Broken. A água entrando gelada na garganta assassinando o ápice da sede. Vento, meia luz, meio termo, a felicidade pendendo em cima de uma linha fina, nem demais, nem ausente. Paz outra vez. O prazer de virar uma página estragada e ter outra inteira em branco pra reescrever e,estragar tudo de novo ou quem sabe dessa vez, fazer história sozinha. A gente enlouquece por tão pouco, faz o pouco virar o tudo que não existe e esquece que o tudo na verdade é só pra assustar e fingir que há algo maior dentro da gente do que apenas e somente: a nós mesmos. Paz? E a sensação de estar em um barco, velejando sem som e em velocidade aceitável para outro porto, um pouco longe. O coração que inchou e batia na boca do estômago voltou ao lugar de sempre, eu e meus limites, eu e minhas paredes, eu e meu esnobe pensamento de me achar sempre melhor que o casal patético que se olha no começo da noite e se encerra sem roupa na manhã seguinte, ainda que eu faça parte desse casal. De fora me vejo, só, e envaidecendo-me somente por mim, eu dizendo que sinto muito quando não sinto nada, eu deixando de pedir desculpa pra pedir vai embora, por favor, não me queira, não me ame, meu mundo sustenta-se sozinho. Paz mais uma vez. E talvez um pouco de solidão. Eu de volta ao ponto mais seguro de existência, eu de volta sem delicadeza, eu de volta em puro silêncio, minha mente sem barulhos, meu interior sendo um fim de tarde. Amanhã talvez chova, faça sol, talvez eu volte a enlouquecer. A gente sempre volta, não é? Nada te atinge, até de repente algo te derrubar e você levar meses pra levantar. Levanta achando que nada vai te atingir outra vez, mas sempre tem um olhar que dura um pouco mais, sempre tem um mistério que faz seu coração batucar em ritmos engraçados. E todo o começo, toda a expectativa que, quem sabe alguma hora, vire finalmente felicidade plena. Mas enquanto isso, por aqui, nada. Além de nada, paz embora quebrada. Talvez um pouco de azar já que não tenho assim tanta coragem. Um tanto faz enorme me vestindo, me impedindo, me forçando a assumir um papel cruel e ainda assim, não me comovo. Em paz, quase nada me comove. Eu achei que quando não sentisse nada, ficaria plenamente feliz. Mas só é feliz quem é louco de verdade.
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Quimeras Abortadas
AléatoireDevaneios, ilusões, pseudo-conclusões, questionamentos. Sou o que escrevo.