Sempre tive medo de que a vida fosse uma estrada para lugar nenhum, onde na verdade nem somos importantes e fingimos que temos um propósito pra algo, por algum momento, pra fazer sentido. Assim como eu acredito que criamos deus para acalentar nossos corações solitários que não suporta a ideia de não ter alguém em algum lugar do mundo olhando pra nossa vidinha. Não que eu ache que o universo não conspira a nosso favor, eu acho sim, mas talvez seja só questão de sorte e nem precisemos desses mantras e orações todas. Tudo bem que vamos continuar fazendo por via das dúvidas e eu entendo. Mas você já pensou se quando tudo acabar, simplesmente acabar? De repente você está com um copo de água gelada na mão e num piscar de olhos você está num breu onde seu cérebro apagou e tudo aquilo que você viveu virou cinzas. É, eu acho que é por aí, sabe essa parada do cérebro que eu acabei de escrever? É isso! É disso que eu tenho medo e não sabia explicar. Eu tenho medo é de perder as lembranças. Eu tenho medo é de não recordar mais daqueles banhos na minha banheira de bebe que parecia imensa e a boa e velha bexiga que eu amava brincar enquanto tomava banho. Eu não tenho medo da morte ou do fim, eu tenho medo é de não lembrar. Afinal de contas a gente sempre viveu disso, né? De nostalgia. De saudade. De passado. De passagem. Vez ou outra eu vou sentir a paz do esquecimento como ar puro de pulmões novos pra depois parar pra rir o quanto puder daquele tombo ridículo na chuva, daquela vez que eu me perdi e achei que nunca mais ia ser encontrada, da voz das pessoas que eu amo, do eu te amo que eu disse quase agora e da vida que enquanto o relógio anda, esquece de pausar ao menos um pouquinho pra gente lembrar antes de esquecer.
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Quimeras Abortadas
AléatoireDevaneios, ilusões, pseudo-conclusões, questionamentos. Sou o que escrevo.