Pecados

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  No minimo cômico ainda que um hábito, essa mania que nós temos de tanto nos autoafirmar como nos autossabotar, por hora queremos parecer bonzinhos e proporcionador de felicidade a qualquer um, depois como um dente de leão se desfazendo no ar, nós queremos e somos egoístas, bravos, bradando "ninguém mexe comigo não" ê, rapaz! pera lá, sei que somos tão desequilibrados que nem nos mesmos podemos controlar como agir, mas pra ser bom demais, tu vai ter que sair desse mundo, perdoa a sinceridade, ou agradeça-me se quiser. E pra ser ruim demais, obviamente tu também precisa ir pra outro lugar, não precisa, mas vai, vai porque o mundo não segura vaso ruim por muito tempo aqui não, contrariando o ditado, vasos ruins atraem pra si ventos ruins e esses derrubam pra quebrar, despedaçar. Por isso digo, de nada vale as máscaras, a verdade sempre será revelada, mesmo que você não faça questão de sabe-la e ninguém faz questão de trazer à tona o inevitável lado sombrio que as vezes a gente cala. Afinal, temos uma reputação a zelar, né? A gente sempre acredita que somos dignos de sermos aceitos e respeitados. Seja pela conveniência prazerosa do sucesso, pelo temor de sermos rejeitados, para satisfazermos desejos ou porque silenciosamente sabemos que não sabemos nos relacionar com o próximo, não assumimos o inteiro risco da sinceridade. Por isso criamos ao longo do tempo e com muita dedicação, as mais enfeitadas mentiras que nos representam diante da vida. Mantemos uma falsa ideia sobre nós, vendendo aos outros versão com qualidades exageradas ou com atributos que gostaríamos de ter. Damos ao público a mais bela maçã do amor, ainda que seja de plástico. De real posse das nossas fragilidades, projetamos uma personalidade equilibrada, segura, mais solidária, mais inteligente, sem tempo para preocupações, tristezas ou nossos próprios defeitos. Talvez possa parecer mais fácil, embora não seja, mantermos essa diplomática e agradável superfície que deixamos livre para visitações e elogios, enquanto reprimimos e calamos nossas verdades à força. É necessário muita energia emocional e mental para consolidarmos uma repetição dos nossos cenários e personagens sem quaisquer deslizes. Por isso falamos da coragem para nos distrairmos de qualquer maneira dos medos, e fazemos da felicidade uma fachada para encobrir nossa comprimida e empoeirada tristeza, nossas misérias. Numa hora dessas, nas nossas intimidades com o outro, relaxados e desatentos, sem sufocarmos a honestidade das nossas marés, tudo aquilo empurrado para as sombras da nossa consciência, virá nos cobrar o direito de nos pertencer e nos revelar e é assim que pagamos os nossos pecados por mentirmos, ao mesmo tempo em que criamos outros pecados mais para pagar.  

Quimeras AbortadasOnde histórias criam vida. Descubra agora