, abrimos a janela deixando a brisa fresca entrar no lugar abafado, a aflição começa a me esmagar por dentro e suspiro mordendo meu lábio inferior.

Eu não devia ter comida.

- Salgadinhos - Nora tira os pacotes da mochila que ela nunca deixa na sala por razões que eu desconheço, pego um abrindo e pegando uma mão cheia, Theo toma da minha o pacote mão e eu olho para minha mão cheia de salgadinhos, suspirando eu devolvo tudo para o pacote.

Mas coisa para comer?

Porque eles estão sempre comendo?

Porque eu não posso ser como minha amigas?

Elas são perfeitas.

Como Roberta.

- Hã eu vou ao banheiro - me levanto e saio sem ouvir a resposta deles.

Vou para fora da sala e então para o banheiro no fim do corredor, entro na última cabine e fecho a porta mordendo a parte interna na minha bochecha e olhando indecisa para o vaso.

Eu preciso mesmo disso?

Suspiro fechando meus olhos e tentando arranjar alguma razão para não o fazer mas não encontro, para mim ser igual a enteada de papai eu tenho que ser perfeita e então ele vai me amar.

E eu preciso que ele me ame?

Ele é meu pai, mas não pensou duas vezes antes de me abandonar e trocar por outra, ele não lembra do meu aniversário e nem sabe quantos anos eu tenho e nem qual é o nome dos meus amigos.

Ele é um estúpido.

Mas ele sempre aparecia quando eu tinha um pesadelo a noite e então ele espantava o monstro de debaixo da cama e de dentro do guarda-roupa, foi ele que me ensinou a andar de bicicleta quando eu tinha quatro anos e eu não me lembro quando ele parou de espantar os monstros ou me dar beijos de boa noite, eu sei que ele não foi muito presente mas nos momentos em que foi com toda a certeza são uns dos momentos mais especiais para mim.

Eu devo ter feito algo errado porque não consigo entender o motivo de ele cuidar tanto de uma garota que nem tem o seu sangue enquanto com a sua própria filha ele nem ao menos percebe o quão quebrada eu estou por seu abandono.

Então sim, eu tenho que fazer.

Me ajoelho e levanto a tampa colocando dois dedos em minha garganta e expulsando o conteúdo de meu estômago, meus olhos se enchem de lágrimas e minha garganta queima, levo um susto quando a porta abre em um rompete e arregalo meus olhos vendo Kendrick me olhando sério.

- Oque você está fazendo? - pergunta e não sei oque responder - Jude?

Me levanto limpando minha boca com meu pulso e o ignoro indo para a pia e lavando minha boca depois de dar descarga.

- Você forçou o vômito? - pergunta e o olho pelo reflexo do espelho, de braços cruzados e a expressão séria.

Ele é tão lindo.

- Eu só... - fecho meus olhos sem saber oque responder - Eu não estava me sentindo bem é só isso - ele levanta uma sobrancelha e me agito - Eu não forcei o vômito, porque faria isso?

- Está mentindo para mim? - mordo meu lábio inferior sentindo-me uma pessoa horrível por mentir.

- Não - ando até ele e o abraço pela cintura encostando meu rosto em seu peito - Eu só estava um pouco enjoada.

- Melhor ir ao médico - ele alisa minhas costas - Samuel me disse que pegou você vomitando três vezes seguidas semana passada - meu corpo tenciona e o olho - Não gosto de pensar em você doente.

- Tudo bem - suspiro escondendo meu rosto em seu peito - Eu vou ao médico.

A perfeição custa caro certo?

Depois que voltamos para a sala encontramos as meninas rindo de algo que Theodore falou e o garoto me olha malicioso com um sorriso de lado que o deixa lindo de morrer.

- Ei amor, estava contando para as meninas sobre seus sonhos quentes - arregalo meus olhos e minhas bochechas queimam com a vergonha.

- É - Nora meche as sobrancelhas rindo alto - Ele nos contou como você gemeu e depois fugiu da minha casa.

- Theodore - grito seu nome e dou um tapa em seu braço - Idiota, parem de rir não tem graça.

- Na verdade foi engraçado sim - Kendrick sorri - Você parecia um pimentão de tão vermelha.

- Cala a boca - o empurro e ele segura meu braço me puxando para perto e me abraçando por trás.

- Tudo bem linda, eu gostei de ouvir você gemendo meu nome - ele sussurra em meu ouvido logo depois mordendo meu pescoço e gemo derretendo em seus braços.

- Ah pelo amor - Débora revira os olhos - Sse comam logo.

- Ei garota - arregalo meus olhos e ela ri junto com Nora.

- Eu quero participar também - Theodore levanta a mão e dou risada me virando e escondendo meu rosto no peito de Kendrick que me abraça.

Oh eu também quero que os dois me comam.

Na verdade os três, Samuel com certeza tem que estar presente.

Três é demais Onde histórias criam vida. Descubra agora