CAPÍTULO 28

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Theo

Entro no restaurante e logo avisto a garota sentada em uma mesa ao lado da janela, eu me sento em sua frente e ela olha para mim, encaro ela sem demonstrar nada do que estou sentindo e ela fica me olhando sem dizer nada.

- Você vai ficar me encarando ou vai começar a falar? - pergunto já completamente irritado e ela solta um riso sem graça abaixando a cabeça e coçando a testa.

- Oi pra você também - levanto uma sobrancelha e ela suspira - Eu sinto muito não ter falado antes, eu estava com tanta coisa na cabeça que esquece de você.

- Esqueceu? - dou risada balançando a cabeça - Você tá de brincadeira Bianca? - bato na mesa o que chama a atenção de todo mundo a nossa volta, ela olha envergonhada para as pessoas e encolhe os ombros.

- Pode por favor não chamar atenção? - me encosto na cadeira e cruzo meus braços - Eu... - ela começa a falar mas um garçom vem ver se temos algum pedido para fazer e ela pede uma água enquanto eu mantenho meus olhos nela - Me deixa falar, só escura em silêncio ok? - ela junta as mãos e aceno com uma mão para que ela prossiga.

" Eu fui abandona pela minha mãe quando tinha três anos, ela saiu e não voltou e como eu nunca tive um pai os vizinhos acabaram escutando meu choro e depois de três dias finalmente me encontraram sozinha, suja, com fome e morrendo de medo.

Fui levada para o hospital e então um orfanato, passei três anos naquele inferno e então fui adotada por um casal que morreu depois de quatro anos. Minha avó me criou, comecei a fazer teatro com dez anos e não parei pois somente em um palco eu me sentia em paz, não sentia medo ou dor, angústia, ansiedade e as crises tudo desaparecia.

Eu tinha recebido uma carta para uma universidade na Itália e saí para comemorar, e você sabe, eu bebi e te conheci e a gente acabou transando e então fui embora. Dois meses depois descobri que estava grávida."

Ela para de falar e fecha os olhos respirando fundo, vejo suas mãos tremerem e quando ela abre os olhos e percebe meu olhar esconde suas mãos debaixo da mesa.

- Você não sabe o quão assustada eu estava - ela olha para fora e sorri sem humor - Eu não queria ser mãe, nunca quis.

" Eu não saberia como criar alguém. Minha vida foi repleta de abandonos e eu tinha certeza que seria uma péssima mãe.

Mas aí os meses foram se passando e eu me peguei amando cada dia mais aquela criança, foi quando eu tive uma briga com um cara com quem estava saindo e acabei passando mal, a gravidez se tornou delicada e e eu sentia constantes dores.

Billy nasceu com oito meses e eu fiquei internada por perda de sangue, tive depressão pós-parto e não conseguia nem olhar para ele quanto mais segurá-lo, e tudo o que ele precisava era de mim, eu não tive leite e me matava por dentro cada vez que ele chorava para não pegar a mamadeira, na verdade ainda mata.

Quando ele fez três meses as coisas melhoraram e tava tudo bem, eu acabei me afastando um pouco da faculdade mas eu descobri que tenho câncer, um tumor maligno que já está bem avançado. Eu tentei alguns tratamentos por dois meses mas..."

Ela balança a cabeça e uma lágrima escorre põe seu rosto, ela logo limpa e respira fundo tentando se acalmar. Reparando bem ela realmente não parece saudável, está muito pálida e magra e sem conta nas bolsas embaixo dos olhos.

" Eu vou morrer. Eu achei que eu finalmente iria ser feliz mas eu vou morrer, eu desejei tanto a morte e agora que ela está batendo na porta eu estou desesperada para não acontecer, a minha avó morreu e Belly é tudo que eu tenho.

Billy foi a melhor coisa que já me aconteceu e eu quero que você saiba que eu o amo muito, muito, muito mesmo e eu nunca o abandonaria mas eu vou morrer e estou entregando ele para você porque não posso fazer nada."

- Eu sinto muito - minha raiva de repente não está mais lá e eu estranhamente só quero abraçar essa garota - Sinto muito mesmo.

- Tudo bem - sorri triste e olha para a janela - Ele parece com você - ela ri e balança os ombros - Eu vou passar esse mês aqui com ele, é o meu último mês e queria que você ficasse com a gente só pra mim... - ela se interrompe quando a voz falha e mais lágrimas rolam por seu rosto - Só quero ter certeza que vou passar tudo obre ele para você, se não for pedir de mais é claro.

- Tudo bem - ela me olha surpresa e sorrio de leve - Você pode ficar na minha casa com a minha família.

- Eu não vou incomodar?

- Não - balanço a cabeça - Minha família quer te conhecer e prometo que esse vai ser o melhor mês da sua vida.

- Obrigada - ela sorri e se levanta vindo me abraçar - Obrigada, obrigada - ela se afasta e segura nos meus ombros - Prometa que vai ser um bom pai para ele - sua voz falha outra vez e ela funga - Me Prometa que não vai abandonar ele nunca, por nada e nem ninguém.

- Prometo - segura sua mão apertado e sorrio - Onde ele está.

- Ah - ela se ajeita do meu lado e sorri - Uma amiga minha ficou com ele para que nos pudéssemos conversar, está pronto para conhecer seu filho?

- Eu estou apavorado - sou sincero e ela ri - Mas eu posso lidar com isso.

- Ok, vamos - ela se levanta pegando sua bolsa e deixando o dinheiro da água na mesa, eu nem ao menos vi quando isso chegou.

Andamos até o parque e Bianca me leva até uma garota negra que está com um bebê no colo que chora desesperadamente enquanto ela o balança de um lado para o outro.

- Oh por favor Billy, por favor - ela fala baixinho sem perceber nossa aproximação.

- Oi Diana, me dá ele - Bianca estende as mãos e pega o bebê o aninhado em seu colo, o menino soluça e suspira esfregando seu rosto no pescoço da mãe - Shh tudo bem amor, tudo bem a mamãe está aqui - ela beija o topo da cabeça dele que vai parando de chorar aos poucos e Diana se senta respirando fundo - Pronto? - ela me pergunta e sinto meu coração disparar enquanto minhas mãos soam.

- Pronto - pego o bebê com um cuidado excessivo e o afasto para olhar em seus olhos - Ah, você é lindo.

- É não é? - Bianca sorri mas logo fecha os olhos gemendo e colocando a mão na cabeça, Diana se levanta segurando ela que cambaleia.

- Senta amiga - a garota negra continua a conversar com a mãe de meu filho que geme de dor apertando os olhos e eu olho pra o menino o encontrando me encarando.

- Oi - acabo me desligando das duas garotas ao meu lado e sorrio para o bebê, sinto medo, ansiedade e eu amor tão grande que chega a ser assustador - Eu sou Theodore, seu pai - ele solta um gritinho e deita a cabeça no meu peito, eu passo minhas mãos por sua pequena costa e olho para Bianca - Se sente melhor? - a garota me olha e sorri cansada.

- Um pouco.

- Então podemos ir.

- Para onde vocês vão - Diana pergunta.

- Ela para minha casa - ela me olha desconfiada e depois se abaixa na frente da amiga e as duas começam a sussurra, eu seguro Billy se conseguir parar de olhá-lo - Tudo bem, me passe o endereço que eu levo suas coisas.

- Obrigada Dy - Bianca sussurra e Diana a abraça.

- Tudo bem, eu te amo.

- Também te amo - as duas se despedem e eu começo a andar com o bebê é levando o carrinho enquanto Bianca me segue até o carro.

- Oh eu não tenho cadeirinha - olho preocupado para ela.

- Tudo bem, eu levo ele no colo.

Eu tenho um filho.

Porra.

Três é demais Onde histórias criam vida. Descubra agora