A humildade do amor

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Talvez ninguém nunca tenha te dito mas você já deve ter notado que a gente precisa ser humilde para amar.

Temos que acolher as dúvidas, as incertezas que nos transpassam e aceitar que que o que são as nossas verdades, vez ou outra, vão levar rasteiras, vão ir por água abaixo.

Nesse descompasso, vamos deixar o orgulho ser desmoronado – tijolinho por tijolinho – e ficarmos crus e desapegados do que era a nossa mais íntima proteção. Esse orgulho que a gente confundia com amor próprio. Mas era só medo de sofrer demais e de novo.

Porque se a gente, por vezes, não deixar o orgulho de lado, não há espaço para os perdões e os renascimentos. E sem perdões não há espaço para o amor. E parece que o amor é planta em constante transformação, se a gente se apega à semente, a gente nunca verá a árvore. Se a gente não se deixa desestruturar, se a gente não cede, até ao que é grande e certo dentro da gente, a gente não dança com a energia do amor.

Vamos ter que passar dos nossos limites tão minuciosamente estabelecidos, dizer não, sair de perto, ficar só por um longo tempo, meditar, encarar nossas sombras e voltarmos para o mundo mais serenos, menos vitimados e vaidosos.

Porque duas máscaras podem se beijar perfeitamente por algum tempo, mas duas almas nuas precisam sempre de coragem para evoluir. E nem sempre estamos dispostos a isso. Evoluir cansa. Mas o que é o pulsar da vida se não uma constante evolução? precisamos disso.

E mesmo com tantos beijos e rasteiras, com tantos desencontros, reencontros, nascimentos e mortes... A gente precisa ter a doçura da maturidade para manter o coração sempre aberto para mais. Porque assim é a vida também.

Às vezes tudo se rompe. Às vezes tudo se fortalece.

Mas, em qualquer história que seja, o amor me parece ser o contrário de qualquer jogo de cartas marcadas e de passos bem dados.

O amor parece ser algo como a natureza: caótico, cheiros e sabores, desatino e alinhamento novamente. O amor parece estar neste mundo há muito mais tempo do que nós. e está.

As árvores nos ensinam a amar. A chuva, que cai com cheiro de terra úmida trazendo cores de outros rios, nos ensina sobre amar. Sobre a inconstância das nuvens, sobre a flexibilidade das almas. Sobre as surpresas inesperadas e as transformações constantes

E é aqui que acontece  o desencanto das aparências para o reconhecimento de uma essência comum.

Temos que ser humilde para receber o amor.
Perceber que de nada temos controle. Mas podemos ter muita vontade de amar, de crescer, de viver, de respirar profundamente as nossas possibilidades de sentir.

A gente pode pegar uma caneta e tentar escrever a própria história, mas que as janelas e portas fiquem abertas para que a gente não se esqueça da força das marés e dos ventos e das surpresas e mistérios que nos circundam.

O universo tem mistérios silenciosos maravilhosos para todo aquele que é humilde por amor.

Muito mais que amar alguém ou algo, é preciso ter humildade consigo, reconhecer que na verdade estamos todos em processos de evolução e construções podem cair mas outras estruturas melhores virão.

A esperança da as mãos para a humilde e caminham sem pressa para o novo.

Quimeras AbortadasOnde histórias criam vida. Descubra agora