"Cada um descobre o seu anjo tendo um caso com o demônio".
Existem inevitáveis duelos dentro de nós. A disputa metafórica entre luzes e sombra se mostra para além dos nossos olhos e para dentro do nosso espírito, repetindo-se como um tema que ao longo do tempo versamos e sentimos, nas escolhas e estados interiores, em maior ou menor grau, que nos impulsionam ou paralisam. Na guerra travada entre anjos e demônios, habitamos seus personagens ao mesmo tempo que eles nos habitam, ditando-nos à ação ou omissão. Os duelos se evidenciam nas dúvidas que nos corroem, visto que as dimensões e tendências contrárias se tensionam silenciosamente. Por exemplo: dar moedas a um pedinte, emprestar ou não dinheiro a alguém que se conheça, procurar antiga e afastada paixão, poupar-se em casa ou gastar-se num evento, comer algo que não deveria, cumprimentar alguém que não se gosta, etc. são exemplos a definir aquilo que na vida nos define ininterruptamente. O homem não é absoluto, pois carrega tanto o bem quanto o mal. Suas ações e omissões demonstram e permitem tais alternâncias, conforme os escuros e claridades que atravessamos de acordo com as conveniências da virtude e os interesses do egoísmo, somos assim, não há fuga, egoístas, e jamais, nem mesmo se pudéssemos, nos colocaríamos no lugar de ninguém que sofre. Aqui no mundo cão não se despede do que não se escolhe, pois na próxima ocasião em que se peça um pouco de nós, daremos espaço para uma destas vozes e representações (anjos, demônios). Prudente o homem que olha o fruto e vê a semente, olha a semente e sabe do outono. Se sabedor o homem das forças que ele não pertence, saberia também a medida da palavra quando veneno ou remédio, mas eis que somos forasteiros das nossas profundezas, negando o que nos incomoda e o que nos inteiro confessa. Vivemos num perpétuo duelo entre as nossas expressões, sofrendo por dedicarmos demasiada atenção ao que não queremos ser. A energia gasta na negação poderia ser usada na aceitação de si, para os remendos e consertos necessários a serem realizados em nossa personalidade, diminuindo ou aumentando a influência da luz ou das sombras, conforme as conveniências do que seja melhor para nós.
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Quimeras Abortadas
SonstigesDevaneios, ilusões, pseudo-conclusões, questionamentos. Sou o que escrevo.