Eu creio em Deus, é sério; contudo eu preciso crer em mim, de mim que sai forças, palavras, daqui sai poesia e poesia é, enfim, a minha própria vida. Vira esse cigarro pra lá, eu deixei fumaças, chuvas e neblinas em alguns capítulos atrás e meu livro tem de ir em frente. Invadiram a casa de meu Pai, me expulsaram, me fizeram acreditar que era errado uma visita inocente, um gesto de amor. Vulgarizaram a bondade dos humanos. O sucesso só pousa em mãos da ambição. O mundo está injuriado, em seu íntimo tem azia, tá de ressaca e o que sai no vômito não são vísceras, são nossas vozes que alguém calou. Se eu fosse heroína, faria carnificina entre os injustos, um paredão deles, pra que com uma metralhadora de verdade, não das que sai balas mas que sai a própria verdade, os fizessem vê-los como o espelho não os mostra: horríveis. E então deixaria de ser heroína, veja só. Eu seria, portanto, melhor que eles? Porra, eu só quero amor nos quatro cantos do mundo, não teorizem o amor, não escrevam explicando o amor, o que sabemos sobre ele é só parte do que é, só nos deixam saber parte, como Deus, é o que queremos que seja, então deixem-no sem pauta, deixa chover de uma nuvem, brotar de uma semente, mas não ousem julga-lo saber. Creio em Deus, mas preciso resolver os infortúnios humanos que meus supostos irmãos criaram, que criaram por pura falta do que realmente fazer. Vagabundos, traiçoeiros, julgando como se fossem nosso Pai, falando em nome Dele, agindo por Ele, sendo, na minha certeza calada, porém fatídica, tão menores e errados. Não me pegue para santa, para anjo, para freira, minha paciência não é lá das melhores. Porém aqui, nesse corpo doente, morada de boas intenções, há amor. E o mundo, que dizem ser azul. E azul, que é a cor da tristeza. Onde é que eu vim parar? Eu quero ser heroína, por favor, não calem minha voz que toda minha coragem é fajuta e minha fé nunca me salvou das dores. Eu sou, portanto, melhor que eles? Crer em Deus me faz melhor? Minha ignorância enganosa me fazendo acreditar que eu posso consertar tudo com martelo e pregos e fitas e colas e não, eu não posso.. Fraquejo, eu mesmo é que não posso consertar nada. O mundo tem desses ciclos odiosos e culposos, se é que podemos ser culpados por cativarmos corações solitários que nunca nos conheceram realmente, numa tarde boba de chuva, que eu deveria parar de tentar tanto, que eu grito demais e não digo nada, que eu deveria calar-me e continuar sendo/existindo apenas em silêncio. Me perguntei: Você quer gritar a bondade? Esfregá-la na cara de todos para que eles a pratiquem e o mundo seja enfim de uma cor diferente? Se enfiasse goela abaixo nas pessoas a honestidade de um coração bom, você seria melhor que eles? Eu nunca soube a resposta. Mas uma coisa eu tinha certeza: o mundo é azul em partes por causa dos oceanos, não tem nada a ver com tristeza, embora as lágrimas tenham aquilo que também tem o oceano: água salgada. Mas eu creio em Deus, não visito sua morada, se é que há uma aqui nessa terra. Me expulsaram, me mandaram ao inferno sem saberem meu nome, eu só estava sendo eu em silêncio, fazendo o que a menina tola que atende por mim aconselhou. Não pedi que me amassem, os amei mesmo assim. Se isso me fazia melhor que eles? Bom, eu não era a heroína que quis ser, eu não era melhor que essas pessoas, mas depois do bilhete que eu me enviei, da percepção da cor do mundo, da desistência heroica, eu decidi tornar o ''não ser melhor'' um propósito. Até cheguei a riscar, num surto de extravagância, essa palavra do meu vocabulário. Então eu era menor e ruim e quieta por escolha própria. Deixemos que vossas próprias palavras os desperte, os faça ver que não existe melhor nem pior. Que há apenas o amor, e que a opção de não amar o próximo já não existe mais. Aí rezei. Que tudo fosse o mesmo, que tudo fosse bom, que tudo fosse lindo, que houvesse amor. O mundo continuou uma bosta pra sempre. Por causa deles e de mim, mas o otimismo escreve livros, poemas, poesias e principalmente palavras de um futuro bom, ir com ele não fará mal. Amem, sem acento pra verbalizar.
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Quimeras Abortadas
CasualeDevaneios, ilusões, pseudo-conclusões, questionamentos. Sou o que escrevo.