Ação e Reação
Eu não entendo minhas reações.
Quando reajo sem pensar, quando falo as coisas sem medir, quando percebo a forma como tudo foi dito, procuro sentar às vezes tarde demais e avaliar. Viro terapeuta de mim mesma, conversando em voz alta como se, conseguindo me ouvir, conseguisse me entender.Nunca foi diferente.
Depois de um banho, já enrolada numa toalha, fiquei encarando meus olhos pretos no espelho do banheiro. Eles me encaravam de volta, entendendo tão pouco quanto eu. Cutuquei memórias, remoí histórias e nada causava o alvoroço de antigamente, nada trazia estrelas nos olhos, tampouco revirava as entranhas em desejos secretos. A reação era neutra, com um punhado de memória em estado esquecido. E só.
Fui mais a fundo, encontrei cicatrizes mínimas que não sabia da existência. Talvez doessem de alguma forma estranha e diária, deixando-me acostumada a ponto de ignorar. Mas estavam ali. Finas cicatrizes num coração remendado. Demorei para reconhecer minhas linhas discretas.
Flashes de frases e histórias passavam rápido sobre minha retina.Não chorei. Há meses não choro.
De cabeça e ombros erguidos, relaxando toda a musculatura, peguei o celular nas mãos e anotei tudo que pensava. Pensamentos desconexos e soltos; trazendo pontas que sabia que teria cedo ou tarde que amarrar. Cada ponta que escrevia, entendia a reação, entendia as cicatrizes que ciente da existência, tinha culpa por deixar sem cuidar.
Não foi fácil encarar. Não é fácil se encarar.
As pontas estavam todas ali. Frases e fases de uma época onde era um pouco mais cega pelo que me consumia. Será que eu não te enxergava ou será você que tem mudado? Perguntei pra mim. Será que agora interpreto as coisas da maneira que devia ou distorço as frases por mania?
É tempo que a gente precisa para encostar o ombro em qualquer lugar e se entender? É a falta de silêncio que deixa a gente menos atentos com nossos próprios defeitos e vaidades?E sem interrogação alguma, deixando a pele rasgar de vez, segurando todas as pontas soltas e amarrando em um nó emaranhado, pensei como quem fala baixo: será que quando a gente se entende é o momento então de começar a entender o outro e não ao contrário como parece?
Você já se reparou e já ouviu: "você tem que entender essa pessoa (insira milhões de motivos aqui) mas, e nós? Quando nos entendemos?
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Quimeras Abortadas
RandomDevaneios, ilusões, pseudo-conclusões, questionamentos. Sou o que escrevo.