CAPÍTULO 04

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Theo me abraça apertado com uma perna em cima de mim e a cabeça em meu peito, já são quatro da manhã e eu ainda não dormi pois a vontade insana de comer alguma coisa está me torturando, eu juro que estou tentando mas...

- Não dá - me sento na cama escutando um resmungo de Theo.

Com muito cuidado para não o acordar eu rico sua perna de cima de mim e então seu braço, o garoto dorme igual uma pedra então quando me levanto ele só vira para o outro lado abraçando o travesseiro.

Mordo meu lábio inferior sentindo um frio na barriga e a ansiedade começa a me apertar por dentro e então eu vou para cozinha, eu abro os armários tiro grande partes das besteiras dali, desde potes de leite condensado até pacotes de bolachas, pego pão e abro a geladeira pegando bolo, frutas, uma torta e queijos e então eu como.

Como desesperadamente como se fizesse anos que eu não como, eu solto gemidos de prazer e aproveito cada explosão maravilhosa de sabores diferentes que preenchem minha boca e eu como rápido e tão rápido quanto eu começo eu acabo e então eu fico parada olhando para os pacotes e potes vazios, não sei quanto tempo passa comigo olhando para o lixo na mesa da cozinha mas em algum momento a culpa começa a se alastrar dentro de mim.

Droga.

Droga.

Puta merda.

Respiro fundo fechando meus olhos e então começo a catar todo o lixo, eu o jogo e limpo minha bagunça. Minhas mãos tremem e as lágrimas se acumulam em meus olhos.

Mer.da.

Escuto o som dos ponteiros do relógio enquanto continuo parada no meio da cozinha com o choque do que fiz começando a me esmagar, olho para o relógio e vejo que já são cinco horas e me assusto pois não vi o tempo passar tão rápido. Com o coração acelerado eu vou para o banheiro mais próximo e tranco a porta com as mãos tremendo enquanto levanto a tampa e as lágrimas molhando meu rosto, coloco dois dedos na minha garganta e expulso tudo.

Sinto o gosto ruim do vômito misturado com o sabor estranho das coisas que comi, minha garganta queima e minha barriga dói mas eu continuo forçando o vômito até que esteja saindo só uma água estranha, me sento no chão de frente para o vaso sanitário e abraço minhas pernas olhando para a sujeira que fiz.

Droga.

Soluço me sentindo um lixo e fico por não sei quanto tempo assim sentindo culpa e angústia, eu me levanto enxugando minhas lágrimas e lavo minha boca e rosto, dou descarga e saio do banheiro indo o mais silenciosa possível para fora enquanto escuto vozes na cozinha, provavelmente os pais dos meninos estão fazendo café, não penso em falar com eles e vou para casa.

Eu corro para meu quarto e vou para o banheiro tomar banho, coloco uma roupa confortável para correr e então saio colocando meus fones de ouvido, olho para o céu o vendo meio nublado e suspiro começando a correr, eu corro como se minha vida dependesse disso e para ser sincera eu acho que depende, eu vou até uma praça e dou várias voltas por ela até que o sol esteja alto no céu, hoje é quarta feira e não tem aula por que é algum feriado que eu não sei qual é não me importo pois é melhor que eu posso passar horas correndo.

Para concertar o meu erro.

Olho a hora em meu celular parando para tomar um ar pois estou sem fôlego e suor cobre todo meu corpo, dez hora da manhã, eu passei um bom tempo correndo mas não acho que tenha sido o suficiente. Estou guardado no meu celular outra vez quando ele toca.

Theo.

Fecho meus olhos respirando fundo, eu não queria falar com ele mas acho que não posso ser tão má amiga assim, eu fugi dele e de seus primos e nem coragem eu tive de me despedir e inventar alguma desculpa para esta saindo tão cedo, então eu atendo.

- Oi - falo e escuto suspiros do outro lado.

- Onde você está? - ele fala e posso ver sua irritação.

- Eu sai para correr - coço minha nuca me sentando em um banco.

- Oque? - ele fala meio alto e reviro os olhos.

- A que horas você saiu? - Kendrick pergunta e fecho meus olhos muito cansada.

- Cedo.

- Cedo quanto? - ele pergunta e dei que está preocupado comigo.

- Eu não sei - dou de ombros - Cedo.

- Você não falou com a gente antes de sair - Samuel fala dessa vez e sinto meu peito apertar - Aconteceu alguma coisa?

- Ela surtou isso sim - Theo bufa - Quem é que levanta tão cedo em um feriado? Par correr ainda mais - sua indignação quase me faz rir.

- Cala a boca - Kendrick resmunga.

- Não me bate seu idiota - e então eles começam a brigar e dou risada.

Sinto meus olhos lacrimejarem enquanto os escuto e fixo olhando para meus pés, estou me sentindo tão mal e tão perdida e eu só queria que tudo parasse e eu não quero sentir nada disso, a culpa e toda a comparação e o ciúme e toda a baixa alto estima.

- Jude? - os três falam ao mesmo tempo quando me escutam fungar.

- Você está chorando? - Kendrick pergunta cala - Aconteceu alguma coisa?

- você está machucada? Alguém meche com você? Você está passando mal?  - Samuel não me dá tem de responder e já me enche de perguntas.

- Deixa ela responder cara - Theo o corta e sorrio limpando minhas lágrimas.

- Não é nada - suspiro engolindo minhas lágrimas estúpidas - Eu já estou indo ok? Vou tomar banho e depois volto para aí.

- Ok - todos respondem juntos e dou risada com essa coisa estranha deles e me levanto começando a andar.

- Tem certeza que esta bem? - Samuel pergunta.

- Tenho - dou um sorriso falso como se ele pudesse me ver e então me despeço deles.

Ando para casa e vou tomar banho, a casa está silenciosa oque significa que mamãe já foi trabalhar, coloco um moletom e me olho no espelho.

Perfeita.

Eu acho que nunca vou ser perfeita.

Três é demais Onde histórias criam vida. Descubra agora