Quimeras Abortadas

Respira

Às vezes, a gente só precisa de um fôlego.

Precisamos de ar para recomeçar, para mais uma vez levar a cabeça para longe e em alguns segundos com os pensamentos fora da caixa, buscar um pouco de nós mesmos e pronto. Estamos preparados para seguir. Outras vezes, um pouco mais de tempo, um pouco mais que os cinco minutos de manhã, é tudo que queremos, mas não podemos. Talvez na maioria das vezes é assim, não?

A vida se impõe na nossa frente de um jeito tão cruel que não nos permite verdadeiramente viver, como nos contam por aí. "Viva a vida" "não corra demais, aproveite a estrada" e por aí vai. Nós somos impulsivos nativos e vamos com os impulsos  em busca do que queremos. Certa vez, li por aí um texto que pontuava como essa sugestão de largar tudo e viajar o mundo pode ser (e é) ridiculamente injusta e impossível para a maioria, inclusive pra mim.

Pois bem, é mais ou menos assim com outros desejos reprimidos e guardados que todos os dias nos envolvem e deixamos escapar. A grande questão é: o que fazer? Como vou alcançar os objetivos com tanta coisa que parece não funcionar? Fôlego. Inspira e expira. Enquanto houver ar, pediremos por fôlego.
Acontece que nessa mesma vida injusta (por vezes) nós criamos situações idealizadas, pensamos naquilo que queremos e idealizamos com uma perfeição pouco possível na execução. Eu não estou te incentivando a não idealizar, faz parte do sonho, faz parte pensar em largar tudo e viajar e pensar que seria possível num mundo paralelo e as vezes a nossa cabeça (quando com fôlego) consegue mesmo nos levar a essa dimensão de paz como se tivéssemos em uma ilha provida de tudo que há de bom e do melhor. No entanto, na maioria das vezes nós estamos aqui, na vida real, e enquanto ela acontece precisamos torná-la mais vivível? pra nós mesmos. Nós passamos tanto tempo na Caverna de Platão que pouco fazemos de fato.
"Preciso ligar para tal pessoa, faz tempo que não a vejo". Então, os segundos passam (sim, são necessários segundos para nos dissuadir de algo), e esquecemos, nos distraímos com as mil obrigações da vida moderna e passamos para a próxima tarefa. Nessa, aquela pessoa nem cruza mais nossa mente.
Dei um exemplo trivial, mas isto ocorre desde as pequenas decisões, de ir ao salão, dar uma corrida ou mandar uma mensagem para um amigo distante, até os grandes planejamentos.
A vida continua injusta mas você toma a decisão de culpar a preguiça, a distração, a rapidez do mundo moderno. Porém perceba. Perceba que age assim, que o tempo passa de qualquer jeito, e que se não dermos um jeito de pelo menos cumprir 1 das milhões de coisas que pensamos no dia, que seja a mensagem de "bom dia" pra sua mãe que sente sua falta, quando nos dermos conta os anos terão passado, e ficaremos apenas com o gosto de "e se". E com esse gosto vem tantos outros.
Então, que as lembranças não nos assombrem, mas tragam boas e fortes memórias daquilo que fizemos e vivemos. Do jeito mais real possível. Sem ano sabático, sem férias em Cancún, sem Eurotrip. Quem é você e quem sou eu no fôlego do dia a dia? Afinal, a gente precisa voltar a mergulhar e enquanto buscamos fôlego, não se esqueça de lembrar das pequenas coisas. Tudo começa aí.