Gesto

902 62 4
                                    

Agarrei uma rosa, ali mesmo na rua que passo antes de chegar em nosso ponto de encontro; tomei o devido cuidado para não espertar meus dedos com os típicos espinhos que nelas contém.
Segurando-a para levar-te, devaneei em pensamentos, bem sabes que tudo pra mim é motivo e causa um emaranhado de pensamentos, mergulhando em oceanos pensantes, e ali, andando a passos lentos e cuidadosos observando aquela rosa que há pouco morreria ao ser tirada, contudo também morreria se lá permanecesse, pois bem; é pra isso, não? Digo, é pra isso que vivemos: caminhando para morte. Pode parecer terrível pensar e me expressar assim mas, pense como curso natural. Entre a morte e a vida que d'antes vem, que nela estamos, temos algo a fazer; a mim cabe que vivemos porquê embora a vida seja nossa e nos pertença, gostamos e somos daqueles que queremos dividi-la, salvo os egocêntricos, e eles os egocêntricos perdem tanto, pois o prazer de dividir é imenso, acrescento mais, dividir a vida com você é prazer dobrado pra mim.
Tenho em meu íntimo que essa rosa também me explica um pouco mais (...) Meu bem, o que não tem modo de falar é o mais nos fala, e fala aos ouvidos da alma de quem busca entender.
Entre o caminho de viver e morrer eu lhe encontrei, pequena. E entre o caminho de casa ao teu encontro eu encontrei essa rosa de jardim pra lhe agradar, embora saiba que não eras preciso, mas percebe? É algo maior pra mim. Sei que esta irá cair pétalas, murchar e morrer, entretanto lhe presentear é algo maior do que a perca degradativa de algo que morreria mesmo assim, pobre rosa, sempre o mesmo fim.
O gesto clichê, os clichês também fazem histórias, e que belas histórias!
Faço histórias com você, piegas, repetitivas, clichês mas é delas que vamos recordar ao envelhecer e pedirei que guardes as pétalas que forem caindo, demonstrando ali um possível fim, mas ainda servirá. Guarde num livro teu, quando um dia irá encontrar-te com as pétalas já secas, miúdas, palhadas entre teu livro, lembrarás que foi algo maior. Sempre é.

Com amor tudo é tão grande.

Quimeras AbortadasOnde histórias criam vida. Descubra agora