Quase sempre a gente só precisa sentir. quase sempre a gente só precisa pausar a música, encurtar a dança, deixar a taça e sentir.
Provavelmente você já leu isso em algum livro ou algum lugar, talvez alguma amiga já tenha te falado ou sua terapeuta mas eu quero te e me lembrar que sentir não é ruim, pelo contrário, é libertador e corajoso.
É corajoso demais se olhar no espelho e sentir o quanto você é você. Digo isso porque na maioria das vezes a gente só esquece, deixamos com que outras pessoas, lugares, afetos, desafetos causem um sentimento tão perturbador de perda, de rejeição, de abandono que na verdade não percebemos e nem sentimos que fomos nós que nos abandonamos antes, muito antes e esse é o abandono que dói mais, perder-se de si.
O sentimento está dentro, não vai adiantar correr, o tempo continua o mesmo no relógio, passando igualzinho, você fugindo ou enfrentando e por isso é preciso ter coragem. Não é fácil, adianto, mas dia após dia a reconexão com íntimo vai chegando, passamos a entender detalhes que antes pareciam tão inúteis e prestamos atenção principalmente naquilo que está dentro.
Dia desses, num impulso bem pensado, deitei no sofá da sala no meu apartamento e comecei a chorar, chorei copiosamente, chovia lá fora, me dei um tempo para sentir o que eu precisava sentir, porque sei que todos nós somos acumuladores de fracassos, tentativas, perdas, poesia, cafés pela metade, diálogos que nunca virão e por isso, chover por dentro foi a solução, me permitir ser vulnerável, sozinha, sem costume, sem pose, complemente desnuda. Tenho vivido muitos dias comigo mesma e tenho tido percepções diversas. dias em que eu acordo, faço meu café com calma, vejo um desenho despretensioso, mando mensagem pra minha mãe, dou até aquele "alô" no grupo da família, faço as minhas coisas como se o universo estivesse sussurrando baixo: continue. você está bem.
E eu continuo, continuo porque gosto de me encontrar, gosto de sair do banho e aí sim colocar uma música daquelas bem minha cara de uma playlist qualquer e dançar desengonçada, enquanto seco meu cabelo desengonçado também.
Não há uma parte de mim que romantize esse processo, claro que não, mas faz parte de algo maior do que eu.
Eu sei o quanto sou corajosa, mesmo que as vezes eu tenha um pouco de dúvidas, tá tudo bem, é normal. Eu sei que eu to num caminho que parece florido, as vezes, mas também se parece com um breu.
E é por isso que eu escolho passar pela maioria do meu processo de reconhecimento sozinha.
Eu não sou mais a mulher que achava bonito dizer que é complicada, que é difícil de lidar. Eu sou a mulher que quer descomplicar, que deita numa cama bem grande e busca pela simplicidade agora.
Agora eu sei que eu me perdi porque eu soltei minha mão, não sei quando, não sei em que esquina, mas eu me soltei, me larguei assim por aí, e é como se aqui, no intimo do sentir, eu me encontrasse, encontrasse a garotinha que acreditava, que sonhava, que queria ser muita coisa, que foi muita coisa mas que principalmente É muita coisa.
Quando eu achei que era difícil me amar, eu ouvia as pessoas dizerem que eu era engraçada, que meu sorriso largo e minha risada alta era uma delícia de ouvir e como é importante saber disso, ouvir isso. principalmente quando você já não sabe direito o que ou quem você é, porque de repente o mar ficou escuro demais e você não sabe como voltar pra areia.
Eu to aprendendo que quando o mar fica escuro, é hora de soltar o corpo, deixá-lo repousar e esperar o sol amanhecer para tudo clarear, e aí sim, na claridade de um sol quente, é hora de nadar pra superfície.Que eu nunca mais me solte.
Que eu nunca mais acredite que é difícil me amar.
Que eu nunca mais perca a essência da garotinha que eu fui, porque eu ainda sou ela, eu só cresci mas ainda sou.um agradecimento genuíno e cheio de sentimentos pra mim, que flertei com a dor para entendê-la no detalhe mas que não permiti mais do que isso, deixo ir embora, deixo partir, parto também, as vezes ao meio, mas me recomponho inteira todos os dias.
{Escrito ao som de cara estranho - los hermanos}
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Quimeras Abortadas
AcakDevaneios, ilusões, pseudo-conclusões, questionamentos. Sou o que escrevo.