Quimeras Abortadas

Desígnios

Eu entendi um dia que tudo nesta vida é uma questão de prioridades. E a partir daí, toda semana eu faço uma lista delas, não num caderno, uso Google Keep, uso as notas, que inclusive de um tempo, conseguimos incluir um iconezinho de checagem e eu amei, óbvio. O fato é que quando chego na semana seguinte, acabo quase sempre repetindo mais da metade dos itens da semana anterior. Já cheguei num ponto em que ter ao menos uma das demandas cumpridas, é uma incrível e gloriosa vitória. Diante disso, venho pensando seriamente em incluir nas minhas listas, coisas do tipo: escovar os dentes e tomar banho todos os dias. Só para poder garantir mais checks, hehehe. E daí obter aquela sensação única de dever cumprido, ainda que a sensação seja meramente ilusória e ilustrativa, porque eu não estaria fazendo nada mais do que a minha obrigação, né?
A felicidade, meus caros, está em riscar pelo menos um item na lista de deveres semanais.
E falando em felicidade, eu venho pensando muito nela essa semana e isso, obviamente, vem ocupando meu tempo um pouquinho. Talvez eu deva incluir agora mesmo na minha lista o seguinte item: "Refletir a respeito da felicidade". E trocar os sentimentos de semana a semana, porque ô coisinha que eu gosto é refletir, emergir, mergulhar em milhões de pensamentos tresloucados sobre qualquer sentimento.
Eu ando sentindo os dias passando não como quem está na beira da praia e sente a brisa do mar, mas como quem entrou no furacão na segunda-feira e, quando saiu dele, poucos segundos depois, já era domingo. Quando dou por mim, mais uma semana acabou e o meu Google keep tá lá, me encarando, repleto de listas de prioridades mais uma vez não realizadas. Prova da minha incompetência em alcançar as malditas metas pessoais.
"Eu sei o que você NÃO fez no verão passado". É um bipe na minha cabeça, me avisando que nesse exato momento eu estou fazendo qualquer outra coisa que não inclui estar gravando algum vídeo para o YouTube e nem escrevendo alguma coisa legal pra deixar pros meus netos caso os tenha. (Ou será que esse texto é alguma coisa legal pra se ler?) Eu sei também o que eu não fiz na primavera, no outono e no inverno passado. E, neste inverno, não pareço estar agindo de forma muito diferente do anterior.
Em minha defesa devo dizer que esse esquema de vídeos no Facebook que começam a passar sem a gente dar play não estão colaborando. Quando me toco, já estou entretida (pra não dizer hipnotizada) com outra bagaceira que dificilmente vai acrescentar alguma coisa na minha vida. Bom, se isso não for legal de ler, quero apenas um espaço aqui pra dizer que ensinar a outras pessoas é aquilo que eu faço de melhor e é maravilhoso. É a oportunidade de partilhar a minha melhor parte, mesmo quando eu não estou fazendo uso dela em benefício próprio, pelo menos não diretamente. O que eu percebi é que enquanto ensino, além de aprender, eu escrevo um bocado. Portanto, sobre felicidade essa é a maior e mais recheada fatia do bolo da minha vida. Será que se eu incluir isso nas minhas semanas como uma maneira de me lembrar de passar a diante o que aprendi se tornaria então algo que deixaria muito mais eficiente minhas metas? Sei lá, né? Talvez não. Vai ver a gente faz melhor aquilo que não está de fato programado como um belo e sorridente robozinho. Vai ver, fazer as coisas sem forçar tanto a própria barra seja mesmo real sinônimo de fazê-las com amor, por ter lembrado sem listinha que aquilo era importante.