Nós somos um emaranhado de coisas, coisas pequenas e coisas grandes mas na maioria das vezes pequenas, um imã de coisas pequenas que juntamos de outros corpos por aí. As vezes, a gente nem percebe e quando vê: ih, tô com um pedacinho do que a (insira aqui um nome) me ensinou hoje enquanto conversávamos sobre o atual momento politico e monetário do país, sei lá, qualquer assunto aleatório. Nós nos formamos juntando ideias, captando mensagens, encabeçando planos e espalhando também. E ao redor, as pessoas com quem não nos relacionamos de fato, não sabem da missa a metade do que acontece dentro de nós. Ainda bem. Ainda bem que eu posso só escolher absorver do outro o "bem" que ele me faz, ainda que as vezes sem pensar, recolhemos junto todo o restante do pacote, com um tempo aprendemos a aplicar melhor nossos filtros para essas coisas.
Se as pessoas soubessem da missa inteira sobre nós com certeza fingiriam dormir ou contestariam no meio então é melhor que não saibam. Ninguém precisa saber que essa semana não foi a melhor semana que você já teve, ninguém precisa entender sobre as suas saudades ou conflitos internos porquê afinal, se eu só quero filtrar o bem do outro, por que então vou enchê-lo dos meus "maus-bocados"? Deixe que suponham. Deixe que deduzam, que digam. Eles não podem fazer isso o tempo todo. Em algum momento serão obrigados a se voltarem pra suas próprias vidas e enfrentarem seus próprios dilemas.
Ninguém sabe que a gente tem se frequentado e que não tem frequentado quem a gente vê com frequência. Somos improváveis demais pra nos cogitarem frequentando o universo um do outro.
Eles não sabem quantas coisas na sua vida acabaram antes mesmo de terem começado. Nem quantos projetos você começou e não conseguiu acabar. Nem quantas vezes você chorou porque acabou o que você queria que tivesse continuado e continua com o que queria que já tivesse acabado.
Ninguém sabe que você não é o que parece. E que parece o que não é. Mas você não tem culpa se o ser humano é dado a deduções simplórias e rasas. Mergulhar no outro dá trabalho. Sem falar no medo de se afogar. Você nunca sabe o que vai encontrar lá no fundo. Todos nós somos buracos negros. Ninguém sabe que o que você é hoje é fruto de erros fantásticos, de equívocos abençoados, de pecados inconfessáveis, de litros de suor e lágrimas que ninguém viu escorrer. Poucas pessoas sabem o que te faz se escangalhar de rir, as idiotices que te arrancam gargalhadas escandalosas. E menos pessoas ainda sabem as pequenas coisas que te provocam as maiores alegrias. E, ao longo da sua vida, serão poucas as que vão saber.
Dramatizar menos a vida também tem sido um exercício que eu venho tentando praticar. Ela já é suficientemente dramática sem a nossa ajuda.

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Quimeras Abortadas
AcakDevaneios, ilusões, pseudo-conclusões, questionamentos. Sou o que escrevo.